Acabamos de montar uma posição de 5% do fundo nas ações da BlackRock.
Em nossas projeções, o lucro operacional da empresa mais que dobrará nos próximos cinco anos. Com esse crescimento robusto como ponto de partida, e vendo dividendos e recompras como um motor adicional de rentabilidade, enxergamos uma taxa interna de retorno (TIR) de 17% ao ano em dólares, que traduzida para reais confere uma taxa anualizada de cerca de CDI + 10% no período – bastante assimétrico para um ativo com baixíssimo risco de perda permanente de capital.
Há ainda uma opcionalidade: uma possível reprecificação do múltiplo, o que anteciparia parte da história de criação de valor para os anos iniciais e aumentaria consideravelmente o retorno realizado de nosso investimento.
A empresa, que tem US$ 12,5 trilhões em ativos sob gestão, negocia hoje a 20x o lucro projetado para 2026 e vale US$ 170 bi na Bolsa.
Negócios excepcionais combinam crescimento elevado e consistente ao longo de décadas com um diferencial competitivo crescente – e este conjunto raro gera altos retornos sobre o capital investido.
No entanto, quanto mais tempo se passa para uma empresa extremamente rentável, uma terceira variável ganha protagonismo: a alocação de capital.
A história de sucesso da BlackRock é um case study de execução neste pilar graças às decisões de seu CEO e fundador, Larry Fink, que sempre demonstrou muita clareza de visão sobre para onde a indústria estava caminhando.
Fink fundou a BlackRock em 1988, em Nova York, com um foco inicial na gestão de renda fixa. Ainda nos anos 90, a empresa diversificou sua grade de produtos lançando o Aladdin, um software de gestão de risco que se tornaria fundamental para seus clientes e suas operações internas. Em seguida, a fusão com o braço de gestão do PNC Bank marcou outro passo importante, incorporando fundos mútuos de ações, e expandindo a atuação da empresa.
Mas o grande salto ocorreu a partir dos anos 2000, quando a BlackRock se consolidou globalmente através de aquisições estratégicas.
A compra da State Streett, seguida pela aquisição da Merrill Lynch Investment Managers, mais que dobrou o tamanho da empresa, que alcançou ali US$ 1 trilhão em ativos sob gestão.
Mas o movimento mais transformador foi a aquisição da Barclays Global Investors (BGI), dona da franquia de ETFs iShares. Essa aquisição posicionou a BlackRock como líder no mercado de ETFs, um segmento que impulsionaria seu crescimento nas décadas seguintes e que hoje representa sua maior linha de negócio.
O famoso portfólio 60/40 (60% investidos em ações e 40% em renda fixa) tem sido uma arquitetura de alocação de ativos fundamental para fundos de pensão e carteiras previdenciárias por décadas, passando a ser a referência global para o perfil de clientes de risco moderado.
O retorno histórico anualizado deste portfólio – de cerca de 9% em dólares por mais de 60 anos, com 81% dos anos positivos desde 1980 – demonstra a consistência e o desempenho espetacular dessa estratégia, que garantiu boa vida para muitos aposentados.
Sua ampla aceitação impulsionou diretamente os negócios da BlackRock, principalmente por meio da BGI (a dona da franquia iShares). Ao oferecer ETFs acessíveis e de baixo custo que replicam precisamente os componentes de ações e renda fixa de uma estratégia 60/40, a BlackRock democratizou essa alocação, atraindo trilhões em ativos, tanto de grandes fundos de pensão que buscavam soluções eficientes de indexação quanto de poupadores individuais que adotaram carteiras simples e diversificadas para seu futuro.
O portfólio moderno
Em sua carta anual de 2024, Larry Fink propôs um novo modelo de portfólio, batizado de 50/30/20, que aloca 50% em ações listadas, 30% em renda fixa e – a novidade – 20% em ativos alternativos (como private equity, infraestrutura e crédito privado).
Fink defende essa nova composição argumentando que grande parte do crescimento e da inovação econômica hoje ocorre nos mercados privados, oferecendo maior potencial de retorno e ampliando ainda mais a diversificação.
Assim como o portfólio 60/40 impulsionou seu crescimento nas últimas décadas, a adoção dessa nova estrutura de alocação deve gerar um impulso semelhante nos anos à frente. As últimas aquisições comandadas por Fink demonstram sua convicção nesse movimento da indústria: a GIP, uma das principais gestoras de infraestrutura; a Preqin, uma empresa de software e banco de dados para o mercado privado; e a HPS, uma referência em crédito privado.
Com esses novos ativos, a BlackRock conseguirá oferecer uma solução mais completa a seus clientes – utilizando essa nova metodologia de alocação como argumento central de vendas.
Crescimento acelerado
O modelo de receita da BlackRock está umbilicalmente conectado ao desempenho dos mercados de renda fixa e variável, o que conecta seu futuro ao progresso do capitalismo.
A receita da empresa deriva diretamente do volume de ativos sob gestão e, além de se beneficiar da valorização dos mercados (beta), ela também cresce como consequência de uma base robusta de distribuição que garante fluxos expressivos de captação de novos recursos. Ou seja, sua receita cresce sempre mais do que a valorização de um portfólio 60/40, ou 50/30/20.
Essa nova tendência de alocação para ativos privados beneficiará ainda mais a BlackRock, que consegue cobrar taxas de administração até seis vezes maiores que as taxas médias dos ETFs da BlackRock – além de cobrar taxas de performance que os ETFs não cobram.
Acreditamos que essa migração para ativos alternativos turbinará ainda mais o crescimento da empresa na próxima década.
Leonardo Otero é sócio da Arbor Capital.