O Santander abriu a temporada de balanços de bancos no Brasil com um lucro acima do esperado e um resultado forte em crédito e na margem com clientes.
O lucro líquido recorrente chegou a R$ 3,9 bilhões no quarto tri, um crescimento de 5,2% em relação ao tri anterior e de 74,9% frente ao mesmo período do ano passado.
O número ficou 3,5% acima do consenso de mercado. No ano, o Santander lucrou R$ 13,9 bilhões, 48% mais do que em 2023.
O ROE aumentou para 17,6% – estava em 12,3% há um ano. O resultado faz a ação subir cerca de 6% hoje, uma das maiores altas do Ibovespa.
O destaque do resultado foi a margem financeira do quarto tri, que aumentou 5% na comparação trimestral e 16% ano contra ano – acima do que esperava o mercado.
Essa alta se deve à expansão da margem com clientes, beneficiada por um menor custo de captação e por um melhor mix de crédito.
Depois de encolher no terceiro tri, a carteira de crédito cresceu 2,6% no trimestre e 6,4% no ano, puxada principalmente pelo crescimento em PMEs, cartões de crédito e no financiamento ao consumidor.
O crescimento da margem com clientes compensou a forte redução da margem com o mercado frente ao terceiro tri (-39%).
Essa piora se deve à alta da Selic. Segundo o Citi, os hedges implementados no trimestre passado devem reduzir a sensibilidade do banco à taxa de juros “gradualmente”
“Apesar do cenário macroeconômico desafiador e das taxas de juros elevadas, o Santander manteve resultados consistentes com boa qualidade de ativos,” escreveu o analista Bernardo Guttmann, da XP.
Para o CEO Mario Leão, o resultado de 2024 mostrou a consolidação da estratégia que o Santander adotou, de aumentar a aposta em segmentos específicos.
“Escolhemos crescer, por exemplo, em PMEs e na financeira. Já no atacado, ano contra ano, caímos. Mas não há sofrimento, pois estamos praticando a disciplina de gestão,” disse.
A dúvida é o que o banco conseguirá entregar neste ano, em meio a um cenário macro difícil.
“Nossa impressão é que o cenário já está se deteriorando, com a expectativa de desaceleração do crescimento da carteira,” escreveu o analista Eduardo Rosman, do BTG.
Mario Leão admite que será mais difícil crescer neste ano, mas não vê uma crise de crédito no radar, nem sinais preocupantes de inadimplência.
No quarto trimestre, a taxa de inadimplência acima de 90 dias ficou em 3,2%, o mesmo número dos dois trimestres anteriores. Já o NPL de 15-90 dias subiu 0,1% e chegou a 3,7%.
“O Santander está pessimista? Não. Mas está atento aos sinais macro? Claro”, disse. “Acho improvável aumentar a carteira em um ritmo maior neste ano, mas teremos crescimento.”
Na sua visão, “o mercado deveria desindexar o crescimento do banco da necessidade de expansão de carteira. Em 2025, vamos crescer mais as linhas de resultado do que o balanço”.
Outro dado para monitorar: com a implementação gradual da regulação 4.966, do CMN, o impacto regulatório para o Santander deve ser de aproximadamente 14 bps no capital em 2025, de acordo com o Citi.