A XP acaba de rebaixar a ação da Ambev de ‘neutro’ para ‘venda’, depois de um segundo tri frustrante, maior pressão da Heineken e um ano com temperaturas bem abaixo da média.

Num relatório intitulado ‘No happy hour,’ a corretora reduziu o preço-alvo do papel de R$ 13,40 para R$ 10,90, o que implica um downside de 12% em relação ao fechamento de ontem.

Com um dos invernos mais gelados dos últimos tempos (em São Paulo, por exemplo, o mais frio desde 1994), os analistas Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak estimam que o terceiro tri trará uma queda de 6,1% no volume de cerveja vendida no País em comparação com o ano passado.

“As vendas do ano passado foram positivamente impactadas por condições climáticas favoráveis. Resultado: o desempenho de 2025 é afetado por uma base de comparação difícil,” escreveram os analistas.

Ao mesmo tempo em que ocorre uma queda nas vendas, a XP vê pressão de custos. 

Segundo os analistas, a Ambev está enfrentando  inflação em insumos como milho e alumínio, o que deve fazer seu custo por hectolitro subir entre 5,5% e 8,5% neste ano. 

E aí entra o fator concorrência para atrapalhar a vida da Ambev. A XP aponta que a disputa com a Heineken deve ficar ainda mais agressiva com a entrada de uma nova planta da cervejaria holandesa este ano. 

Os analistas acreditam que a Ambev deve até ganhar 130 pontos-base de market share este ano, especialmente com o momento conturbado do Grupo Petrópolis, mas ao custo de margens menores para conter a principal rival. 

Com todos esses fatores somados, a XP estima que a margem EBITDA da Ambev recue de 32,5% em 2025 para 31,0% em 2026 e 30,7% em 2027, consolidando uma tendência de deterioração.

Por isso, a XP acha injustificado que a Ambev esteja negociando a 14x o lucro para o fim de 2026, o múltiplo mais alto desde meados de 2023. 

Com base nas estimativas da XP, a Ambev está sendo negociada sem desconto em relação à AB InBev, sendo que há dois anos estava com um desconto médio de 20%. “Isso abre espaço para que a ação tenha um desempenho inferior no curto prazo,” escreveram os analistas.

Para completar, o cenário de consumo futuro não é dos mais animadores para o mercado de cerveja. Segundo a XP, só 45% da Geração Z consome bebidas alcóolicas.

Isso até fez com que o consumo de cerveja sem álcool explodisse no Brasil, mas sem compensar a queda dos produtos core.

Além disso, o crescimento dos medicamentos GLP-1 (como Ozempic e Mounjaro) também está impactando o mercado. A corretora aponta estudos mostrando que os usuários não só comem menos como reduzem em até 50% a ingestão de álcool.

A ação da Ambev cai 5% nos últimos doze meses. A empresa vale R$ 195 bilhões na B3.