A Ri Happy quer chegar à Bolsa valendo entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,7 bilhão, mas enfrenta investidores preocupados com o futuro de seu ‘core business’ — o varejo de brinquedos  e reticentes em pagar por negócios ainda embrionários na empresa.

Além disso, a maior rede de lojas de brinquedos do País ainda faz menos de 5% de seu faturamento online, numa era em que a ascensão da Amazon, entre outros motivos, levou a Toys ‘R’ Us à lona nos Estados Unidos. Em recuperação judicial desde setembro, a Toys ‘R’ Us já estaria preparando para pedir falência.

Em interações com investidores, o CEO Héctor Nuñez  que liderou o Walmart no Brasil antes de assumir a Ri Happy  conseguiu impressionar os investidores com a qualidade do negócio da Ri Happy.

A companhia se vale de seu poder de barganha e paga os fabricantes com prazos dilatados, o que alivia sua necessidade de capital de giro e gera retornos elevados sobre o capital investido. Os investimentos em remodelagem das lojas também são relativamente baixos porque os fornecedores arcam com parte do custo das instalações e mobiliário.

A dúvida é por quanto tempo essas condições vão continuar a existir.

“Hoje, as empresas de ecommerce e os marketplaces facilitam que os fabricantes vendam direto aos consumidores,” diz um gestor.  “Por que os fabricantes de brinquedos manteriam exclusividade [com a Ri Happy]? Se essa relação com os fornecedores mudar, o retorno despenca e a empresa vai ter um problema de fluxo de caixa.”

A companhia disse que vai usar parte do dinheiro captado na oferta para investir numa transformação digital, mas a impressão do mercado é que talvez seja tarde demais.  

Com o faturamento praticamente estável nos últimos três anos, a Ri Happy está apostando pesado em artigos para bebês  um segmento que cresce mais rápido e tem menos sazonalidade, mas que ainda é minúsculo dentro da companhia.

“Eles passaram o tempo todo falando de lojas de bebês, que representam só 7% do faturamento da empresa,” diz um investidor. “Só por aí dá para ter uma ideia do que é o potencial dos outros 93%…”

Das 259 lojas da Ri Happy, 245 vendem brinquedos, seis vendem artigos de bebês, e outras oito são no formato ‘one-stop-shop’, que contempla ambas as categorias.

O crescimento nesse setor deve se dar via aquisições. No mercado, especula-se que a companhia está de olho na Alô Bebê, uma rede de 25 lojas concentrada principalmente no Estado de São Paulo. “No fim das contas, eles querem que a gente pague por um negócio que eles ainda não têm”, diz outro gestor.

Fundada em 1988 pelo pediatra Ricardo Sayon, a Ri Happy foi vendida para o Carlyle em 2012.  No fim do mesmo ano, a companhia comprou a PB Kids, uma de suas principais concorrentes, disparando na liderança do setor.

Mas a felicidade durou pouco: a recessão estagnou as vendas nos últimos anos e a companhia chegou a amargar um prejuízo de R$ 6 milhões em 2016.

No ano passado, o Carlyle buscou um sócio para injetar dinheiro novo no negócio e assim entregar mais crescimento antes de ir à Bolsa. As negociações não prosperaram.

Quando começaram a sondar os investidores para o IPO, os bancos testavam um valuation acima de 20 vezes o lucro estimado para este ano  em linha com grandes varejistas listados. Mas diante do ceticismo, o Carlyle reduziu sua ambição, e a faixa de R$ 20,30 a R$ 26,30 por ação divulgada esta semana se traduz, no piso, num valor de mercado de 15 vezes o lucro.

Com o preço menor, a oferta ganhou mais chances de prosperar, mas perdeu porte. Deve levantar R$ 860 milhões no ponto médio da faixa, o que a torna relativamente pequena para grandes fundos de investimentos e pode tirá-los do jogo, afetando a liquidez do papel.

Outro temor do mercado é o chamado ‘overhang’: o Carlyle deve vender suas ações restantes mais à frente, quando terminar o período de lockup, o que em condições normais pressiona o preço do papel.

Do total captado na oferta, 60% vão para o caixa da Ri Happy e 40% vão para o Carlyle  cuja participação deve cair de 100% para algo entre 22% e 37%, a depender do apetite dos investidores.

A oferta deve ser precificada no dia 27.

O BTG Pactual é o coordenador-líder; o sindicato inclui Credit Suisse, Itaú BBA, Bradesco BBI, Goldman Sachs e BB Investimentos.