Se você tem filhos entre 5 e 12 anos, é bem possível que já tenha ouvido um pedido que começa assim: “Eu quero um Labubu…”

A nova bolha do verão americano não é cripto. É brinquedo.

E se você nunca ouviu falar deles, prepare-se: os bonequinhos de dentes afiados e orelhas pontudas estão se tornando o item mais cobiçado do planeta infantil.

Por trás da febre está a Pop Mart, uma varejista chinesa que viu seu valor de mercado ultrapassar os US$ 40 bilhões, com lucros previstos para crescer mais de 350% no primeiro semestre deste ano. 

A companhia já vale mais do que a Hasbro e a Mattel juntas.

A ascensão meteórica dos Labubus, criados em 2015 pelo artista belga-chinês Kasing Lung e inspirados no folclore nórdico, é um manual moderno de como transformar um brinquedo comum em objeto de desejo premium: um ‘bem de Veblen’, na linguagem econômica, cujo valor cresce justamente por ser caro, raro e cobiçado.

Para alguns, também é uma bolha prestes a estourar. A semelhança com os Beanie Babies dos anos 90 não é mera coincidência.

Oficialmente, um Labubu custa cerca de US$ 30. Mas tentar comprar um no varejo depende de sorte, paciência e informação privilegiada.

É preciso se cadastrar no app da Pop Mart, tornar-se membro, escolher uma loja e esperar a abertura secreta de uma janela de compras. Uma vez comprado, o produto só pode ser retirado presencialmente em horário específico, e esperar na fila.

No mercado secundário, os preços explodiram. Um exemplar raro da linha Three Wise Labubu foi leiloado na Sotheby’s por US$ 28.300. Um Labubu em tamanho humano foi arrematado na China por US$ 150 mil. Uma colaboração com a Vans chegou a US$ 10 mil no eBay.

A mecânica lembra a de um cassino: os bonecos são vendidos em blind boxes, caixas lacradas que escondem qual modelo o comprador vai receber. Há uma chance em 72 de tirar um “Labubu secreto”. O apelo da exclusividade incentiva compras repetidas, num comportamento comparado ao vício em jogos.

A demanda gerou filas em frente às lojas da Pop Mart, brigas entre colecionadores e um mercado de falsificações que floresce em lugares como a Canal Street, em Nova York, e a 25 de Março, onde os “Lafufus” – ou “Tribufus”, no Brasil – são vendidos por US$ 20 e R$ 50, respectivamente. Já houve relatos de Labubus roubados de bolsas, pedidos de seguro para transporte internacional e campanhas no GoFundMe para recuperar bonecos perdidos.

O hype também chegou ao mercado de luxo. A Louis Vuitton lançou uma coleção de charms “inspirados” na estética dos Labubus, com preços acima de 1.300 dólares.

A Pop Mart, que era pouco conhecida no Ocidente, abriu capital em Hong Kong em 2020. De lá para cá, seu valor de mercado subiu quase 600%.

Hoje a empresa opera mais de 2 mil pontos de venda  (incluindo vending machines) em mais de 20 países. Quase 40% da receita já vem de fora da China.

Celebridades como Kim Kardashian, Dua Lipa e Lisa ajudaram a impulsionar o fenômeno no Ocidente. No TikTok, vídeos de unboxing acumulam dezenas de milhões de visualizações.

Com margem bruta acima de 67%, a Pop Mart é uma das empresas chinesas mais lucrativas com presença internacional, superando Miniso (45%), Xiaomi e BYD (ambas abaixo de 25%).

No centro da operação está Wang Ning, o fundador de 38 anos com fortuna estimada em US$ 21 bilhões. Foi ele quem licenciou os direitos da obra de Kasing Lung e transformou arte em produto escalável, desejo em lucro e brinquedo em ativo.

Para quem viveu os anos 90, o déjà vu é imediato. Os Beanie Babies também começaram como brinquedos baratos que viraram objeto de culto. No auge da bolha, alguns modelos chegaram a valer milhares de dólares. Depois, sumiram das manchetes e das prateleiras.

O paralelo é inevitável. Embora os primeiros modelos dos Labubus devam manter valor de revenda, o mercado já dá sinais de alerta. As ações da Pop Mart caíram 6% após a divulgação de um guidance otimista. Analistas começam a discutir se a empresa está supervalorizada.

O risco maior? O hype não se sustentar. Ou pior, a criança enjoar. 

Se a febre passar, os Labubus podem virar uma nota de rodapé do varejo. Mas se resistirem, como Hello Kitty ou Pikachu, têm tudo para se tornar ícones definitivos da cultura pop.

Minha filha de 5 anos pediu um. Corri feito Arnold Schwarzenegger em Um Herói de Brinquedo tentando encontrar. Ofereci parecidos, tentei negociar. Paguei prêmio. Uma semana depois, ela esqueceu do boneco.

Kaio Philipe é CMO do Banco Inter.