A Hapvida está na reta final de uma negociação que vai definir seu futuro.
A empresa — o maior operador de planos de saúde do Norte e Nordeste, e o terceiro maior do Brasil em beneficiários — venderá 30% de seu capital para um investidor estratégico, ou entrará com pedido de listagem na Bolsa.
O Bank of America-Merrill Lynch está assessorando a companhia cearense no processo ‘dual track’, e uma decisão deve sair até o final do ano. As conversas estão adiantadas com a Fosun, o conglomerado chinês que comprou a Rio Bravo e tem usado a gestora como plataforma de aquisições.
A Hapvida tem 3,8 milhões de clientes e faturou R$ 3 bilhões no ano passado: um crescimento de 25% que está sendo repetido este ano. (Pelo menos na Hapvida, o Nordeste continua sendo ‘a China brasileira’.)
Fundada pelo médico oncologista Cândido Pinheiro de Lima, a Hapvida tem 24 hospitais, 18 pronto atendimentos e 73 Hapclínicas.
As origens da companhia datam de 1979, quando o Dr. Cândido construiu uma modesta clínica oncológica de três consultórios e 16 leitos, mais tarde transformada no Hospital Antonio Prudente, até hoje um dos mais modernos de Fortaleza. Quatro anos depois, a Hapvida nasceu na rua atrás do hospital, e logo se mostrou um sucesso comercial imediato.
Uma potencial transação deve obrigar a Hapvida — uma empresa de gestão familiar — a se adequar à entrada de um novo sócio. Hoje, a companhia é dirigida pelos filhos do fundador: Jorge, o CEO, e Cândido Pinheiro Júnior, o vp comercial e de relacionamento.
De acordo com dados da ANS, a Hapvida tem 22,4% de market share em planos de saúde na Região Norte e 27,3% no Nordeste. (Em planos odontológicos, a companhia tem 27% de share em ambas as regiões.)
As conversas com potenciais investidores não são novas. Há pelo menos quatro anos a Hapvida avalia alternativas para uma participação minoritária ou um IPO.
Mas desta vez — particularmente depois do sucesso da Bain Capital na Intermédica, onde a gestora americana já multiplicou seu capital investido por 3,5-4,5x em três anos, considerando-se as ofertas recebidas (e recusadas) e o que o mercado sinalizou pagar num IPO — a coisa pode ser diferente.
O status da Hapvida como ‘a Intermédica do Nordeste’ não passou despercebido no mercado de capitais, onde os ativos de saúde estão em alta demanda, nem para investidores estratégicos que buscam uma posição dominante numa região de alto crescimento — e uma plataforma para futuras aquisições. Falta, é claro, combinar o preço.
O ‘segredo de Tostines’ da Hapvida é, como no caso da Intermédica, seu modelo de negócios vertical, que junta plano de saúde e rede de atendimento debaixo do mesmo grupo, permitindo um controle espartano do custo médico.
A Intermédica trata cerca de 66% dos sinistros de seu planos em seus próprios hospitais; a Hapvida, mais de 90%.
Este controle de custo se traduz em eficiência: no ano passado, a sinistralidade da Hapvida ficou em cerca de 70%, comparado a 73% na Intermédica, 80% na SulAmérica e 84% na Amil.
Além dos benefícios estruturais da verticalização, nos últimos anos a compania também foi favorecida pela migração de planos de saúde mais caros para alternativas mais baratas.
Na foto acima, uma maquete do Hospital e Maternidade Eugênia Pinheiro, atualmente em construção. Segundo a Hapvida, será o primeiro hospital particular voltado à saúde da mulher no Ceará.