O produtor rural Pedro Ottoni está com um olho no pluviômetro e outro no preço. Engenheiro agrônomo de formação, Ottoni sabe que as próximas semanas serão decisivas para que as chuvas ajudem no desenvolvimento das lavouras de milho de sua fazenda em Uberaba, a EccoAgro.

Se as precipitações vierem como o previsto, Ottoni espera colher entre 180 a 200 sacas — o equivalente a 10 a 12 toneladas — por hectare. “Mas o clima está cada vez mais imprevisível. Havia os meses de chuva, os de seca e, eventualmente, algo inesperado acontecia. Agora não dá para confiar na previsão da semana que vem, pois pode mudar tudo,” diz Ottoni.

Pedro Ottoni ok

A falta de chuvas em fevereiro e as altas temperaturas reduziram a janela de plantio do milho no Triângulo Mineiro em função do atraso da colheita da soja que, por sua vez, também teve o ciclo impactado por fatores climáticos.

“A cada dia de atraso no plantio da safrinha de milho, a produtividade reduz em dois sacas por hectare,” diz o produtor de 30 anos que faz parte da sexta geração de uma família de agricultores, atividade que seus antepassados exerciam em Portugal antes de se estabelecerem na produção de café em Minas Gerais. 

O atraso em função do clima obrigou Ottoni a cortar radicalmente a área dedicada ao milho prevista para esta safra, de 250 para 150 hectares. “Era muito arriscado colocar semente no chão com temperaturas girando em torno de 35 graus.” A solução foi plantar parte do milho em áreas de irrigação (a estrutura serve para as lavouras de trigo e cenoura em outras épocas do ano).

O produtor de Uberaba não é único que avalia dia a dia os desdobramentos do clima na produção de milho. Os frigoríficos, as indústrias de alimentos e as usinas de etanol de milho estão de olho no desempenho da safrinha do grão, que responde por 78% do total produzido ao longo do ano.

“Se houver um problema na safrinha de milho, o preço do milho vai se manter caro o ano inteiro,” diz Samuel Isaak, analista de commodities agrícolas da XP.

A projeção da Conab para a produção em 2025 é de 122,7 milhões de toneladas, incluindo as três safras ao longo do ano (o Nordeste e regiões com irrigação comportam três ciclos de produção). 

MILHO GRAFICO 1

O milho é considerado um dos grãos mais democráticos da agricultura brasileira. Ele se adapta aos diferentes climas de Norte ao Sul do País, é cultivado tanto em grandes como micro propriedades e responde até a um baixo grau de tecnologia na fazenda – o que tem impactos, naturalmente, na produtividade alcançada. 

Hoje, a produtividade média no País é de 5.800 quilos por hectare, mas as fazendas que aplicam alta tecnologia no cultivo dobram esse rendimento. 

A história de sucesso do milho é recente. Hoje, o Brasil é o terceiro maior produtor e segundo maior exportador do grão no mundo, mas no início dos anos 2000 o País chegou a importar milho dos Estados Unidos e da Argentina. 

Foi a partir de 2011 que a produção passou a dar saltos sucessivos, saindo do patamar de 50 milhões de toneladas para os atuais 120 milhões. O grande propulsor foi justamente o milho safrinha, plantado em boa parte do país entre fevereiro e março, na sequência da colheita da soja.

Seu impacto no mercado é tamanho que muita gente considera que o termo “safrinha” é quase ofensivo e prefere chamar o ciclo de segunda safra.  

Mas o milho continua sendo preterido pela prima rica, a soja, que vale o dobro no mercado.

“Quando todo mundo está colhendo soja e precisa de armazéns, o pessoal se desfaz do milho e acaba que não há um estoque de carrego, capaz de abastecer o mercado na entressafra,”diz Paulo Bertolini, presidente da Associação dos Produtores de Milho e produtor em Castro, no Paraná, onde cultiva 1.000 hectares. 

O milho, porém, tem escalado a ladeira social do agro. A expansão das indústrias de proteína animal e o surgimento das usinas de etanol de milho aumentaram a demanda pelo grão. 

Na safra passada, cerca de 17 milhões de toneladas do grão foram direcionados para as usinas de etanol, que têm se multiplicado pelo país.

Hoje, são 25 biorrefinarias em funcionamento no País. Outros 10 projetos já receberam autorização da ANP, além de outros 20 que já foram anunciados, segundo levantamento da União Nacional do Etanol de Milho. 

Um relatório recente da XP aponta que até 2030 a demanda pelo grão só para a produção de etanol deve chegar a 39 milhões de toneladas – ainda que parte dos projetos tenha tido atrasos ou postergações pelo aperto das margens e aumento de competição pelo insumo.

“O Brasil tem o potencial de se tornar o país do milho. E vai produzir mais milho do que soja,” diz Bertolini.

MILHO GRAFICO 2