O anúncio de que o sistema de ‘pre-listing’ será adotado na exportação de frangos e ovos brasileiros para a Europa foi recebido com euforia na MBRF — que deve sentir um impacto relevante em suas margens com a retomada dessas exportações.

A companhia – que nasceu da fusão entre a Marfrig e a BRF – não vinha exportando praticamente nada para a Europa desde 2018, quando a BRF foi envolvida na Operação Trapaça (um desdobramento da Carne Fraca) — o que fez a União Europeia bloquear as 12 fábricas da companhia, além de oito fábricas de outras empresas.

Agora, com o sistema de ‘pre-listing’, quem vai determinar se a fábrica está seguindo as normas sanitárias da União Europeia e está habilitada para exportar para o Velho Continente é o Ministério da Agricultura do Brasil, que vai preparar essa lista e enviar para as autoridades europeias, sem a necessidade de uma auditoria por parte delas.

Marcos Molina ok

Isso vai permitir que as 12 fábricas da BRF voltem a se habilitar para exportar para a região, o que já deve acontecer nas próximas semanas. 

Para a MBRF, o impacto dessa mudança não é nos volumes, mas na rentabilidade. Como as exigências de segurança da Europa são muito altas, as exportações para a região sempre saem com um prêmio de preço em relação a outros mercados. 

Historicamente, esse prêmio gira em torno de 10% a 30% e neste momento está em 25%, perto do pico histórico. 

Na prática, a MBRF deve direcionar para a Europa parte do que hoje é exportado para outras regiões, o que deve gerar um impacto significativo na rentabilidade. 

Uma fonte próxima à companhia disse ao Brazil Journal que a estimativa interna é que o ganho na margem EBITDA seja de 100 a 200 basis points já no ano que vem, assumindo que a companhia volte a exportar já em janeiro.

Segundo essa fonte, a companhia quer retomar gradativamente o market share que tinha na Europa antes do bloqueio. Em 2017, a então BRF tinha uma fatia de mais de 40% do todo o peito de frango que era importado do Brasil.

“Hoje em dia o mercado é bem mais competitivo. A MBRF vai ter que trabalhar muito para conseguir crescer. Mas o objetivo é voltar a ter o tamanho que ela já teve,” disse a fonte. 

Depois do fim do pre-listing em 2018, o Brasil continuou exportando frango e ovos para a Europa, mas parte das fábricas foi desabilitada naquele momento e nenhuma nova fábrica havia sido habilitada desde então.

A reabertura do mercado foi fruto de um trabalho de mais de três anos do Ministério da Agricultura. Parte do sucesso da reabertura tem a ver com a gripe aviária, que tem afetado fortemente países da Europa e gerado uma crise de oferta de frangos.

Outra empresa que deve se beneficiar fortemente das novas regras é a Granja Mantiqueira, que nunca exportou para a Europa e pretende começar a exportar agora. 

“Essa é uma grande oportunidade pra gente. Só não exportamos porque o mercado não era aberto para os ovos do Brasil. Mas já temos os ovos cage-free, que são os que eles compram,” disse Leandro Pinto, o chairman da Mantiqueira. “As compras dos ovos pela Europa têm um prêmio, e o que sempre queremos é remunerar melhor nosso capital.”