Sem alarde, a Lojas Renner abriu concorrência para um grande centro de distribuição em São Paulo, uma peça chave de um amplo plano para automatizar sua logística, centralizar estoques e abastecer as lojas de forma mais rápida e assertiva.
O projeto – um dos maiores do setor de galpões nos últimos anos – têm atraído todos os grandes desenvolvedores de galpões. GLP, Prologis, HSI, Hines, Goodman, VBI e Brookfield estão entre os interessados. A JHSF também está no páreo com um terreno anexo ao Catarina Outlet, em São Roque.
O CD terá capacidade de armazenagem de 150 mil metros quadrados – o triplo dos outros dois CDs automatizados que a companhia já tem – e ainda poderá ser expandido futuramente. Para ficar bem próximo do maior mercado do Brasil, a Renner está buscando um terreno num raio de 30 quilômetros da capital paulista, no eixo da Anhanguera/Castelo Branco.
O novo CD permitirá à Renner universalizar sua logística ‘push and pull’, em que o abastecimento às lojas é feito de maneira mais inteligente, despachando apenas os itens que saem mais em cada unidade. (Antes, o CD enviava uma ‘arara padrão’ para as lojas, gerando duplicidades e não suprindo especificamente os itens em falta)
O ‘push and pull’ evita a chamada ‘ruptura’ – jargão do varejo para a falta de peças – e previne que a mercadoria fique encalhada e tenha que ser promocionada, corroendo as margens. O modelo é inspirado na Inditex, dona da Zara, benchmark em execução de ‘fast fashion’.
A Renner iniciou a racionalização da sua malha logística em 2012, com a abertura de um CD automatizado no Rio de Janeiro. Um outro foi inaugurado em Santa Catarina em 2015. Nestes centros, quase toda a separação de peças é feita de forma automatizada, por grandes máquinas que substituem os funcionários que antes faziam a separação manualmente.
Hoje, a Renner já usa o ‘push and pull’ para despachar parte de sua oferta de itens básicos. No Investor Day realizado no fim de setembro, a companhia sinalizou que o modelo deveria ser estendido para toda a oferta de básicos este ano e para as demais linhas até o fim de 2019.
No mesmo evento, a companhia disse que a ‘ruptura’ caiu 50% para os itens abastecidos pelo ‘push and pull’, e o faturamento com essas mercadorias cresceu sete pontos percentuais a mais do que o daquelas que ainda operam no modelo anterior.
A Renner já tinha sinalizado a construção de um terceiro centro, mas os planos vinham sendo postergados. Recentemente, saíram da gaveta. Empresas do ramo imobiliário foram convidadas a fazer propostas há cerca de dois meses. O prazo, que se encerraria nas últimas semanas, foi estendido, segundo fontes da indústria.
Nesta primeira fase, a localização do terreno é o diferencial. Com o contrato de aluguel – tipicamente de 10 a 15 anos – em mãos, os investidores interessados em construir o CD e para alugá-lo à Renner podem ir a mercado buscar financiamento.
Normalmente, a locação de galpões logísticos nesta modalidade – conhecida como ‘build to suit’ (BTS) – gira em torno de R$ 18 a R$ 19 o metro quadrado/mês, mas, segundo fontes, neste caso há ofertas que giram na casa dos R$ 15.
A expectativa é de que o processo se arraste até o próximo ano e que o CD comece a ser construído na segunda metade de 2019. A obra demora cerca de um ano.
“Essas concorrências de BTS demoram porque as especificações vão mudando ao longo do tempo”, diz uma fonte do setor imobiliário. “A Dafiti, por exemplo, queria um galpão em Jundiaí, depois aceitou ir para Cajamar e acabou fechando em Extrema [em Minas Gerais]”.