Os títulos dos EUA não só perderam o rating triple-A como já negociam no mercado com risco semelhante ao de países ‘BBB+’ – como a Grécia e a Itália.

É isso o que mostram os contratos de credit default swaps (CDS), os derivativos que servem de seguro contra o default e cujos spreads são um dos indicadores usados para medir o risco de inadimplência, seja de uma empresa ou país.

O quadro abaixo, elaborado pelo economista-chefe da Apollo, Torsten Slok, mostra como os spreads inferiores são de países como Suíça e Alemanha. Os Treasuries – historicamente considerados os ativos “livres de risco” por excelência, sobre os quais se alicerçam todos os outros preços de ativos – negociam hoje no mercado secundário com spreads superiores aos da China, e em linha com os dos títulos italianos e gregos. 

May30 Chart

Com exceção de uma forte abertura dos spreads americanos em 2023 – quando houve a crise da indefinição sobre o aumento do teto para a dívida pública – o CDS dos EUA está nos níveis mais elevados em doze anos.

No início do ano, o CDS dos títulos com vencimento em um ano estava em 16 pontos. Agora, subiram acima dos 50 pontos. O CDS dos bonds de cinco anos subiu de 30 bps para mais de 50 bps.

Scott Bessent ok

Ao contrário do que ocorre nos mercados de dívidas de emissores de maior risco, os contratos de CDS da dívida americana são quase sempre pouco negociados. A demanda dá saltos em momentos de elevada incerteza – e o que pesa neste momento, afirmam os analistas, são tanto as indefinições de curto prazo em relação à política fiscal e à renovação do teto de endividamento como fatores estruturais do grande déficit público americano.

A dúvida é se a disparada foi um movimento transitório, como em crises recentes, ou se terá vida mais longa.

Em um sinal dos tempos, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse ontem que “os EUA nunca irão dar um default” em sua dívida federal.

“Isso nunca irá acontecer,” Bessent disse numa entrevista à rede CBS.

O Congresso debate o novo orçamento, e projeções indicam que o Tesouro poderá enfrentar um shutdown por volta de outubro caso o teto da dívida não seja elevado.

Jamie Dimon, o CEO do JP Morgan, afirmou que ainda veremos “um crack no mercado nacional de bonds.”

“Isso vai acontecer,” Dimon disse em sua participação no Reagan National Economic Forum, na sexta-feira.

Dimon comentou que a regulação atual limita a capacidade dos bancos de carregar Treasuries, o que pode agravar os momentos de estresse no refinanciamento da dívida pública.

“Eu digo aos meus reguladores: ‘vai acontecer [o crack], e vocês vão entrar em pânico,’” afirmou. “Eu apenas não sei dizer se será uma crise daqui a seis meses ou seis anos.”

Para o executivo, os spreads podem subir de maneira “dramática.”

Os EUA foram recentemente rebaixados pela Moody’s, e agora o país está um degrau abaixo do ‘triple A’ nas três principais agências de rating – mas os mercados estão dizendo que o crédito dos EUA como emissor está ainda mais baixo.

A aprovação na Câmara de um projeto, bancado pelo Presidente Trump, de corte de impostos e aumento das despesas foi um dos gatilhos recentes para a alta nos spreads e dos yields dos títulos americanos.

Mas o estresse já vinha desde o ‘Dia da Libertação’, em 2 de abril, quando Trump anunciou seu tarifaço comercial. O yield do título de 10 anos – o preço mais importante do mercado global – estava em 4,1%; agora está em 4,4%.

Uma reportagem do Financial Times mostra que se rompeu a correlação histórica entre os rendimentos dos títulos e do dólar. A cotação da moeda americana contra uma cesta de moedas caiu 4,7% nesse período, mesmo com a alta dos yields.

Em situações normais, yields mais altos denotam economia forte, o que atrai investimentos e fortalece o dólar.

“A força do dólar se deve em parte à sua integridade institucional: rule of law, independência para o banco central e previsibilidade política,” disse ao FT Michael de Pass, um estrategista da Citadel Securities. “Os últimos três meses colocaram isso em questão. A grande preocupação dos mercados é se a credibilidade institucional do dólar está sendo enfraquecida.”