Conheci José Henrique Santos Portugal quando ele ainda era um jovem economista, mas já dotado de grande inteligência e sagacidade.
Portugal, como o chamávamos, era curioso, entusiasmado, impaciente e determinado. Tinha, pois, o perfil para o lugar e o tempo certos: a IBM, então a maior empresa do mundo e a pioneira do processo de informatização no Brasil, iniciada praticamente no fim da década de 1960.
Ele foi um dos poucos a saber e prever que o uso de computadores demonstraria sua crescente e enorme capacidade de transformação, modernização e aumento de produtividade.
Portugal deu aulas na própria IBM aos novos analistas de sistemas como eu, e instalou inúmeros sistemas avançados. Quando surgiu a computação em nuvem, comentei com ele que no fundo essa inovação representava a interligação de computadores, tal como ele fez ao conectar os computadores da Usiminas, em Ipatinga, com os computadores centrais da IBM através do teleprocessamento.
Não satisfeito com esse pioneirismo, Portugal teve também uma atuação destacada na Fiat e na UPSI, o que o levou a assumir a direção da SUCESU Nacional no período de discussão da proposta de “reserva de mercado”, nos anos do regime militar.
Ele se orgulhava de ter servido no Exército, e não demorou para concorrer a deputado federal pelo MDB em 1986, acompanhando a redemocratização do País.
Em breve, a família lançará um livro sobre seu relevante papel como um farol da tecnologia da informação, assim tão bem definido por um dos nossos inúmeros colegas que foram se despedir dele.
Não consegui, entretanto, que ele escrevesse a tempo um relato sobre as campanhas eleitorais de que participou, muitas vezes ao meu lado.
Grande incentivador da descentralização administrativa e sempre preocupado com as desigualdades sociais e regionais, seus caminhos se cruzaram com minha carreira. E tive o privilégio de aprender muito com sua leitura criteriosa de manuais técnicos, seu trabalho de destrinchar a legislação e sua crença inabalável no País, como um servidor público de primeira grandeza.
Na Prefeitura de Belo Horizonte, Portugal liderou a pioneira implantação do geoprocessamento, que tanto tem modernizado e otimizado a gestão da cidade e do estado. No Serpro, o Serviço Federal de Processamento de Dados, foi um diretor que deu passos largos em especial na área financeira do País, ao participar dos estudos de implantação do TED e do PIX, além da modernização da Receita Federal.
Já no Governo do Estado, Portugal foi um xerife da modernização do Estado e liderou a implantação de uma verdadeira revolução na distribuição dos recursos arrecadados, com a vitoriosa “Lei Robin Hood”.
Não é fácil ser Secretário Geral do Governo de Minas Gerais durante quatro anos seguidos. Mas foi com brilhantismo que ele mais uma vez desenvolveu sua paixão pela justiça social e pelo desenvolvimento da área pública.
No Senado Federal por oito anos, José Henrique teve eficiente presença na discussão e implantação da Lei de Combate aos Crimes Cibernéticos e em encontros memoráveis com Bill Gates, o gênio da moderna tecnologia da informação.
Estivemos juntos em verdadeiras batalhas para a adesão do Brasil à Convenção de Budapeste que trata da cooperação internacional no combate aos modernos crimes digitais, para citar apenas um entre tantos projetos de Lei.
A implantação também vitoriosa das urnas eletrônicas e a paixão pela cidade de Rio Preto são outras inesquecíveis lembranças suas. José Henrique foi ainda um pioneiro na certificação digital, e no último ano de vida, já debilitado, assumiu com entusiasmo acima do normal a cadeira de conselheiro do BDMG, o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais.
Devemos a José Henrique Santos Portugal grandes avanços, e sua família não foge a seu exemplo. Ele legou a todos um idealismo pelo Brasil.
Muito obrigado, meu amigo!
Eduardo Azeredo foi Prefeito de Belo Horizonte, senador por Minas Gerais e Governador do Estado.