O Grupo Boticário acaba de comprar a Vult, uma marca de maquiagem jovem e com distribuição nacional, marcando a primeira vez que o CEO Artur Grynbaum recorre a aquisições numa empresa acostumada a crescer organicamente.
A Vult faturava R$ 250 milhões em 2016 — o último dado disponível. Assumindo aquele faturamento e múltiplos de 4 a 5 vezes receita praticados em transações recentes nos EUA, o Boticário pode ter pago R$ 1 bilhão pela empresa.
Além de maior exposição a um segmento que cresce dois dígitos por ano, a compra preenche uma lacuna no portfólio do Boticário, que lidera a venda de fragâncias no Brasil mas ainda é um player pequeno em maquiagens.
A transação também dá ao Boticário uma presença forte num canal em que a companhia ainda é tímida: drogarias. Nos últimos anos, as drogarias se reinventaram como um espaço também de cosméticos e cuidados pessoais, e a Vult foi uma das empresas que melhor explorou esta oportunidade. Hoje, a marca está em 35 mil pontos de venda, incluindo grandes redes, farmácias de bairro e perfumarias independentes.
A venda de maquiagens ainda é dominada pelo porta-a-porta — em que Avon e Natura são líderes — mas este canal de vendas se mostra saturado há anos. Todo o crescimento de vendas de maquiagens tem sido capturado pelo varejo físico, principalmente drogarias e perfumarias.
Além disso, como muitas startups em marcas de consumo, a Vult se beneficiou do advento da internet, que permitiu a marcas pequenas e sem orçamentos parrudos — sem fôlego para anunciar na mídia tradicional — atingir e gerar identificação com seus consumidores com um marketing digital relativamente barato mas cirurgicamente eficiente.
Hoje, youtubers e instagramers possivelmente têm mais poder de persuasão do que as representantes Avon e vendedoras de loja de outrora.
Neste sentido, a compra do Boticário se parece com a aquisição da Hourglass, outra empresa de maquiagens focada em millenials e que cresceu com marketing digital — e foi comprada pela Unilever em meados do ano passado.
Ainda que grande, o tamanho do cheque da Vult será facilmente absorvido pelo Boticário, que faturou R$ 12 bilhões ano passado.
Em 2016, a Estée Lauder comprou a Too Faced por US$ 1,45 bilhão — pagando nove vezes o faturamento da empresa. No mesmo ano, a L’Oréal comprou a IT Cosmetics por US$ 1,2 bilhão — sua maior aquisição em oito anos — pagando sete vezes a receita anual da companhia. Os dados são da Capital IQ, que monitora fusões e aquisições.
Na compra, o Boticário está levando junto os fundadores da Vult: Murilo Reggiani e Daniela Cruz, dois amigos de infância que criaram a marca em Mogi das Cruzes em 2004.
Murilo, que deixou de ser empregado para empreender, e Daniela, uma arquiteta de formação e surfista de final de semana, continuarão tocando a empresa pelos próximos anos. O arranjo segue o padrão adotado quando a Estée Lauder comprou a MAC. A gigante francesa rapidamente integrou o back office das duas companhias, mas deixou a área comercial e o marketing da MAC com seus fundadores, o casal Frank Toskan and Frank Angelo.