Todas as categorias do varejo (umas mais, outras menos) já são impactadas pelo ‘efeito Amazon’ há anos. Mais recentemente, varejistas de alimentos que brigam por preço — como a Lidl e o Aldi — estão entrando nos EUA, e uma pesquisa da Bloomberg feita no meio do ano descobriu que o Aldi consegue cobrar em média 20% menos que o Wal-Mart. Espremido por todos os lados, o até ontem inquestionável rei do preço baixo tem respondido flexionando ainda mais seus músculos em preço, agravando a espiral deflacionária.
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O supermercado hi-tech da Amazon não tem filas. Nem caixas
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A Amazon está começando a mostrar ao mundo um novo conceito de loja ‘hi-tech’ que vai obrigar o varejo tradicional a investir ainda mais em inovação — sob pena de se juntar aos dinossauros — e abalar ainda mais as certezas estabelecidas sobre a hegemonia do e-commerce.
A primeira loja do novo conceito, chamado Amazon Go, fica no centro de Seattle — a cidade natal da Amazon — e abrirá ao público no início de 2017. A loja se parece com um minimercado — um misto de padaria com delicatessen — mas em vez de caixas registradoras, a Amazon cobra pelas compras usando um aplicativo gratuito que o cliente baixa em seu celular.
O aplicativo reconhece quando o cliente tirou uma mercadoria da prateleira e a colocou no carrinho. E se ele muda de ideia e põe o produto de volta na gôndola, o item sai do carrinho virtual.
Num vídeo apresentando o novo conceito, a Amazon diz: “Quatro anos atrás, começamos a nos perguntar como seria fazer compras se você pudesse entrar numa loja, pegar o que quer, e simplesmente sair. E se conseguíssemos embutir as mais avançadas tecnologias de ‘machine learning’, ‘computer vision’ e inteligência artificial na própria estrutura da loja, de forma que você nunca mais precisasse ficar na fila? Sem fila. Sem checkout. Sem caixas. Bem-vindo à Amazon Go.” (Assista ao vídeo abaixo)
De acordo com o The Wall Street Journal, o Amazon Go é um de três formatos diferentes de lojas físicas que a Amazon está testando. Os outros dois formatos (ainda não revelados) seriam ainda maiores. Num deles, o cliente faz a compra online (de casa) e vai até a loja apenas para pegar as mercadorias. No outro, que está sendo chamado de multiformato, o cliente pode tanto fazer a compra na loja quanto apenas passar lá para fazer o ‘pickup’ — além de poder encomendar outros itens por meio de terminais ‘touch screen’.
Segundo o Journal, citando fontes anônimas, a Amazon pode abrir mais de 2.000 supermercados na próxima década, dependendo do sucesso dos novos formatos. A Amazon já vende alimentos desde 2007 por meio de sua subsidiária Amazon Fresh: o cliente compra online e a Amazon entrega a domicílio. E assim como muitos supermercados, a companhia está tentando expandir seu negócio de marcas próprias (‘private label’).
Para o consumidor, a chegada da Amazon Go é nada menos que sensacional. Mas para os concorrentes, a notícia é assustadora. A Amazon começa a concretizar sua ambição no varejo físico num momento em que os supermercados nos EUA se tornaram um jogo de rouba-monte: as margens estão desabando em meio a uma deflação de preços sem precedentes.
A inovação da Amazon mostra que as fronteiras entre o e-commerce e as lojas físicas estão evaporando.
No final de novembro, o Alibaba pagou cerca de US$ 300 milhões por uma participação de 32% na Sanjiang Shopping Club, uma rede chinesa de supermercados de 160 lojas. A companhia de Jack Ma disse que a Sanjiang era atraente — pasme — por sua ‘extensa rede offline e experiência administrando lojas de varejo’.
No ano passado, o Alibaba já havia comprado 20% da Suning — a Via Varejo da China, com 1.600 lojas — por US$ 4,6 bilhões.
Essas aquisições — bem como a Amazon Go — parecem indicar duas coisas. Por um lado, que o e-commerce puro provavelmente não vai dominar o mundo — ao contrário do que alguns exercícios de futurologia sugerem. Por outro, que o varejo tradicional não pode ficar como está, com um nível de serviço geralmente sofrível e custos de transação altíssimos. Um modelo híbrido está nascendo.