O título da obra era “Man at the Crossroads”, e o mural seria composto por três painéis: o do meio mostrava máquinas dominadas por homens, enquanto as laterais retratavam o capitalismo de um lado e o socialismo do outro.
O rascunho inicial foi aprovado pela família, que sabia que Rivera era um marxista roxo.
Diego dispunha de seis artistas assistentes e por quase dois anos tudo ia às mil maravilhas. Até descobrirem a imagem de Lênin infiltrada no painel direito. No esquerdo, figurava ainda uma pintura do patriarca John D. Rockefeller bebendo martinis. Gentilmente convidado por Nelson Rockefeller a retirar a imagem de Lênin, o mexicano, então casado com Frida Kahlo, bateu o pé e anunciou que preferia a obra destruída a remover a pintura. E assim foi.
Em 1934, o mural foi arrancado das paredes. Já prevendo o embate, Rivera fotografou sua obra e, anos mais tarde, a reproduziu no Palacio de Bellas Artes, na Cidade do México, dando-lhe o nome de “Man, Controller of the Universe”.
A partir desta segunda-feira, os rascunhos aprovados de “Man at the Crossroads,” estarão de volta a Nova York, assim como uma reprodução gigantesca da segunda versão do mural.
O material faz parte da mostra “Vida Americana: Mexican Muralists Remake American Art, 1925-1945”, que ocupa todo o quinto andar do Whitney Museum of American Art e fica em cartaz até 17 de maio.
Acompanhadas por textos bilíngues, cerca de 200 obras de 60 artistas mexicanos e americanos revelam a imensa influência que os vizinhos do sul tiveram sobre seus contemporâneos do norte ao longo destas duas décadas, incluindo Jackson Pollock, Philip Guston e Thomas Hart Benton.
“O legado dos muralistas mexicanos foi amplamente excluído da narrativa da arte moderna americana”, disse ao Brazil Journal a curadora Barbara Haskell, que se apoiou em quase dez anos de pesquisa acadêmica e grande colaboração internacional. “Além da similaridade dos temas, americanos e mexicanos dividiam a idéia de que a arte deve ser pública, e não uma commodity reservada a poucos.”
A mostra coloca holofotes sobre este capítulo perdido, reunindo pinturas, frescos portáteis, filmes, esculturas, fotografias, gravuras, desenhos e reproduções de murais intransportáveis, e dividindo-se em nove temas. O primeiro é o “Nacionalismo Romântico e a Revolução Mexicana”: além de Rivera, José Clemente Orozco e David Alfaro Siqueiros, juntos chamados de “Los Tres Grandes”, encabeçavam o movimento artístico de um México saído de uma revolução movida por reforma agrária que se estendeu de 1910 a 1920, depois de três décadas de ditadura.
Ao fim da revolução, liderada por Zapata, o novo governo do México passou a enaltecer sua identidade, apagada pela elite que dominava o país pré-revolução e só tinha olhos para a Europa. Contratados pelo governo, artistas deram cores aos indígenas, histórias, paisagens e cotidiano em pinturas e murais colossais. Em 1924, novas eleições, e a festa acabou. O novo governo suspendeu a verba e muitos artistas partiram para os Estados Unidos.
Na época, os americanos encontravam-se devastados pela Grande Depressão, tentando reencontrar sua arte. Ao espelharem-se nos muralistas — e não nos europeus — os americanos aprenderam a ilustrar temas sociais e políticos. Enquanto pintores negros como Aaron Douglas e Charles White inspiraram-se na luta pela justiça social retratada pelos mexicanos, o intercâmbio também ocorreu na Cidade do México, onde um grupo de artistas mexicanos e americanos, supervisionados por Rivera, trabalharam juntos nos murais do Abelardo Rodríguez, um mercado central criado nos anos 30 para substituir as feiras de rua.
Nesta mostra, obras de Pollock figuram lado a lado com as de Orozco. Segundo Haskell, a semelhança entre os estilos é tão gritante que mal precisaria de legendas.