Nos últimos anos, o principal tema de discussão entre os investidores de Localiza tem sido a depreciação — que aumentou significativamente desde a pandemia, consumindo parte importante do lucro da locadora de carros. 

De 2014 até 2021, a depreciação ficava entre 4% a 5% da receita líquida de Localiza. Em 2022, o número saltou para 8%, e subiu ainda mais em 2023 (13%) e 2024 (15%).

No primeiro tri deste ano, o número caiu um pouco mas permanece bem acima da média histórica — 11% contra uma média de 7%.

O analista Lucas Marquiori, do BTG, decidiu se debruçar sobre os motivos da alta na depreciação e, num relatório publicado hoje, elencou o que considera os cinco principais — e apontou o que precisaria mudar para a depreciação ter uma queda mais acentuada.

A primeira coisa que mudou, segundo ele, foram as condições de compra das locadoras.

“Durante a pandemia, com oferta limitada de carros e aumento nos preços, as montadoras passaram a focar mais nos clientes do varejo, que geram margens de lucro maiores,” diz o relatório.

Isso levou a descontos menores para as locadoras, aumentando o gap entre o preço de compra e de venda.

Mas de uns tempos para cá, “as locadoras vêm melhorando consistentemente suas condições de compra com as montadoras, conseguindo descontos semelhantes ou até superiores aos do período pré-pandemia.”

A segunda pedra no caminho da Localiza é a idade média de sua frota, que cresceu nos últimos anos.

“Conseguir vender carros por um preço melhor geralmente significa vender veículos mais novos. Mas isso é mais fácil falar do que fazer,” diz Marchiori. “Vender carros mais cedo ou com menos tempo de uso exige uma capacidade de escala de vendas de seminovos para lidar com um volume maior. Além disso, acelerar as vendas de seminovos em um mercado claramente em baixa é um grande desafio.”

Segundo o analista, para a Localiza reduzir a idade média de sua frota ela teria que vender 350 mil veículos por ano, enquanto o ritmo atual é de cerca de 320 mil. “Enquanto a idade da frota continuar alta, uma depreciação menor parece algo distante.”

Outro fator que precisa mudar é a composição dos canais de venda de seminovos da Localiza. 

Historicamente, a empresa das famílias Mattar e Resende vendia a maior parte de seus carros usados no varejo, onde consegue melhores preços.

“Nos últimos anos, no entanto, a participação das vendas no atacado cresceu significativamente. Retomar uma distribuição mais equilibrada entre os canais de varejo e atacado é um fator importante para uma depreciação estruturalmente menor.”

Segundo o BTG, o desafio para mudar essa composição está em preparar os carros para a venda (já que carros vendidos ao varejo exigem uma preparação maior) e ampliar o número de lojas. 

Por fim, há ainda um fator macro por trás da alta da depreciação: o aumento do preço médio dos carros no Brasil.

O BTG nota que durante a pandemia os preços dos carros dispararam a níveis recordes, o que acabou reduzindo o mercado endereçável total.

“A retomada de níveis mais acessíveis de preços melhoraria a acessibilidade dos produtos e ampliaria o mercado endereçável da Localiza para venda de seus veículos.”

O BTG disse ainda que o tamanho da Localiza no mercado de usados é outro fator que dificulta as vendas de usados. “Mas acreditamos que esse último tópico é mais uma consequência do que uma causa.”