John Kennedy disse certa vez que “precisamos achar tempo para parar e agradecer as pessoas que fazem diferença na nossa vida.”

Hoje perdemos Eduardo Guardia, nosso mentor e amigo querido.

Na vida pública e privada, Eduardo teceu uma carreira repleta de grandes êxitos e contribuições duradouras. Ocupou os cargos mais sêniores da fazenda pública nos níveis federal e estadual, incluindo o de Ministro, e teve envolvimento direto na formulação e implementação das Leis de Responsabilidade Fiscal e do Teto de Gastos – o que faz dele  um dos construtores do arcabouço institucional de finanças públicas no Brasil.

Sua garra e articulação ajudaram a materializar a fusão entre a BM&F Bovespa e a Cetip em 2016, e, como CEO da BTG Asset Management desde 2019, Eduardo distinguiu-se entre os grandes executivos da nossa geração.

Mas mais importante – e impressionante – que tudo isso foi a forma como Eduardo liderou equipes, estimulando e orientando colaboradores para amplificar o impacto das entregas e, ao mesmo tempo, forjar profissionais capazes.

Sempre aliou, de uma forma rara, uma enorme capacidade técnica com retidão, generosidade, empatia e humor refinado. Era através das pessoas e das equipes que Eduardo colocava de pé ou melhorava organizações, este sim seu grande trabalho.

Sua discrição e naturalidade ao desempenhar as tarefas e gerir as crises mais desafiadoras por vezes camuflavam seu brilhantismo e profundidade. E o faziam destoar num mundo desacostumado a líderes que, como ele, falam menos e fazem mais.

Por isso pode ser difícil convencer qualquer um que não o conheceu de que ele foi uma das grandes personalidades do espaço econômico-financeiro do Brasil nos últimos anos. Mas por outro lado, certamente seria ainda mais difícil convencer quem o conheceu de que ele não foi exatamente isso.

Eduardo foi um brasileiro não apenas esperançoso mas também comprometido. Será para sempre um exemplo, pois muito além de refletir com grande capacidade intelectual sobre os problemas nacionais, fez verdadeiros sacrifícios pessoais para servir ao País sem esperar qualquer recompensa de fama ou de fortuna. A ele bastavam a companhia de Maria Lucia, dos livros, dos cães e dos amigos, sempre ao redor de bons uísques, vinhos, charutos e histórias.

Querido amigo, obrigado pelo que você fez pelo Brasil. Obrigado pelas orientações e valores transmitidos a todos nós. Diz-se que uma pessoa só nos deixa de verdade quando seu nome é dito pela última vez pelos que ficaram. Edu, você viverá para sempre nas aplicações, impactos e desdobramentos dos seus ensinamentos.

No livro “The Road to Character”, o jornalista americano David Brooks escreveu o que nos parece ser a melhor definição sobre o tipo de ser humano que Eduardo foi.

Ocasionalmente, mesmo hoje, nos deparamos com certas pessoas que parecem possuir uma impressionante coesão interna. Elas não estão levando vidas fragmentadas e dispersas. Alcançaram a integração interna. São calmas, estabelecidas e enraizadas. Não são desviadas por tempestades. Não desmoronam na adversidade. Suas mentes são consistentes e seus corações, confiáveis. Suas virtudes não são as virtudes florescentes que você vê em estudantes universitários inteligentes; são as virtudes maduras que vê nas pessoas que viveram um pouco e aprenderam com a alegria e a dor.

Às vezes você nem percebe essas pessoas porque, embora gentis e alegres, também são reservadas. Elas possuem as virtudes modestas de pessoas inclinadas a serem úteis, mas que não precisam provar nada ao mundo: humildade, comedimento, silêncio, temperança, respeito e autodisciplina suave.

Elas irradiam uma espécie de alegria moral. Respondem com suavidade quando desafiadas duramente. Ficam em silêncio quando injustamente atacadas. São dignas quando os outros tentam humilhá-las, contidas quando os outros tentam provocá-las. Mas realizam coisas. Praticam o ato sacrificial de servir com o mesmo espírito cotidiano modesto que exibiriam se estivessem apenas fazendo compras.

Não estão pensando no trabalho impressionante que estão fazendo.

Não estão pensando em si mesmas. Apenas parecem encantadas com as pessoas imperfeitas ao seu redor. Apenas reconhecem o que precisam fazer e o fazem.

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Daniel Sonder e Cícero Vieira eram dois dos muitos amigos de Eduardo Guardia.