A Renova Energia assinou hoje um aditamento de seu plano de recuperação judicial que vai alongar o vencimento das dívidas e reduzir as taxas — dando fôlego para a geradora de energia cumprir suas obrigações usando a geração de caixa da operação.
O acordo — fechado com os credores de Classe II (basicamente os bancos) — deve permitir que a companhia saia da recuperação judicial nas próximas semanas, cinco anos depois de haver entrado.
“Não existe mais razão para ela continuar em RJ. Ela já cumpriu tudo que precisava cumprir e com esse aditamento deve conseguir pagar com alguma folga o plano de RJ e ainda manter o Alto Sertão III [o último ativo que sobrou dentro dela],” um dos credores disse ao Brazil Journal. “O natural é que ela entre com o pedido para sair em breve.”
A Renova entrou em RJ em 2019 com uma dívida de R$ 3 bilhões. Hoje essa dívida já caiu para perto de R$ 1 bilhão, depois da companhia vender ativos.
Os principais credores agora são o Citi, o Itaú, a Jive (que comprou os créditos que eram do Bradesco), e o BNDES.
O aditamento assinado hoje prevê uma carência de 36 meses para os créditos de classe II. A partir do mês 36, a companhia começará a fazer pagamentos semestrais a uma taxa de IPCA + 5,5% (emulando uma NTN-B).
Com isso, os credores receberão 100% do valor devido — ainda que haja um haircut implícito na taxa, já que numa situação normal um título da Renova deveria pagar muito mais que IPCA + 5,5%.
Localizado na Bahia, o Alto Sertão III é um parque eólico com capacidade de geração de quase 400 MW. O ativo é novo e já está 80% contratado, garantindo um fluxo de caixa previsível pelos próximos anos.
A Renova também tem um pipeline de projetos já aprovados que poderá desenvolver ao longo dos próximos anos — caso tenha acesso a capital — ou vender para outros players do setor.
Apesar da provável saída da RJ, um gestor acha que a ação não deve passar por uma reprecificação tão cedo.
“A ação só vai ter fundamentos para reprecificar se eles tiverem acesso a crédito para executar o pipeline que tem, o que não deve acontecer no curto prazo porque todos os grandes bancos são credores e não vão abrir uma janela tão cedo para eles,” disse ele.
“É uma empresa que tem um charme, é uma das poucas listadas no segmento de energia limpa, e agora com os passivos todos reestruturados e alongados, mas não vejo um destravamento de valor no curto prazo.”
Esse gestor lembra ainda que boa parte da geração de caixa da companhia terá que ser usada nos próximos anos para pagar a dívida.
Com a ação negociando a R$ 1,16, a Renova vale R$ 290 milhões na B3. O papel cai 2,5% nos últimos 12 meses e mais de 95% desde o high em dezembro de 2020.
A Renova, que tem duas classes de ações, é controlada pela Angra Partners, que tem mais de 60% das ações ordinárias. O fundador Renato do Amaral tem outros 13% das ONs.