Raul Randon, que transformou uma pequena oficina mecânica em Caxias do Sul numa das maiores fabricantes de carrocerias de caminhão, autopeças e implementos agrícolas do mundo, morreu na noite deste sábado, aos 88 anos. 
 
Sua morte marca o desaparecimento de um dos grandes nomes que construíram o Brasil industrial com ideias simples, trabalho duro e apego à qualidade, e de um empreendedor que, após consolidar a Randon, se aventurou na fruticultura e na produção de queijo — chegando a importar vacas dos EUA para garantir a qualidade.

10438 a7aaadd8 7d37 005d 0000 ea7db2b752acSegundo o jornal Zero Hora, o fundador da Randon estava internado desde dezembro no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para implantação de um pino entre o quadril e o fêmur.  De lá para cá, não resistiu a uma série de complicações.
 
Raul Anselmo Randon nasceu em Tangará, Santa Catarina, em 6 de agosto de 1929, numa família de imigrantes italianos fixados no Rio Grande do Sul.

Aos 14 anos foi trabalhar na ferraria do pai, Abramo, permanecendo ali até os 18 anos, quando foi prestar o serviço militar obrigatório.

Em 1949, ao sair do exército, associou-se ao irmão Hercílio — falecido em 1989 — em sua pequena oficina de reforma de motores, que os irmãos transformariam num dos mais importantes conglomerados da indústria automotiva da América do Sul.  A Randon vale R$ 3 bilhões na Bolsa.

Repetia sempre que “transporte e comida” são dois negócios para os quais sempre haverá demanda.
 
De suas viagens anuais à Itália, teve a ideia de fabricar no Brasil o queijo grana padano, que lançou em 1998 com a marca Gran Formaggio. 
 
O relato é da Zero Hora:  “Após obter a licença para produzir o queijo tipo grana no Brasil, o empresário foi atrás de todo o equipamento mais sofisticado para iniciar os trabalhos. Mas não era o suficiente. Mesmo as vacas precisaram ser importadas. E foi assim que, num certo dia de 1996, o público que aguardava pelo desembarque de passageiros no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, assistiu à chegada, em dois boeings, de 130 novilhas holandesas trazidas dos Estados Unidos.”
 
No final dos anos 70, aproveitando um subsídio federal para comprar terras para reflorestamento, Raul começou a plantar macieiras em vez de eucaliptos. Fundou uma empresa, a Rasip Alimentos, que foi listada na Bolsa até 2013, e acabou se tornando o quinto maior produtor e exportador da frutas no Brasil, com 1,1 mil hectares plantados, segundo a Zero Hora.
 
Astor Milton Schmitt, hoje conselheiro da Fras-le que foi amigo de Raul por mais de 50 anos e executivo da Randon por 36, disse ao Brazil Journal que Raul “valorizava o capital humano, valorizava as parcerias, e tinha plena convicção de que, para fazer bem feito, a Randon tinha que estar na vanguarda da tecnologia.” 
 
E destacou a generosidade do amigo:  “Era um cara muito divertido e um dos mais fantásticos companheiros de viagem: sempre que a gente viajava, a gente sabia que haveria uma boa mesa, e ele era o primeiro a colocar a mão no bolso para garantir isso.”
 
A morte de Raul Randon não muda nada na empresa.  Sua sucessão começou a ser preparada em 2009, quando ele assumiu a presidência do conselho deixando seu primogênito, David, como CEO.
 
Dos cinco filhos de Raul, quatro trabalham na companhia fundada pelo pai.  Alexandre é o vice-presidente do conselho; Daniel é o CFO; e Maurien é diretora do Instituto Elisabetha Randon, o braço de responsabilidade social da empresa.  A quinta filha, Roseli, é medica e não trabalha na companhia.
 
A morte de Raul deve estimular a especulação do mercado sobre uma eventual unificação das classes de ações da Randon, que hoje tem ações ON e PN.  Hoje, somando as duas classes, a família Randon tem cerca de 42% do capital da Randon.
 
Nos últimos anos, a unificação das classes de ações da Fras-le, uma subsidiária da companhia, e melhorias de governança levaram o mercado a acreditar que a empresa, mais cedo ou mais tarde, terá apenas uma classe de ações. 
 
O corpo de Raul está sendo velado na tarde deste domingo em Caxias, e a cremação será segunda-feira ao meio-dia, numa cerimônia reservada à família.
 
Além dos cinco filhos, ele deixa a esposa, Nilva D’Agostini Randon, com quem foi casado 62 anos, dez netos e uma bisneta.
 
Na foto acima, crianças beneficiadas pelo Instituto Florescer abraçam Raul Randon por ocasião de seus 88 anos.  Foto de João Lazzarotto.