Nos anos 1970, Paul Samuelson publicou um artigo acadêmico intitulado Challenge to Judgment, no qual o economista e Prêmio Nobel questionava a capacidade dos gestores ativos de superar consistentemente o mercado e propunha que as instituições financeiras criassem fundos que seguissem índices como o S&P 500.

Quem diria que, décadas mais tarde, essa ideia seria vista como um marco para o surgimento dos exchange-traded funds (ETFs), que hoje movimentam mais de US$ 14 trilhões globalmente, com US$ 10 trilhões apenas nos EUA.

Os ETFs representam uma indústria que cresce mais de 20% ao ano desde 2009. Esse crescimento acelerado se deve a fatores como a redução da complexidade ao investir, o acesso facilitado por meio do ambiente da bolsa de valores, a transparência da estrutura, a facilidade de identificar alinhamento de interesses e o baixo custo para o investidor final.

Os first movers deste mercado conseguiram concentrá-lo. Hoje uma tríade de gestoras – BlackRock, Vanguard e State Street – somam sozinhas mais de US$ 7 trilhões do patrimônio total em ETFs, correspondendo a mais de 50% do mercado.

O mercado de ETFs está tão pujante que, este ano, 31 anos após o lançamento do primeiro ETF no mercado americano, o estoque de investimentos passivos superou o volume de produtos ativos, segundo a Morningstar.

Entre 2010 e 2023, os depósitos líquidos em produtos passivos cresceram de 26% para 84% da indústria de fundos de investimento nos EUA, somando entradas de mais de US$ 6 trilhões. Um bom indício de que Samuelson estava com a visão correta: os preços dos ativos têm um comportamento randômico, tornando virtualmente impossível que um investidor supere consistentemente o mercado.

 Contudo, o interessante é que os ETFs estão agora impactando não apenas os produtos passivos, mas também os ativos. Recentemente, uma onda de grandes hedge funds está migrando suas estruturas para ETFs ativos – um reconhecimento da sua melhor eficiência e escalabilidade em comparação com os fundos mútuos tradicionais. Dessa forma, os ETFs começaram a absorver outro mercado, o de fundos ativos, e atualmente o volume total em ETFs ativos se aproxima de US$ 1 trilhão.

O fenômeno já não é mais restrito ao mercado americano, crescendo em outros mercados maduros como o Canadá, Japão e Europa, assim como mercados em expansão, como o Oriente Médio e a Ásia continental, que têm apresentado crescimento dos recursos sob gestão em ETFs de dois dígitos ao ano nos últimos 10 anos.

E o Brasil, como fica nisso tudo?

Passados 20 anos do lançamento do primeiro ETF, o mercado de ETFs cresceu a uma taxa anual de 16% entre 2006 e 2024, alcançando um montante de R$44 bilhões, segundo a Anbima. 

No entanto, esse valor ainda representa menos de 0,5% da indústria de fundos de investimento, que administra mais de R$ 9 trilhões. Entretanto, os sinais dos tremores sísmicos também começam a reverberar aqui. As novas Instruções 175 e 179 da Comissão de Valores Mobiliários visam promover maior transparência nos produtos financeiros, característica que os ETFs já apresentam em sua concepção.

Além disso, a crescente adoção do modelo fee-based pelos assessores de investimentos, mais alinhado aos interesses dos clientes, deve impulsionar a adoção dos ETFs, replicando o movimento observado nos EUA na última década. Esse impulso e a popularização dos ETFs ocorrem porque os gestores conseguem criar soluções personalizadas que atendem com eficiência e escalabilidade as necessidades específicas de diferentes tipos de clientes.

Samuelson escreveu sobre fundos de índices há mais de cinco décadas, e só agora começamos a observar essa transformação no mercado brasileiro. Há uma tendência estrutural em curso, tanto globalmente quanto no Brasil, em direção a mais transparência, liquidez e democratização do acesso aos investimentos.

Os investidores brasileiros estarão prontos para abraçar essa mudança e aproveitar as vantagens oferecidas pelos ETFs? Acreditamos que sim. A evolução regulatória, a crescente educação financeira e o alinhamento com tendências globais são fortes indicativos de que o investidor brasileiro está cada vez mais preparado para adotar os ETFs como ferramentas de investimento inovadoras.

Andrés Kikuchi é diretor executivo da Nu Asset Management. Pedro Lula Mota é gestor de portfólios na mesma instituição.