O site Not Just a Label é uma espécie de Linkedin do mundo da moda: uma vitrine para designers exibirem suas coleções, tanto para o trade quanto para o consumidor.
Desde que foi fundado há dez anos pelo ex-modelo e ex-banker da Merrill Lynch Stefan Siegel, sua principal fonte de receita vem de fora da plataforma: consultoria para governos que querem promover suas cidades ou países como celeiro de moda independente, principalmente por meio de eventos descolados (um deles transformou o térreo do Waldorf Astoria numa pop-up store).
Em eventos offline ou pelo site, o NJAL se propõe a promover uma moda ética e sustentável, remunerando designers de forma “justa” e eliminando intermediários.
Foram nove anos para atrair os primeiros VCs. No ano passado, o NJAL recebeu aportes do fundo chinês C-Ventures, especializado em moda e millennials, e da venezuelana Carmen Busquets, fundadora e ex-sócia do Net-a-Porter, um dos maiores sites de vendas de marcas de luxo.
Siegel, que pretende lançar o marketplace do NJAL em outubro, promete repassar 90% do valor das vendas para os designers. Para incrementar as fontes de receita, ele também deve desenvolver serviços B2B.
E até o fim do ano, o NJAL vai oferecer uma assinatura mensal de “uso de direitos autorais” para grandes redes de ‘fast fashion’, que passarão a ter o direito de copiar o design dos 4 milhões de peças exibidas na plataforma. O modelo, desenvolvido com apoio da União Europeia, já teve um piloto com a Inditex, dona da Zara.
A internet tem sido um espaço de experimentação para novas formas de se produzir e consumir moda. A brasileira Udesign, fundada há pouco mais de um ano pelo empreendedor Ivan Pereira, permite encomendar o look das passarelas, mas a produção é toda feita sob encomenda. Só o que é vendido é produzido.
O Not Just a Label ganhou evidência ao receber o apoio de Vivienne Westwood, a rainha da moda punk londrina, e da cantora pop Lady Gaga. Não demorou para Siegel se tornar queridinho da Condé Nast, que publica a Vogue: ele costuma ser chamado para palestrar em seminários sobre o futuro da indústria de luxo, onde apresenta uma visão crítico-catastrófica do mundo da moda.
“O varejo de luxo está com os dias contados”, diz Siegel, que conversou com o Brazil Journal quando veio a São Paulo dar uma palestra num seminário da Wired. “A nova geração tem outra noção sobre o que é luxo e valoriza experiência sobre o consumo. Luxo hoje é individualidade. Não é um logo ou uma etiqueta com preço alto.”
A indústria não remunera os criadores de forma correta e os lucros acabam concentrados nas mãos de poucos grandes conglomerados, diz Siegel, que também critica a promoção do consumo desenfreado e o uso de influenciadores.
“O cachê das celebridades não pode ser mais importante que o valor pago aos designers, aos criadores. As roupas se tornaram irrelevantes. Quando a indústria da moda começa a financiar corações virtuais [likes no Instagram], ao invés de almas verdadeiras, mandamos uma mensagem para as futuras gerações que parecer bonito é o mesmo que criar beleza.”