A Perfin Infra vai investir até R$ 450 milhões na VirtuGNL — a empresa que está tentando substituir o diesel pelo gás natural liquefeito (GNL) como combustível para caminhões de transporte de carga.
O investimento está sendo feito por meio de uma debênture conversível em ações, que pode ser convertida a qualquer momento a critério da Perfin Infra, um braço do grupo Perfin, de Ralph Rosenberg.
A gestora especializada em infraestrutura e energia — que tem mais de R$ 15 bilhões em ativos sob gestão — vai alocar R$ 100 milhões de imediato, e o restante conforme a necessidade da VirtuGNL e dependendo do atingimento de algumas metas.
Com o investimento, a Perfin vai ficar com metade do capital da VirtuGNL e ganhar três assentos no conselho, que também tem outras três pessoas da família fundadora, liderada por José de Moura Jr., o CEO e chairman.
A Perfin também terá o direito de indicar parte do quadro executivo.
Fundada em 2019, a VirtuGNL nasceu para suprir uma demanda da Eneva: o transporte do gás que ela extraía do campo de Azulão até sua usina em Jaguatirica.
Para isso, as duas empresas criaram uma joint venture para comprar caminhões movidos a GNL, que coletam o gás e o transportam até o destino final. Essa JV também tem feito o transporte de gás para dois clientes da Eneva: a Vale e a Suzano.
Mas em vez de transportar apenas o próprio GNL para grandes clientes, o plano da VirtuGNL é bem mais ambicioso.
A companhia quer transportar qualquer tipo de mercadoria — usando os caminhões movidos a GNL. Para isso, vai criar uma infraestrutura completa de abastecimento e transporte, atendendo diversos outros clientes e desenvolvendo este mercado no Brasil.
O primeiro projeto deste tipo começou a funcionar semana passada: a VirtuGNL foi contratada pela Yara Brasil para levar seus fertilizantes do porto de São Luís, onde a Yara tem uma fábrica, até a cidade de Balsas, no Maranhão, de onde a própria VirtuGNL fará a última milha para os produtores rurais.
Para os clientes, o grande benefício do transporte por caminhões movidos a GNL — em vez de diesel — é a redução nas emissões de CO² e gases tóxicos (mantendo o mesmo custo logístico).
A estimativa da empresa é que a redução nas emissões de CO² seja da ordem de 30%, e de 95% para os gases tóxicos.
Com o uso do chamado ‘bioGNL’ — o gás natural liquefeito produzido a partir de aterros sanitários e resíduos — a redução nas emissões pode chegar a até 90%, caso 100% do GNL seja bioGNL. (É possível misturar o bioGNL ao GNL tradicional, dependendo da demanda de descarbonização do cliente).
Moura disse ao Brazil Journal que o plano da VirtuGNL é verticalizar toda a cadeia, operando em todas as etapas da jornada.
“Nós compramos a molécula, transportamos para nossas centrais de descarbonização rodoviária (CDRs), que é como se fosse um posto de abastecimento, e também compramos os caminhões e as carretas para fazer o transporte,” disse ele. “Quem nos contrata não está contratando uma empresa de logística, mas uma empresa que cuida de toda a cadeia.”
Carolina Rocha, a sócia e COO da Perfin, disse que a substituição do diesel pelo GNL é extremamente necessária para a descarbonização.
“Essa é uma solução que já é muito importante fora do Brasil. Temos os recursos aqui, então não faz sentido não aproveitarmos,” disse ela. “A VirtuGNL é um negócio que já tem uma sustentação, que já é viável por si só – mas vamos contribuir para ele dar ainda mais certo, tanto do ponto de vista financeiro quanto de execução e governança.”
No Brasil, a VirtuGNL está criando esse mercado do zero — tendo inclusive que trabalhar junto com a ANP para desenvolver as regulações específicas.
Em outros países, no entanto, a logística com GNL já é uma realidade há décadas.
Para se ter uma ideia, enquanto a frota de caminhões movidos a gás é de apenas 1.300 no Brasil (dos quais 150 são da VirtuGNL), na Europa a frota é de mais de 470 mil.
Na China, já são mais de 800 mil caminhões rodando com GNL.
A meta de Moura é comprar mais 550 caminhões este ano, chegando a uma frota de 700, e adquirir outros 800 em 2026, passando a deter metade da frota brasileira.
A companhia também está finalizando a construção de suas três primeiras centrais de descarbonização rodoviária (CDRs) – na prática, postos de abastecimento para sua frota de caminhão que, no futuro, abastecerão também veículos de outras empresas.
A primeira CDR ficará pronta em março; as outras duas, em abril. A VirtuGNL tem planos de chegar a 36 desses postos até 2031, criando o que chama de um ‘corredor verde’ no Brasil.
Segundo Moura, o investimento na compra de cada caminhão gira em torno de R$ 1 milhão, cerca de 20% a mais que um caminhão movido a diesel. Já o capex para cada CDR é de cerca de R$ 25 milhões.
Para este ano, a projeção da empresa é investir R$ 700 milhões, um capex que vai subir para R$ 1,5 bilhão em 2026.
Os recursos da Perfin vão ajudar a executar esse capex robusto, mas boa parte do investimento terá que ser feito com a emissão de dívida. Moura disse que a VirtuGNL já está em conversas com bancos como o BNDES e BRB para captar os recursos necessários.
Para viabilizar a expansão acelerada, a VirtuGNL também está ampliando seu contrato de compra de GNL com a Eneva, passando dos atuais 35 mil nm³/dia para 150 mil nm³/dia. O contrato tem duração de 10 anos e vai garantir combustível suficiente para a VirtuGNL rodar 700 caminhões por dia.
A VirtuGNL foi assessorada pela Inspire Capital Partners.
A Perfin não teve assessor financeiro.