A família Géo — controladora do Banco Neon, que sofreu liquidação extrajudicial semana passada — fez fortuna, se meteu em rolos judiciais, e já tinha seu patrimônio protestado por credores mesmo antes dos eventos de sexta-feira.

Apesar de terem reposicionado seu Banco Pottencial como um banco digital — renomeado ‘Neon’ depois de um acordo operacional com a empresa Controly, do empreendedor Pedro Conrade — os Géo sempre ganharam dinheiro na velha economia.  Parte dessa história foi parar na Justiça.

Há cerca de 20 anos, os irmãos André e Alexandre de Lima Géo — e seu primo, Flavio Abdalla Géo — eram donos de uma concessionária Fiat em Belo Horizonte: a Máxima. O patriarca da família, João de Lima Géo, era o avalista da operação. (Outros dois filhos de Géo — Argeu e João de Lima Géo Filho — são os controladores do Neon.)

Um grande cliente da Máxima era Rivadávia Salvador, dono do consórcio Uniauto — então o maior de Minas Gerais, com 16 mil consorciados.  A relação comercial já durava 10 anos, durante os quais o Uniauto havia comprado quase 4 mil carros da Máxima.  Até que, em março de 1995, o Uniauto adiantou à Máxima R$ 4,5 milhões para a entrega futura de 347 automóveis — e nunca mais viu a cor do dinheiro.

A Máxima quebrou em maio de 1997, deixando de entregar 74% dos veículos a que havia se comprometido. 

Em fevereiro de 2002, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Uniauto em decorrência da “incapacidade de honrar compromissos assumidos” e a “prática de graves irregularidades”. Na investigação que se seguiu, o BC disse que a quebra foi causada, em parte, pelo tombo dado pela Máxima.  Em 2004, foi decretada a falência do Uniauto. 

A massa falida entrou na Justiça contra os Géo e, 20 anos depois, a dívida já chega a R$ 90 milhões.

O síndico da massa falida do Uniauto, Sergio Mourão, achou que tinha um ativo redondinho na mão:  em junho de 1997, dias depois da Máxima quebrar, João de Lima Géo havia assinado uma confissão de dívida se assumindo como “fiador, devedor solidário e principal pagador das obrigações da Máxima.” No mesmo instrumento, João ofereceu em garantia a Fazenda Serra Branca, de exatos 13.482 hectares, no município de Barreiras, na Bahia.

Mas quando a massa falida pediu a execução da garantia, descobriu que a fazenda não existe.

Em outubro de 2016, Mourão entrou com um protesto contra alienação de bens — um pedido para que o juiz oficie aos cartórios de registro de imóveis para que os bens da família fiquem vinculados ao ressarcimento da massa falida.

Segundo esta ação, “com o passar dos anos e a ampliação exponencial de seus débitos, João Géo implementou estratagema de blindagem patrimonial” que consistia em “receber créditos e transferir os recursos para seus filhos” ou suas empresas, “integralizar recursos auferidos com a alienação de bens no capital social de sociedades que posteriormente tiveram seu controle acionário adquirido pelos filhos.”

A ação alega ainda que os filhos funcionam como “testas de ferro” do pai, e que o patrimônio já está sendo transferido aos netos como forma de esvaziar o patrimônio do patriarca. Ao negar um recurso dos Géo, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais disse que viu “elementos fortes e conducentes à prática de fraude contra os interesses dos credores.” 

Na prática, a família Géo não teria dificuldades em ressarcir os consorciados.  A ação descreve João de Lima Géo como um dos maiores agropecuaristas do País.

Num post de 2014, o Blog do Lance Rural — uma autoridade em assuntos bovinos e equinos — descreve assim uma das propriedades da família:

“Bela e moderna! São alguns adjetivos para a Fazenda da AGéo Agropecuária em Paraopeba, Minas Gerais.  A cada dois anos a família Géo abre os portões da propriedade para realizar o Leilão “Prime das Raças”, evento que tradicionalmente reúne criadores de duas das mais representativas raças da pecuária nacional: Mangalarga Marchador e Nelore.”

O evento, segundo o blog, “é promovido pelos primos Argeu Géo (dono da fazenda e da AGéo Agropecuária) e Adolfo Géo (do Haras Santa Esmeralda e melhor criador de Mangalarga Marchador por 4 anos consecutivos).” 

Um outro relato, de 2012, diz que “a fazenda é a maior na produção contínua de grama do país, ou seja, maior área plantada de grama numa única propriedade. São 500 hectares.”

A família Géo foi procurada por meio de seu advogado e não quis fazer declarações.

Outro ramo da família Géo também já teve problemas com a Justiça. O empresário Adolfo Géo Filho, sobrinho de João de Lima Géo, foi preso pela PF na Operação Vulcano por suspeita de envolvimento com uma quadrilha que fazia importação fraudulenta da Bolívia. 

A Construtora ARG — que pertence a Adolfo Géo, Adolfo Géo Filho e Rodolfo Giannetti Géo — foi investigada no Mensalão por ter feito um saque de R$ 102 milhões em dinheiro vivo no Banco Rural, com o mesmo gerente que atendia Marcos Valério.

Segundo seu site, além de operar no Brasil, a ARG faz obras de construção pesada e infraestrutura na Bolivia, Guiné Equatorial e Paraguai.

 

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