A Nomad atingiu uma receita recorrente anualizada (ARR) de R$ 500 milhões em fevereiro — chegando ao breakeven pela primeira vez, e com uma pequena geração de caixa. 

A virada de chave vem pouco mais de um ano depois da última captação da Nomad, quando a fintech levantou US$ 61 milhões numa Série B liderada pela Tiger Global. 

De lá para cá, a companhia pisou no acelerador e já consumiu boa parte desses recursos, fechando o ano passado com cerca de US$ 20 milhões em caixa. 

“Estamos nessa tendência de gerar caixa, mas não existe o objetivo de maximizar essa geração. Ainda somos uma empresa jovem com muitas frentes de desenvolvimento,” o fundador e CEO Lucas Vargas disse ao Brazil Journal. “Mas essa nova dinâmica nos coloca numa posição mais confortável, de conseguir executar nossos planos futuros com a própria operação.”

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Segundo Lucas, a companhia não tem necessidade de uma nova rodada, mas poderia fazer algum movimento oportunístico caso surgisse uma proposta no “valuation certo.” 

Fundada há cinco anos, a Nomad começou como uma conta global para brasileiros, oferecendo produtos de câmbio, conta corrente e um cartão de débito aceito no exterior. 

Nos últimos anos, no entanto, a grande aposta da startup têm sido os investimentos. A Nomad começou com a oferta de carteiras administradas, entrou em renda variável e, no ano passado, incluiu produtos de renda fixa no portfólio (a última peça que faltava no quebra-cabeças). 

Lucas disse que a entrada em renda fixa demandou licenças adicionais e uma ampliação relevante do time, com a contratação, por exemplo, de um diretor de risco. 

Segundo ele, a aposta está se pagando. 

A penetração dos investimentos na base de clientes da Nomad dobrou em um ano. No final de 2023, 5% dos 1,3 milhão de clientes da fintech usavam também a plataforma de investimento. No final do ano passado, os clientes subiram para 2,6 milhões, e a penetração para 10%. 

“Em 2024, também tivemos a inversão da proporção de investimentos e banking nos nossos ativos. Antes era um terço dos investimentos e dois terços do banking,” disse Natália Lima, a CFO da fintech. “Hoje os investimentos já respondem por dois terços dos nossos ativos, que estão ao redor de US$ 1 bilhão.”

Segundo ela, isso é positivo porque os investimentos geram uma receita mais recorrente e estável, o que aumenta o ‘lifetime value’ do cliente. “No curto prazo, o banking ainda é muito mais importante para a receita, mas olhando o filme a dinâmica é bem diferente.”

A receita com investimentos — que hoje responde por 10% do total — tende a crescer muito este ano porque a Nomad conseguiu uma licença de broker dealer nos Estados Unidos.

Essa licença — que saiu há dois meses — vai permitir que ela capture uma parcela maior da receita desses produtos, que antes (como um investment advisor) ela acabava deixando com parceiros. 

“Isso traz responsabilidades maiores diante do regulador e uma exigência de capital mínimo, mas também faz uma diferença muito grande na receita,” disse Lucas. 

Depois de construir a plataforma de investimentos, o foco para 2025 será na conta brasileira.

“Temos três blocos de produtos: o banking US, o investimento US e os produtos Brasil,” disse ele. “Sempre investimos nos três em paralelo, mas em 2025 a maior parte dos recursos vai para os produtos Brasil, com o fortalecimento da infraestrutura de câmbio e de Pix, mas também com o lançamento de novos produtos.”

Em meados do ano passado a Nomad lançou um cartão de crédito em reais, que ainda está numa fase beta (com apenas 10 mil clientes ativos).

O plano para este ano é multiplicar por 10x essa base — um aumento expressivo, mas um número absoluto ainda pequeno considerando o tamanho da empresa. 

No médio prazo, a visão é lançar outros produtos no Brasil, entrando, por exemplo, em seguros e outros tipos de crédito. 

“Nos vemos não como uma conta global, mas como um player que atende o cliente brasileiro de alta renda. Isso significa que podemos lançar todos os produtos que façam sentido para esse cliente, seja no exterior ou no Brasil,” disse o CEO.