A rede de farmácias CVS está em negociações para comprar a seguradora de saúde Aetna.

O que poderia parecer um casamento de pato com avestruz — como se a Raia Drogasil comprasse a Sul América — faz todo sentido no mercado americano, onde farmácias e seguradoras têm relação cada vez próxima. Nos Estados Unidos, os planos de saúde cobrem parte dos gastos com remédios; com os medicamentos cada vez mais complexos e caros, a gestão desses custos virou um negócio.

De acordo com o The Wall Street Journal, que reportou a notícia em primeira mão, a CVS estaria disposta a pagar US$ 200 por ação da Aetna, avaliando a companhia em US$ 66 bilhões.

É um prêmio significativo frente ao valor em Bolsa. Mesmo após a alta de mais 10% que se seguiu ao furo do Journal, os papéis fecharam ontem a US$ 178,69.

A notícia sobre as negociações vem em meio a temores de que o varejo farmacêutico pode ser o próximo segmento a ser chacoalhado pela Amazon. A Amazon acaba de receber autorização de 12 Estados americanos para atuar como distribuidora de medicamentos — e a notícia foi suficiente para derrubar as ações das empresas do setor.

A CVS deixou de ser uma simples rede de farmácias em 2006, quando comprou a Caremark, então a maior administradora de planos de benefícios farmacêuticos (PBM, na sigla em inglês) nos Estados Unidos.  As PBMs (que não existem no Brasil na mesma escala que nos EUA) administram os custos de remédios dos planos de saúde e grandes empregadores, que arcam por parte do custo do tratamento. 

Seu poder é grande: as PBMs têm listas dos remédios de preferência. Sem a inclusão nessas listas, as seguradoras não cobrem e, portanto, os médicos não receitam – diminuindo o faturamento da indústria.

Hoje, a CVS fatura US$ 61 bilhões com seu varejo e outros US$ 35 bilhões com medicamentos que exigem receita.

Com a Aetna, a CVS poderia trazer um grande volume de novos clientes para seu PBM – além, é claro, de mais consumidores para suas lojas.

Nesse sentido, a nova companhia seria mais próxima da UnitedHealth, a maior seguradora de saúde americana e que conta com um braço de gestão de serviços farmacêuticos, a Optum.

Com a compra da MinuteClinic há mais de dez anos, a CVS também passou a atuar no segmento de clínicas de atendimento rápido (associadas a suas farmácias), e poderia credenciar essa rede para oferecer um serviço de benefícios de saúde para grandes empregadores, os atuais clientes da Aetna. Outra vantagem da união seria um banco de dados de saúde grande e diversificado, um grande ativo nos dias de hoje.

Para a Aetna, o negócio traz uma mudança de direção depois da tentativa frustrada de compra da concorrente Humana, em 2015. A seguradora ofereceu US$ 34 bilhões pela rival, mas o negócio foi vetado pelo regulador por preocupações concorrenciais.