A Kinea Investimentos acaba de levantar R$ 400 milhões para um fundo de infraestrutura (FIP-IE) que vai investir em debêntures de projetos maduros — apostando num nicho que tem tido pouca oferta de capital nos últimos anos.
O KNDI11 — que será listado na Bolsa — é o segundo fundo da Kinea com esse perfil. A gestora já faz a gestão do KDIF11, um FII-Infra com R$ 3 bilhões em patrimônio.
Por ser um FIP-IE, a captação do KNDI11 teve que ser feita apenas com investidores qualificados, aqueles com mais de R$ 1 milhão em liquidez. O coordenador da oferta foi o Itaú BBA.
A oferta-base era de R$ 320 milhões, mas como a demanda ultrapassou esse montante, a gestora elevou o valor para os R$ 400 mi.
Fábio Massao, o co-gestor do fundo e portfolio manager da Kinea, disse ao Brazil Journal que o novo fundo tem uma vantagem em relação aos outros veículos de crédito de infraestrutura da gestora.
“Ele está sob uma outra regra, a lei 1478, que permite atuar em projetos mais antigos, desde 2007. Nossos outros fundos estão sob a lei 12.431, que só permite atuar com projetos com lastro nos últimos dois anos,” disse o gestor.
Segundo ele, isso vai reduzir o risco do fundo, já que ele poderá entrar em projetos mais maduros e com um histórico maior e já comprovado.
Ao mesmo tempo, a expectativa de retorno também é maior, porque existe pouco funding disponível para esse tipo de projeto.
“Quem poderia servir esses projetos mais antigos são os fundos não incentivados. Mas esses fundos gostam de prazos mais curtos e operações atreladas ao CDI,” disse Fábio. “Então, tem esse nicho de mercado que está mal atendido e que vimos a oportunidade de entrar.”
Na maioria dos casos esses projetos buscam recursos para um refinanciamento de longo prazo, usando a captação para pagar dívidas que estão perto de vencer. Há, no entanto, alguns casos de projetos antigos que precisam de mais recursos para uma segunda fase do capex da concessão.
Sobre o perfil dos projetos, o gestor disse que a Kinea está olhando concessões com contratos de longo prazo, previsibilidade e correção pela inflação. As maiores oportunidades hoje, segundo ele, estão em rodovias, saneamento e geração distribuída.
A tese do fundo é entrar no risco do projeto e não do emissor — mas Fábio disse que eventualmente o KNDI11 pode fazer operações direto com as empresas também. “Já fizemos operações no passado com a Taesa, por exemplo, em que compramos debêntures direto dela. Mas tínhamos garantias reais de alguns projetos,” disse ele. “Em geral preferimos ficar sempre no andar do projeto, mas avaliamos caso a caso.”
Com os R$ 400 milhões, o KNDI11 pretende investir em pelo menos 10 projetos diferentes, para garantir que nenhum deles tenha uma participação maior do que 10% do patrimônio. A diversificação, no entanto, tende a ser maior com o tempo.
O KDIF11, por exemplo, tem mais de 60 títulos no portfólio.
Segundo Fábio, o retorno alvo do fundo é CDI + 1% a 1,5% e o dividend yield da largada será de cerca de 11%, em linha com o CDI.
A Kinea tem R$ 132 milhões em ativos sob gestão, dos quais R$ 13 bilhões estão em crédito para infraestrutura.
A captação do KNDI11 vem num momento desafiador para os FIP-IEs listados.
Nas últimas semanas, esses fundos passaram por uma forte correção depois que o VIGT11, um fundo da Vinci focado no equity de projetos de energia, reportou uma queda de 80% na sua distribuição de dividendos, deixando os cotistas em pânico.
O VIGT11 perdeu mais da metade de seu valor de mercado de lá para cá — e levou outros fundos a reboque. O XPIE11, por exemplo, caiu 10% no último mês.
Fábio disse que o KNDI11 não deve sofrer os efeitos colaterais por ser um fundo de dívida. “São realidades muito diferentes. Nosso fundo opera apenas com dívida e no andar mais seguro dela, que é o nível dos projetos, com pacotes de garantias muito robustos.”