O CEO da Oi, Marco Schroeder, acaba de renunciar ao cargo.

A renúncia é um avanço do empresário Nelson Tanure para tomar o controle de fato da empresa.

Schroeder, que comandou a empresa em seu momento mais dramático, estava no cargo desde junho do ano passado, quando deu entrada no pedido de recuperação da tele.

Numa carta de cinco parágrafos, Schroeder diz que sua saída é o “melhor caminho” para ele e para a Oi, sem explicitar os motivos da renúncia.  No entanto, o CEO pareceu aludir à dificil convivência com o conselho atual, substancialmente diferente daquele que existia quando o ex-diretor administrativo e financeiro assumiu a função de CEO após a renúncia de seu antecessor, Bayard Gontijo.

10236 0379bd33 8e69 0000 000e 2c8eb4672b61“Considerando as alterações profundas que o conselho da Oi sofreu nos últimos meses, solicito, através desta, a minha renúncia a função estatutária de diretor presidente da Oi, bem como das funções estatutárias nas suas subsidiárias”, escreveu Schroeder. Em outro trecho:  “As últimas reuniões do conselho de administração da Oi deixaram claro a necessidade de minha saída”. 

No último parágrafo, Schroeder diz que sua saída deve ser tratada como uma demissão ‘sem justa causa’ e reivindica um bônus, pedindo atenção a uma cláusula de seu contrato de trabalho, “cujo atingimento da meta também já foi alcançado sem o pagamento correspondente até a presente data.”

Schroeder estava na linha de fogo entre os principais acionistas da companhia – Tanure e os portugueses da Pharol —, os credores e o Governo, que travam uma queda de braço sobre os termos da reestruturação da empresa.

De um lado, Tanure e a Pharol (os maiores acionistas com 28%) e o G6 (um grupo de credores dono de R$ 2,4 bilhões em créditos da Oi) querem aprovar um plano que envolve uma capitalização de R$ 9 bilhões, dos quais R$ 3 bilhões em dinheiro novo e R$ 6 bilhões em conversão de dívida. 

É o plano que garante a menor diluição aos acionistas, e remunera os credores por seu compromisso em aportar dinheiro novo na empresa, independentemente da geração de caixa da Oi – um desenho que causou a ira dos demais credores e do Governo. Especula-se no mercado que Tanure também detenha títulos da dívida, mas ele nunca confirmou a informação.

Outro grupo de credores muito mais expressivo — com dívidas de R$ 22 bilhões — discorda, e já havia apresentado um plano com ‘haircut’ menor que nunca chegou a ir à votação. 

O Governo tenta atuar como fiel da balança, receoso de que uma eventual quebra da companhia gere um caos nas telecomunicações, ao mesmo tempo que tem R$ 20 bilhões a receber entre passivos fiscais e multas devidas à Anatel.

Com o estilo belicoso que lhe tornou célebre, Tanure tem conquistado cada vez mais espaço no conselho e na diretoria. Conseguiu indicar a maioria dos conselheiros e levou à votação seu plano, que foi aprovado pelos conselheiros este mês. Mas, diante do impasse com os demais credores e com o próprio Governo, Schroeder recusou-se a assiná-lo – o que o torna inválido perante a Justiça.

No fim de outubro, Tanure indicou dois conselheiros alinhados a ele — o ex-ministro das Comunicações Hélio Costa e João Vicente Ribeiro — como diretores estatutários, numa manobra para levar seu plano à frente; o estatuto da Oi prevê que decisões possam ser tomadas com a assinatura de dois diretores. 

No entanto, os bondholders assessorados pela G5 Evercore e pela Moelis entraram na Justiça, e o juiz que comanda a RJ determinou que os dois novos diretores não podem tomar decisões ligadas ao processo. 

No time Tanure, uma fonte graduada se disse ‘perplexa’ e ‘até indignada’ com a renúncia do CEO dias depois que o plano de recuperação — originalmente desenhado por Tanure — sofreu modificações para atender a preocupações levantadas pela diretoria liderada por Schroder.

“Fomos pegos de surpresa. Essa diretoria fez críticas públicas ao plano. Ontem, o conselho se reuniu e aprovou por unanimidade todos os ajustes.  Depois de ter conseguido o que queria, o cara vai embora e ainda pede um bônus?” 

A fonte reconheceu que Schroeder “já falava em ir embora há um tempão,” mas disse que “quem sempre pedia para ele ficar éramos nós.”  Disse ainda que Schroeder “não era contra o plano inteiro, ele era contra alguns detalhes.”

A guerra de versões à parte, agora, a nova turbulência vai reeditar nos próximos dias as especulações sobre uma possível intervenção de Brasília na empresa.