A Berkshire Hathaway, a empresa de investimentos fundada por Warren Buffett, é a maior acionista individual da Coca-Cola, com cerca de 400 milhões de ações, ou 9% da empresa.
Como a Berkshire é a empresa de investimentos mais bem sucedida do mundo, tudo o que Buffett diz, faz, ou deixa de fazer atrai muita atenção.
Nas últimas semanas, Buffett foi criticado porque a Berkshire se absteve de apoiar publicamente outros acionistas da Coca que questionavam o plano de remuneração dos executivos, tido como muito agressivo pelos acionistas descontentes.
Na reunião anual de acionistas da Berkshire, que reuniu 30 mil pessoas em Omaha neste sábado, Buffett explicou que fez saber ao CEO da Coca-Cola, Muhtar Kent, que considerava o plano de remuneração da Coca “excessivo”, mas que preferiu não se opor publicamente à Coca-Cola para não desgastar a empresa.
Dado o histórico de Buffett em gestão de investimentos, o mercado lhe dará o benefício da dúvida. (E depois do que ele disse hoje, não será surpresa se a Coca voltar atrás.)
O interessante é notar que o debate sobre remuneração de executivos mal começou no Brasil.
Casos recentes como os da PDG Realty e Gafisa, em que os acionistas se insurgiram contra a remuneração dos executivos no momento em que as empresas quase quebraram, podem ter servido como um ensaio para um debate mais profundo e estruturado sobre o tema no Brasil.
Na gestora de private equity GP Investimentos, a acionista NCH Capital está questionando os pagamentos ao management, que considera fora de compasso com os resultados recentes da empresa.
Um outro caso é o da operadora de shoppings BR Malls. De acordo com levantamento feito pelo Valor Econômico no ano passado, usando dados de 2012, enquanto o Itaú Unibanco teve um gasto médio por diretor estatutário de R$ 9,05 milhões, a BR Malls, cujo valor de mercado é 20 vezes menor que o Itaú, gastou quase o mesmo: R$ 9,04 milhões por cabeça. Ainda que a remuneração dos gestores não tenha que estar atrelada ao tamanho da empresa, a diferença de escala chama a atenção.
Não há nada de errado em executivos ganharem muito bem. Um pacote de remuneração agressivo pode ser exatamente o que uma empresa precisa para estimular e reter seus melhores gestores. Quase ninguém reclama, por exemplo, de quanto ganham os executivos da Ambev ou da Renner, que entregam resultados com consistência há anos.
O problema é quando a remuneração vai numa direção e a performance da ação, em outra, por períodos mais longos. Ou, ainda, quando a remuneração dos executivos (paga em ações ou opções) permite que eles vendam essas ações muito rápido, se desvencilhando do futuro de médio prazo da empresa, como aconteceu na PDG e a na Gafisa.
“No Brasil, como a maioria das empresas tem capital votante e não votante, nossos maiores conflitos ainda são entre controladores e minoritários”, diz um gestor. “Nos EUA, onde quase todas as empresas só têm ações votantes e o capital é pulverizado entre milhares de acionistas, as brigas acontecem quando os executvos tentam tirar vantagem dos acionistas criando pacotes de remuneração nababescos. No Brasil, na medida em que tivermos mais empresas com capital pulverizado, vamos ter que ficar de olho nisso”.