Pedro Andrade – o fundador e diretor criativo das marcas Piet (de streetwear brasileiro) e P. Andrade (moda contemporânea de luxo) – vive um ano de aclamação global.
Depois de estrear a P. Andrade (e o Brasil) na Semana de Moda Masculina de Paris, ele acaba de entrar na BoF 500, a lista anual do Business of Fashion, o veículo britânico que já rivaliza em relevância com a Vogue e reconhece as figuras mais influentes da moda.
Os outros brasileiros contemplados pela BoF este ano foram: Katia Barros, a co-fundadora e diretora criativa da Farm Rio; George Krakowiak, estilista da Streeters; e os fotógrafos Marcos Florentino e Kelvin Yule, da Mar+Vin.
Com as nomeações de hoje, 38 brasileiros já foram entronizados na lista, uma espécie de hall of fame da indústria da moda – incluindo Gisele Bundchen (member since 2013), Alexandre Birman (since 2017), Roberto Jatahy (since 2023) e Airon Martin (desde o ano passado).
“Este foi um ano em que tudo aconteceu de uma vez,” Pedro disse ao Brazil Journal. “É o resultado de um planejamento muito cuidadoso de internacionalização que fizemos.”
Pedro disse que sempre viu a moda brasileira como uma ilha, seja por questões geográficas, sazonalidade ou comportamentos socioculturais. Então, no lugar de tentar importar a moda de outros lugares, decidiu pesquisar e exportar um Brasil original, escondido e “até estranho”.
Colaborações com marcas como Nike e Oakley ajudaram a colocar Pedro no mapa, assim como a precoce atenção que ganhou da mídia internacional.
A partir disso, ele e sua parceira profissional e de vida, a também estilista Paula Kim, se prepararam para dar o salto: contrataram um PR internacional, criaram um supply chain confiável, montaram showrooms lá fora e, principalmente, passaram a viajar o mundo levando e trazendo moda.
Se hoje é normal ver jovens europeus trajados com uma estética brasileira – óculos de sol da Oakley, tênis Nike Shox 12 molas e a camisa 9 que o Ronaldo usou na Copa de 1998 – Pedro tem mão nisso.
“Há cinco anos fizemos a nossa primeira coleção junto com a Oakley e ajudamos a pavimentar essa imagem do streetwear nacional que ganhou o mundo,” disse. “Pode soar egocêntrico, mas me sinto responsável.”
Nada mal para um outsider.
Um filho de Araçatuba, Pedro começou a desenhar cedo e sonhava em ser um designer de calçados.
Com essa ideia na cabeça, mudou-se para São Paulo e conseguiu uma bolsa para estudar design industrial no Senac, mas logo entendeu como a vida na cidade era cara.
Fez frilas de ilustração e estagiou em uma marcenaria para se manter – até que, em 2012, investiu os R$ 2,5 mil que tinha para começar a produzir camisetas com seus desenhos. Nascia a Piet.
Pedro criou um Instagram para vender online – before it was a thing – e entregar onde fosse necessário: na faculdade, na catraca do metrô…
Estourou.
A Piet, que já sustentava Pedro no seu último ano de estudos, emergiu como uma pioneira da moda street brasileira e não demorou a chamar atenção de publicações gringas, artistas como Marcelo D2 e grandes marcas interessadas em collabs.
Da internet, a Piet ganhou uma pop-up shop no Bom Retiro em 2017 e, no ano passado, uma flagship no Jardins.
Em 2019, com a marca se consolidando, Pedro chegou a questionar seu trabalho como designer. Sua coleção Uniforms foi muito bem recebida, mas fugia da temática de streetwear que o levou até ali.
Deste conflito, dois anos depois nasceu a P. Andrade, que o estilista caracteriza como um laboratório de inovação – que trabalha no desenvolvimento de matérias têxteis, técnicas avançadas de tingimento – e cujo produto final é uma marca de luxo contemporânea.
“O ponto de convergência é o olhar único para o Brasil, mas são marcas muito diferentes,” disse. “A Piet, como pioneira do streetwear nacional, precisa conversar com as pessoas e ter um preço que o jovem possa pagar. A P. Andrade é sobre tecnologia e sustentabilidade.”
Desde então, Pedro foi nomeado como uma das promessas da moda pela HYPEBEAST em sua lista “Next 100” e apontado como um dos 16 designers mais empolgantes do mundo pela GQ.
O sucesso (naturalmente) atraiu haters e copycats, alguns dos quais ele responde na internet.
“Algumas marcas se inspiram na gente e está tudo certo, estar na Semana de Moda de Paris te coloca em um lugar de criador de tendências. Mas outra coisa é uma empresa de fast fashion sequestrar nosso design e lucrar em cima dele,” disse.
Cerca de 80% da operação e das vendas P. Andrade estão no exterior, enquanto a Piet ainda é mais consumida no Brasil. No entanto, a Ásia – com destaque para a China – deve ultrapassar o País nos próximos dois anos.
Os chineses “estão dispostos a vestir itens únicos e a pagar mais por roupas de uma marca brasileira,” disse Pedro. “Eles gostam muito do nosso trabalho, a ponto de me pararem na rua para tirar fotos.”
Em termos de produção, 90% das roupas da Piet têm insumos brasileiros e são fabricadas no País, mas a China e o Paquistão também já concentram uma parte da manufatura. A marca estuda, para o futuro, adotar uma estratégia local for local.
No caso da P. Andrade, a maior parte dos insumos é importada da Itália e do Japão e a produção é totalmente nacional.