A Nexa Finance — uma plataforma de investimentos em ativos alternativos usando blockchain — acaba de levantar uma rodada para escalar seu negócio.
A meta: tokenizar e vender R$ 1 bilhão em ativos no ano que vem.
A captação seed, de R$ 25 milhões, foi liderada pela Maya Capital, a gestora de Lara Lemann e Mônica Saggioro, e teve a participação de outros cinco fundos.
Fundada em março do ano passado, a Nexa Finance vinha operando em beta até um mês atrás, quando começou a buscar seus primeiros clientes, com foco no B2B: basicamente multi e single family offices e escritórios de agentes autônomos, que usam a plataforma para os investimentos de seus clientes.
Por enquanto, a Nexa tem três clientes institucionais, um de cada perfil. A startup não abre quanto já movimentou até agora, mas disse que espera movimentar R$ 500 milhões este ano e R$ 1 bi em 2026.
A Nexa faz a originação e curadoria de investimentos alternativos. Ela compra esses ativos por meio de um FIDC (captado com investidores como a Brainvest e Vita Investimentos, comprada recentemente pela Turim), e os carrega até revender no mercado.
Na hora da venda, a Nexa tokeniza os ativos, registrando-os na blockchain — o que segundo os fundadores traz uma série de benefícios.
“Ao tokenizar, conseguimos fracionar o ativo em pedaços muito pequenos e depois reagrupá-los de acordo com a demanda dos clientes. Além disso, o custo de estruturação e de servir o cliente também fica muito menor,” Lucas Danicek, um dos fundadores, disse ao Brazil Journal.
“Com a nossa plataforma, é como se o banker ou adviser estivesse criando um fundo exclusivo para o cliente, mas nosso custo de servir é tão baixo que permitimos criar esse ativo a partir de R$ 100, e com uma diversificação muito maior.”
Por exemplo, se um cliente quer criar uma carteira com risco bancário, fluxo mensal e vencimento em 5 anos, é possível fazer isso com uma cesta de centenas de ativos — e com produtos aos quais a maioria dos investidores não tem acesso.
“Conseguimos colocar 0,5% de um recebível do Bradesco, 1% de uma cota de consórcio, 1% de um CDB, e por aí vai,” disse Danicek.
Uma das teses da Nexa é o mercado de consórcios. A fintech tem comprado cotas de consórcios cancelados ou já contemplados no mercado secundário, pagando um desconto por elas.
“Mapeamos uma série de originadores e os integramos ao nosso sistema com uma API. À medida que eles vão mandando as oportunidades, o sistema vai filtrando se elas estão dentro dos nossos critérios e, se estiverem, já compramos os ativos para depois revender para nossos clientes,” disse Lucas, acrescentando que o sistema nega mais de 90% das oportunidades trazidas pelos originadores.
Outra tese de investimento é comprar carteiras de empréstimos que têm o FGTS do tomador como garantia, ou fazer operações primárias desses ativos.
A Nexa está tentando inovar num mercado que exige muito capital intelectual, acesso a funding para competir com os grandes bancos, capilaridade na distribuição – e onde os spreads já são apertados pela concorrência pesada.
“Se não conseguir se apoiar nesse tripé, a Nexa pode ficar sujeita a uma seleção adversa, com produtos que não conseguiram distribuição por outros canais e acabaram ali,” disse um executivo do setor.
Há dúvidas também sobre a escalabilidade do modelo, já que, assumindo um take rate de 1% num volume de R$ 1 bilhão, a receita anual seria de apenas R$ 10 milhões.
A conta que Danicek faz é (bem) mais otimista.
“Se conseguirmos atender 100 escritórios de AAIs, por exemplo, com uma média de R$ 2,5 bi em ativos cada, e tivermos um share of wallet de 5%, estimamos que conseguimos fazer uma receita de R$ 500 milhões,” disse o fundador.
Na conta, ele considerou um volume transacionado por ano de cerca de R$ 10 bilhões, e um take rate médio de cerca de 5% – o que parece agressivo para os padrões de mercado.
Segundo ele, o take rate pode variar muito, dependendo da operação. “Nosso negócio é igual um investment bank. Às vezes você ganha muito pouco numa operação, mas gera relacionamentos. Em outras ganha bem mais,” disse ele.
No consignado FGTS, no entanto, a comissão pode ser alta, segundo ele. “Um título com um duration médio de 2,5 anos e que a gente compre a CDI+3% e venda para o nosso cliente a CDI+2%, já nos daria um take rate de 3,5%.”
Os três fundadores da Nexa têm cerca de 40 anos e já trabalhavam no mercado financeiro.
Lucas fez carreira em gestoras como a Nest e o Pátria, e depois trabalhou no Tera, o family office dos fundadores do Pátria.
Eduardo Furuie, o segundo fundador, também trabalhou no Pátria e na Tera, sempre na área de renda fixa e crédito.
Já Bernardo Luca Mascarenhas, o terceiro fundador, começou sua carreira em M&A e DCM, antes de fundar uma startup de crédito — a Noverde — depois comprada pela Dotz. Ele ficou até 2024 como executivo da Dotz, antes de se juntar a Lucas e Eduardo para fundar a Nexa.
A rodada de hoje também incluiu o Citrino, o family office dos Ermírio de Moraes, além de dois fundos americanos: a Clocktower Ventures e a Kiara Capital. A Norte Ventures, que já havia investido no pré-seed, também acompanhou a rodada.