Na avaliação dos estrategistas do JP Morgan, parece não haver dúvida: o Ibovespa chegou ao fundo e daqui para a frente o único caminho possível parece ser uma recuperação.

“O Brasil foi mais resiliente do que outros mercados emergentes durante a correção do mercado, potencialmente sinalizando que, nos níveis atuais, o Ibovespa está no seu bottom,” diz o banco num relatório publicado hoje e intitulado, If not the bottom, almost the bottom.

O time de estrategistas para ações da América Latina espera uma reação do Ibovespa no segundo semestre, mas fazendo a ressalva de que há dois riscos: um pouso forçado da economia americana e a “reemergência de preocupações fiscais” no Brasil.

“Acreditamos que o Brasil continua bem posicionado para outperform caso não haja um hard landing nos EUA,” diz o time comandado por Emy Shayo.

“Se tudo der certo, os juros mais baixos nos EUA vão permitir um recuo dos prêmios nos yields brasileiros, resultando em ações mais fortes,” diz o time. “Há uma elevada correlação negativa (0,77) entre os yields brasileiros e as ações.”   

O time macro do JP espera que o Fed corte os juros em 0,5 ponto em setembro e mais 0,5 em novembro. Na sequência, haveria reduções de 0,25 – trazendo a taxa terminal da Fed Funds para 3%, um nível consideravelmente abaixo da faixa atual entre 5,25% e 5,5%.

Já o Brasil deverá manter a Selic estável em 10,5% até meados de 2025, prevê o banco. Com o ciclo de queda de juros nos EUA, crescimento interno mais fraco e “alguma prudência fiscal,” o BC poderá cortar a Selic para 9,5% no segundo semestre do próximo ano.

Neste cenário, os estrategistas dizem que sua preferência entre as ações locais não fica “necessariamente” em setores defensivos, e sim por aqueles “sensíveis a juros,” porque esses “são os que estão mais descontados e deverão ser os mais beneficiados pela redução das apostas de que haverá uma alta na Selic – algo que já começou a acontecer.

“Em outras palavras, considerando que acreditamos que os juros não vão subir, e, na verdade, vão começar a cair em meados de 2025, o upside para os papéis sensíveis a juros deverá ser maior do que o de outros setores,” diz o relatório.

O JP destaca o setor financeiro, que vem reduzindo a inadimplência e entregando ROEs mais elevados.

Outro setor com potencial de alta são as utilities, que vão bem tanto em cenários defensivos como em um ambiente de juros mais baixos.

Apesar dessas predileções, o JP diz que o momento é de ser “um pouco mais agnóstico” em relação a setores.

O banco diz que usa cinco critérios para identificar papéis que podem oferecer bom potencial de alta:

  1. Empresas com dívida líquida/EBITDA estimado para 2024 abaixo de 2x;
  2. Empresas com crescimento saudável (healthy current and quick ratio), indicando a capacidade de honrar as dívidas;
  3. Ações que estão sendo negociadas abaixo de 10x o lucro projetado para 2025 e que tenham expectativa de aumentar os lucros no próximo ano;
  4. Ações que estiveram entre as mais desvalorizadas dos últimos 12 meses;
  5. Papéis que estejam negociando perto de seus preços mais baixos nas últimas 52 semanas.

O banco ressalta que nenhuma das ações listadas atende todos os critérios.

A SLC atende quatro, enquanto Lojas Renner, Hypera, Cogna, Eletrobras, Oceanpact, Ser Educacional e Vale atendem três.