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A volatilidade exacerbada reflete os movimentos de um mercado que passa pela normalização pós-covid, em meio a enormes incertezas no cenário político e geopolítico, diz o head global de wealth management do Citi, Andy Sieg.

Andy Sieg

“Não estamos prevendo um pouso forçado, mas é um momento de muita incerteza ao redor do mundo,” Sieg disse ao Brazil Journal.

Veterano com mais de três décadas em Wall Street, Sieg chegou ao Citi em setembro, levado pela CEO Jane Fraser. Seu mandato: revigorar a área de wealth management – um negócio que vinha contribuindo marginalmente para os resultados do banco.

No segundo tri, essa área entregou um lucro de US$ 210 milhões, um avanço ante os US$ 84 milhões do mesmo tri de 2023. Mas o lucro total do banco no período foi de US$ 3,2 bi.

Sieg já havia trabalhado no Citi nos anos 2000, mas estava no Bank of America, onde comandava o wealth management desde 2017.

O executivo prevê que haverá mais de US$ 100 trilhões em criação de nova riqueza na próxima década – um fenômeno que, aliado às mudanças demográficas, abre grandes oportunidades de negócios.

“Estamos num momento da história humana que quase se poderia chamar de milagre,” disse Sieg. “O nível de criação de riqueza em todo o mundo não tem precedentes na história da humanidade.”

A seguir, os melhores trechos da conversa:

O que explica o aumento da volatilidade nos mercados?

Os mercados ainda estão se normalizando em um mundo pós-covid. Há diversas forças que contribuem para elevar os níveis de volatilidade e incerteza.

Há questões sobre a sustentabilidade do crescimento econômico, em particular nos EUA. Debates a respeito de o Federal Reserve ter ficado atrás da curva. E temos ainda um momento politicamente importante nos EUA.

Não podemos esquecer que estamos no final do verão nos EUA, uma época em que frequentemente vemos mudanças nos padrões de mercado. A liquidez em certos mercados é um pouco menor.

Em retrospectiva, houve uma reação violenta por causa da redução das operações de carry trade, mas a reação foi provavelmente exagerada.

Nossa equipe de research vê a probabilidade de três reduções até o final do ano, iniciando com uma redução de 0,5 ponto percentual em setembro.

Portanto, não estamos prevendo um pouso forçado. Mas é um momento de muita incerteza ao redor do mundo.

Como os investidores devem reagir a esse cenário?

É um bom momento para dar um passo atrás e pensar sobre a alocação de ativos e refletir sobre quais os objetivos para prazos de 5 ou 10 anos.

Quando esse tipo de turbulência acontece, aconselhamos os clientes a não reagir exageradamente e repensar seus objetivos.

Os mercados acionários subiram bastante e, para alguns clientes, um reequilíbrio pode fazer sentido. Raramente é uma boa estratégia tomar decisões de investimento com base em manchetes sobre política ou geopolítica.

São raros os casos de grandes acontecimentos geopolíticos que tenham ocasionado declínios sustentados no mercado. É muito melhor pensar nos fundamentos.

Mas imagino que haja um grande número de clientes com FOMO (‘fear of missing out’), o medo de ficar de fora de oportunidades na área de inteligência artificial, por exemplo.

Com certeza.

O problema é quando essas duas emoções humanas muito poderosas – medo e ganância – afastam você de uma estratégia sólida de longo prazo.

Aí entra o nosso papel junto aos clientes, que é tentar ponderar os excessos de ambos os lados.

Depois dessa grande valorização nas ações de tecnologia, qual tem sido o sentimento predominante?

Curiosamente, os sentimentos têm se alternado rapidamente entre o medo e a ganância com bastante rapidez.

Há um nível tremendo de interesse dos investidores em inteligência artificial, um desejo de não perder as oportunidades que estão surgindo. Mas vemos também investidores reagindo defensivamente em razão de riscos geopolíticos.

Após a esperada normalização dos juros, qual o cenário-base para as taxas de longo prazo?

Esperamos que os juros do Fed regressem aos níveis de equilíbrio de longo prazo, que são mais ou menos 150 pontos-base acima da inflação. Esse seria um bom ponto de partida para pensar sobre o rumo da normalização.

A maioria dos observadores acha que existem forças deflacionárias ainda em ação, como ganhos tecnológicos e o efeito da demografia.

Mas alguns dos fatores de deflação nos últimos 20 anos podem ter diminuído um pouco. Houve algum recuo na globalização.

Portanto, não esperaríamos que os níveis de inflação voltassem aos níveis vistos antes da covid. Nos EUA, não deveremos ter um mundo de inflação zero, mas também não será nada preocupante.

Falando especificamente de ‘wealth management,’  para onde caminha essa indústria?

Vejo três grandes tendências.

Primeiro, apesar de todo o ruído das manchetes, acredito que estamos num momento da história humana que quase se poderia chamar de milagre. 

O nível de criação de riqueza em todo o mundo não tem precedentes na história da humanidade. Nos próximos dez anos, haverá mais de US$ 100 trilhões em criação de nova riqueza – e este é um fenômeno global.

Além disso, mudanças demográficas impulsionam um movimento de transferência de riqueza através de gerações, algo que supera até mesmo os US$ 100 trilhões em criação de nova riqueza.

Por fim, estamos vendo mudanças sociais relevantes em todo o mundo.

Por exemplo, nos EUA e em alguns outros países as mulheres já controlam mais de metade das decisões financeiras tomadas em nossos negócios.

À medida que mais membros das famílias participam das decisões, as conversas tornam-se mais profundas, tratando do planejamento futuro e da sucessão através de gerações.

Qual será a estratégia do Citi para recuperar terreno nesse mercado?

O Citi possui uma rede global incomparável. Movimentamos US$ 5 trilhões por dia, em todas as moedas do planeta, em basicamente em todos os países.

Se você é uma multinacional e tem uma cadeia de suprimentos global, quase não há alternativa a não ser aproveitar a rede do Citi para garantir que seu negócio funcione bem.

No private banking, por exemplo, 25% dos bilionários do mundo são nossos clientes.

Sabemos que, ao passar mais tempo com nossos clientes e apresentarmos toda a gama de serviços disponíveis, teremos a oportunidade de aprofundar alguns dos relacionamentos.