No mês passado, quando a greve dos caminhoneiros fez a maioria dos fundos multimercados perder dinheiro, o fundo Pandhora ganhou 0,81%.
O computador ajudou.
Ainda desconhecido da maioria dos alocadores e do mercado, o Pandhora é um dos raros fundos brasileiros cujas decisões de investimento são guiadas por algoritmos. Desde que começou a rodar, há dois anos, o fundo só fechou um mês no vermelho, e seu índice de Sharpe — que mede o retorno do fundo ponderado por sua volatilidade — é um dos maiores do mercado.
São 18 algoritmos recebendo inputs de 10.000 variáveis — como se fossem 18 traders, analisando mercados e correlações sob prismas diferentes. O fundo só opera ativos líquidos como contratos futuros de S&P, Ibovespa e dólar, a curva de juros e títulos públicos federais.
O Pandhora tenta medir o sentimento do mercado de médio e longo prazo — daí fundos deste tipo serem chamados de ‘trend followers’. Mas a principal missão do algoritmo é evitar que o fundo esteja exposto ao mercado em momentos de alta volatilidade, que geralmente levam a perdas de capital e deprimem os retornos no longo prazo.
“O computador ajuda a ler o mercado de uma forma fria — ele não briga com a namorada, não fica doente, o ego não cresce,” diz Alexandre Bossi, um dos sócios do fundo. “Programando de uma forma correta, ele consegue ler o mercado sem o viés, e sem o viés a decisão é muito mais limpa.”
O computador ajudou.
Ainda desconhecido da maioria dos alocadores e do mercado, o Pandhora é um dos raros fundos brasileiros cujas decisões de investimento são guiadas por algoritmos. Desde que começou a rodar, há dois anos, o fundo só fechou um mês no vermelho, e seu índice de Sharpe — que mede o retorno do fundo ponderado por sua volatilidade — é um dos maiores do mercado.
São 18 algoritmos recebendo inputs de 10.000 variáveis — como se fossem 18 traders, analisando mercados e correlações sob prismas diferentes. O fundo só opera ativos líquidos como contratos futuros de S&P, Ibovespa e dólar, a curva de juros e títulos públicos federais.
O Pandhora tenta medir o sentimento do mercado de médio e longo prazo — daí fundos deste tipo serem chamados de ‘trend followers’. Mas a principal missão do algoritmo é evitar que o fundo esteja exposto ao mercado em momentos de alta volatilidade, que geralmente levam a perdas de capital e deprimem os retornos no longo prazo.
“O computador ajuda a ler o mercado de uma forma fria — ele não briga com a namorada, não fica doente, o ego não cresce,” diz Alexandre Bossi, um dos sócios do fundo. “Programando de uma forma correta, ele consegue ler o mercado sem o viés, e sem o viés a decisão é muito mais limpa.”
O fundo não trabalha alavancado e, ao contrário de ‘high-frequency funds’, que geram retornos executando milhares ou milhões de transações por dia, o Pandhora muda suas posições com uma frequência baixíssima.
O elemento humano ainda existe. “Nunca vamos contra o algoritmo, mas podemos escolher ficar fora do mercado quando sabemos que há um evento que o algoritmo não conseguirá entender, como um Brexit ou uma eleição.”
O Pandhora nasceu da cabeça de Isaías Lopes, um ex-aluno de administração da GV — hoje com 27 anos — que tentava validar as teorias aprendidas em aula escrevendo programas.
Quando criança, Isaías economizava toda a sua mesada de R$ 60 na expectativa de um dia ficar rico.
“Quando viu aquilo, meu pai me explicou que, mesmo que eu não gastasse nada, aquilo não era garantia nenhuma de que eu ia ficar rico,” diz Isaías, hoje com barba na cara e casado com a primeira namorada. “Ele propôs que eu emprestasse a ele o que eu tinha economizado, que na época eram uns R$ 500, e ele me pagaria 2% ao mês.”
Depois de aceitar a oferta, passava horas calculando quanto seu capital aumentaria com os 2% e o reinvestimento de cada nova mesada. Foi assim que, aos 10 anos e ainda sem conhecer uma planilha Excel, descobriu os juros compostos e a progressão geométrica.
“Pelas minhas contas, eu ficaria bilionário aos 40 anos, mas depois descobri que aquilo era uma condição de pai pra filho, e que 2% ao mês (fixo) infelizmente não existe.”
Isaías começou a modelar a primeira versão do Pandhora quando fazia faculdade e era estagiário da Brasil Capital. Os sócios da gestora, conhecida pelo stockpicking, achavam curioso mas não gastavam tempo com o modelo de decisão teórico desenvolvido pelo garoto. “Eu tinha 21 anos, nem eu mesmo me levaria a sério,” diz Isaías.
Semanalmente, ele enviava aos sócios um email mostrando o que o modelo estava apontando. Ao sair da empresa, continuou enviando os resultados aos ex-chefes, entre eles Bossi. Anos depois, notando a consistência dos retornos teóricos, Bossi resolveu olhar a coisa de perto.
Num mercado frequentemente preso na mentalidade de manada, Isaías leva uma vida isolada do barulho do Itaim. Ainda mora em sua terra natal — Auriflama, cidade de 15 mil habitantes no noroeste de São Paulo — e gosta de dormir no sítio. A cada duas semanas dirige até a capital e trabalha três dias no escritório da Trilha Investimentos, a gestora que incubou o Pandhora. Além de Bossi, seus sócios são Ricardo Goldfarb, Pedro Camargo (sócio da Trilha) e a The Hive, a incubadora americana focada em inteligência artificial que já investiu em seis empresas no Brasil.
O time está trabalhando na construção de novas estratégias. Os atuais 18 algoritmos devem chegar a 30 ainda este ano e 50 no ano que vem. Além disso, os algoritmos que já rodam bem têm que ser constantemente aprimorados — um exercício de ‘autoceticismo’ saudável e um traço comum a homem e máquina.
O único mês em que o Pandhora perdeu dinheiro — a cota caiu 0,24% — foi na eleição de Donald Trump, quando o S&P futuro inicialmente mergulhou até 5% para logo em seguida iniciar um rali que dura até hoje. Em maio de 2017, o mês do Joesley Day, o Pandhora subiu 0,64%.
O que o Pandhora fez no J-Day? Nada. “Todo mundo foi para a mesma ponta e não havia liquidez,” diz Bossi. “Dependendo do evento, a pior coisa que você pode fazer é ‘stopar’, ainda mais em um ‘black swan’. Fizemos um ‘back test’ do nosso modelo: voltamos 21 anos no tempo e descobrimos que, nos grandes eventos, toda vez que a gente tivesse ‘stopado’, nosso modelo teria destruído valor para o cotista.”
Desde seu início, o fundo tem um retorno de 151% do CDI com um Sharpe de 1,3. (Para efeito de comparação, num grupo de peers que inclui o Verde, o Adam Macro e o Galileo, apenas o SPX Nimitz tem Sharpe maior, de 1,9.)
A indústria de fundos quantitativos no Brasil ainda cabe numa kombi: fundos como Kadima, Murano, Bozano Quantitativo e Visia Zarathustra representam menos de 1% do total sob gestão em multimercados. Nos EUA, os quants são entre 18% e 25% da indústria.
Apesar de serem vistos como uma classe única, cada fundo quant opera com estratégias proprietárias e singulares. Enquanto os fundos macro guardam uma correlação média de 0,6 a 0,9, a correlação entre os fundos quantitativos é próxima de zero. Isso é particularmente relevante para os grandes investidores, que precisam diversificar seus portfólios e frequentemente se vêem investidos em fundos diferentes mas com estratégias parecidas.
Dos 11 maiores hedge funds do mundo, quatro são 100% quantitativos, cinco usam estratégias discricionárias e quantitativas, e apenas dois são 100% discricionários. Em tamanho, o rei dos quants é a AQR Capital Management — sigla para Applied Quantitative Research — que administra US$ 225 bilhões. (Os fundadores fizeram PhD em Chicago e trabalharam na Goldman antes de abrir a lojinha.)
Em maio, enquanto diversos fundos macro sangravam, muitos quants riram à toa (veja tabela abaixo).
“Nos momentos extremos, os fundos sistemáticos se destacam em relação à abordagem discricionária,” diz Rodrigo Maranhão, sócio da Kadima, a mais antiga casa quant do Brasil, que administra R$ 300 milhões. (Em hebraico, Kadima significa ‘avante’.) Nos 11 anos da Kadima, a casa prosperou particularmente na crise de 2008, no impeachment de Dilma em março de 2016, e no Joesley Day.
Isaías começou a modelar a primeira versão do Pandhora quando fazia faculdade e era estagiário da Brasil Capital. Os sócios da gestora, conhecida pelo stockpicking, achavam curioso mas não gastavam tempo com o modelo de decisão teórico desenvolvido pelo garoto. “Eu tinha 21 anos, nem eu mesmo me levaria a sério,” diz Isaías.
Semanalmente, ele enviava aos sócios um email mostrando o que o modelo estava apontando. Ao sair da empresa, continuou enviando os resultados aos ex-chefes, entre eles Bossi. Anos depois, notando a consistência dos retornos teóricos, Bossi resolveu olhar a coisa de perto.
Num mercado frequentemente preso na mentalidade de manada, Isaías leva uma vida isolada do barulho do Itaim. Ainda mora em sua terra natal — Auriflama, cidade de 15 mil habitantes no noroeste de São Paulo — e gosta de dormir no sítio. A cada duas semanas dirige até a capital e trabalha três dias no escritório da Trilha Investimentos, a gestora que incubou o Pandhora. Além de Bossi, seus sócios são Ricardo Goldfarb, Pedro Camargo (sócio da Trilha) e a The Hive, a incubadora americana focada em inteligência artificial que já investiu em seis empresas no Brasil.
O time está trabalhando na construção de novas estratégias. Os atuais 18 algoritmos devem chegar a 30 ainda este ano e 50 no ano que vem. Além disso, os algoritmos que já rodam bem têm que ser constantemente aprimorados — um exercício de ‘autoceticismo’ saudável e um traço comum a homem e máquina.
O único mês em que o Pandhora perdeu dinheiro — a cota caiu 0,24% — foi na eleição de Donald Trump, quando o S&P futuro inicialmente mergulhou até 5% para logo em seguida iniciar um rali que dura até hoje. Em maio de 2017, o mês do Joesley Day, o Pandhora subiu 0,64%.
O que o Pandhora fez no J-Day? Nada. “Todo mundo foi para a mesma ponta e não havia liquidez,” diz Bossi. “Dependendo do evento, a pior coisa que você pode fazer é ‘stopar’, ainda mais em um ‘black swan’. Fizemos um ‘back test’ do nosso modelo: voltamos 21 anos no tempo e descobrimos que, nos grandes eventos, toda vez que a gente tivesse ‘stopado’, nosso modelo teria destruído valor para o cotista.”
Desde seu início, o fundo tem um retorno de 151% do CDI com um Sharpe de 1,3. (Para efeito de comparação, num grupo de peers que inclui o Verde, o Adam Macro e o Galileo, apenas o SPX Nimitz tem Sharpe maior, de 1,9.)
A indústria de fundos quantitativos no Brasil ainda cabe numa kombi: fundos como Kadima, Murano, Bozano Quantitativo e Visia Zarathustra representam menos de 1% do total sob gestão em multimercados. Nos EUA, os quants são entre 18% e 25% da indústria.
Apesar de serem vistos como uma classe única, cada fundo quant opera com estratégias proprietárias e singulares. Enquanto os fundos macro guardam uma correlação média de 0,6 a 0,9, a correlação entre os fundos quantitativos é próxima de zero. Isso é particularmente relevante para os grandes investidores, que precisam diversificar seus portfólios e frequentemente se vêem investidos em fundos diferentes mas com estratégias parecidas.
Dos 11 maiores hedge funds do mundo, quatro são 100% quantitativos, cinco usam estratégias discricionárias e quantitativas, e apenas dois são 100% discricionários. Em tamanho, o rei dos quants é a AQR Capital Management — sigla para Applied Quantitative Research — que administra US$ 225 bilhões. (Os fundadores fizeram PhD em Chicago e trabalharam na Goldman antes de abrir a lojinha.)
Em maio, enquanto diversos fundos macro sangravam, muitos quants riram à toa (veja tabela abaixo).
“Nos momentos extremos, os fundos sistemáticos se destacam em relação à abordagem discricionária,” diz Rodrigo Maranhão, sócio da Kadima, a mais antiga casa quant do Brasil, que administra R$ 300 milhões. (Em hebraico, Kadima significa ‘avante’.) Nos 11 anos da Kadima, a casa prosperou particularmente na crise de 2008, no impeachment de Dilma em março de 2016, e no Joesley Day.