A Raízen reportou mais um trimestre fraco, afetado por um cenário desafiador no mercado de etanol e açúcar e itens não-recorrentes que impactaram diretamente o bottom line.
Mas depois de três meses na cadeira, o CEO Nelson Gomes está preparando uma mudança relevante na estratégia — com ganhos de eficiência, redução do capex e desinvestimentos que devem aparecer no próximo ano-safra, que começa em abril.
No terceiro tri do ano-safra 2024/2025, a Raízen reportou um EBITDA ajustado de R$ 3,1 bilhões, 20% menor que o do mesmo período do ciclo anterior. O prejuízo foi de R$ 2,6 bi, em comparação a um lucro de R$ 793 milhões um ano atrás.
A companhia teve ainda uma queima de caixa de R$ 651 milhões no período.
O resultado trouxe alguns itens não-recorrentes relacionados à reestruturação do negócio: a Raízen provisionou R$ 1 bilhão no trimestre em função da reestruturação em andamento, incluindo efeitos da otimização do quadro de funcionários, a saída de alguns negócios e a revisão de marcação a mercado de contratos futuros de etanol e açúcar.
“Tivemos o impacto dos incêndios na moagem, que afetaram bastante o negócio porque tem menos produto, mix pior e uma diluição de custo aquém do esperado. A área de trading, que costuma dar resultados consistentes, também não teve uma boa performance,” o CFO Rafael Bergman disse ao Brazil Journal. “O quarto tri [do ano safra] também não deve ser forte, ainda mais porque concentramos a maior parte das vendas até o terceiro tri. Mas esse ano vai deixar a gente pronto para um novo ciclo da companhia.”
De sua criação em 2011 e até por volta de 2016, a Raízen focou na integração de seus ativos e na otimização dos resultados. Depois, de 2017 até o ano passado, focou no crescimento: fez inúmeros M&As e entrou em novos mercados, como o etanol de segunda geração.
Agora, o CEO Nelson Gomes diz que a companhia está entrando num terceiro ciclo, “onde estamos fazendo um ajuste na estratégia para voltarmos a focar no core business. Temos que simplificar as nossas operações e nos afastar da complexidade de diversos negócios. Vamos reduzir o portfólio e simplificar.”
Como parte do turnaround, a Raízen dividiu sua operação em três áreas de negócio: a chamada EAB (produção e venda de etanol, açúcar e bioenergia), e duas operações de Mobilidade (a distribuição de combustível no Brasil e na Argentina).
Na sexta-feira, a companhia anunciou a contratação de Geovane Dilkin Consul, o ex-CEO da BP Bunge Bioenergia – uma joint venture entre a Bunge e a BP – para liderar o EAB.
A Raízen também está avançando na venda de ativos, incluindo um número ainda indeterminado de suas 35 usinas de etanol e açúcar. A ideia é vender plantas que não estejam dentro dos clusters geográficos que geram ganhos de escala e eficiência e que possam fazer mais sentido para outros players com operações naquelas áreas. A companhia anunciou recentemente a venda de quase 1 milhão de toneladas de cana e a hibernação de uma de suas usinas, num processo que busca otimizar as operações.
A empresa também está diminuindo o escopo de atuação da sua trading, passando a focar na maximização do valor de sua produção de etanol e açúcar e na originação competitiva de combustíveis para sua rede de postos – o escopo original da trading.
Outra frente de trabalho: uma redução “substancial” do capex.
Bergman disse que o plano para o próximo ano-safra é manter apenas dois investimentos em expansão: as duas plantas de etanol de segunda geração que já estavam em construção (e não faria sentido parar no meio), e a conclusão dos investimentos na refinaria que a empresa tem na Argentina, que vai ajudar a melhorar o mix de produtos naquele país.
Segundo ele, os investimentos nas duas plantas de E2G já estão 50% feitos, e o investimento na Argentina, 66% executado.
Na distribuição de combustíveis no Brasil, a ideia é manter o nível de capex dos últimos anos para “proteger e blindar essa rede de postos premium que temos,” mas sem grandes novos investimentos em expansão, disse Nelson.
No ano fiscal que está terminando, o capex desta vertical foi da ordem de R$ 1 bilhão.
“Esses vão ser os únicos investimentos em crescimento que estamos aprovando daqui para frente,” disse o CEO. “Nosso foco agora é operar bem e digerir os investimentos que fizemos nos últimos anos, gerando sinergia e integração, e tirar do portfólio o que não faz sentido, reduzindo nosso endividamento.”
Hoje a dívida líquida da Raízen soma R$ 38,6 bilhões, com uma alavancagem de 3x o EBITDA ajustado. Os juros dessa dívida têm gerado despesas financeiras da ordem de R$ 6 bilhões/ano, o que tem impedido que a companhia gere caixa.