A ação do Julius Baer está sob forte pressão nos últimos dias depois que o private bank revelou uma exposição de quase US$ 700 milhões em créditos para a Signa Holding, um conglomerado austríaco que pediu recuperação judicial na semana passada.
A exposição é de longe a maior do portfólio de crédito privado do Julius Baer, que soma apenas US$ 1,6 bilhão para 22 clientes.
Nesse negócio, o banco faz empréstimos a seus clientes tomando ativos como garantia. No caso da Signa, o empréstimo foi para seu fundador, René Benko, e tinha como colateral alguns edifícios comerciais e lojas detidas pela Signa.
As ações do banco suíço caíram praticamente todos os dias da semana passada, mas estabilizaram sexta e hoje. No total, o Julius Baer perdeu quase 20% de seu valor de mercado.
No mês passado, o Julius Baer já havia provisionado cerca de US$ 80 milhões para cobrir o que chamou de “o risco de um único cliente no portfólio de crédito privado.”
Agora, analistas esperam que o banco tenha que fazer novas provisões, o que deve afetar os resultados deste ano.
O Vontobel é o mais agressivo em suas projeções, prevendo que o Julius Baer terá que provisionar 50% de sua exposição à Signa — ou US$ 340 milhões. O Morgan Stanley, mais otimista, disse que espera novas provisões de cerca de US$ 60 milhões no ano que vem.
O debacle da Signa teve a ver com a expansão desenfreada da holding nos últimos anos. René, o controlador, se aproveitou das taxas de juros extremamente baixas — e até negativas — para tomar empréstimos e expandir seu portfólio. Nos últimos anos, a holding investiu na rede de lojas de departamento Globus, na Selfridges de Londres, e até no Chrysler Building, em Manhattan.
Quando a maré baixou, a Signa estava nadando pelada.
A companhia acumulou uma dívida gigantesca — estimada em mais de US$ 14 bilhões — e passou a ter dificuldades para pagar esses empréstimos depois que os juros subiram nos últimos 18 meses. A companhia tentou negociar (sem sucesso) com seus credores, e agora entrou com o pedido de RJ.
A Signa está longe de ser a única empresa do setor imobiliário europeu que sofreu nos últimos meses. Na Suécia, a SBB — uma das maiores do setor — também tem enfrentado dificuldades para pagar sua dívida líquida, hoje equivalente a 66% do valor de seu portfólio. A ação despencou mais de 80% desde o pico em 2021, com a empresa perdendo US$ 15 bi em valor de mercado.
Apesar do baque para o Julius Baer, o banco tem bastante capital para suportar um cenário de estresse e absorver as potenciais perdas.
O banco disse que tem uma posição de capital “forte” com um CET1 capital ratio — o índice de Basileia — de 16,1% no final de outubro, bem acima do limite de 11%.
Segundo o banco, mesmo num cenário hipotético de perda total de sua exposição à Signa, o CET1 ratio ainda seria maior que 14%, “o que significa que continuaríamos com uma lucratividade significativa.”
“O Julius Baer é muito bem capitalizado e tem sido lucrativo de forma constante em todas as circunstâncias,” o CEO Philipp Rickenbacher disse num comunicado. “Nos arrependemos que uma única exposição levou à recente incerteza para nossos stakeholders.”
O Deutsche Bank reverberou essa visão num relatório. O banco concorda que o Julius Baer tem condições de absorver as perdas e “ainda manter um dividend yield estável em 6% e continuar com seu programa de recompras”, mas “o mais importante é agir de forma decisiva e garantir que este seja um caso isolado que não vai se repetir.”
A ação do Julius Baer agora negocia a 7,6x o lucro esperado para o ano que vem, comparado à sua média histórica de 10x.
O banco vale US$ 10 bilhões na Bolsa da Suíça.