A Iguá Saneamento venceu o leilão da concessão da operação de água e esgoto de Sergipe — um ativo relevante que deve aumentar de forma significativa a receita e o EBITDA da companhia.

A Iguá não está abrindo o tamanho exato deste aumento, mas o CEO Roberto Barbuti disse ao Brazil Journal que a operação de Sergipe será a maior da companhia em termos de pessoas atendidas e a segunda maior em receita, atrás apenas da Iguá Rio, que engloba os ativos comprados no leilão da CEDAE em 2021.

Roberto Barbuti

Em Sergipe, a Iguá vai atender 74 dos 75 municípios do Estado, somando mais de 2,3 milhões de pessoas; apenas o município de Capela ficou de fora. 

O modelo é igual ao da CEDAE. A Deso, a estatal que atendia esses municípios, vai continuar responsável pela produção e tratamento da água, que será adquirida pela Iguá e revendida ao consumidor final. 

Já a operação de esgoto será 100% gerida pela companhia. 

No ano passado, a receita da Deso foi de R$ 850 milhões, segundo dados públicos, em comparação aos R$ 795 milhões de 2022.

Para efeito de comparação, a Iguá teve uma receita de mais de R$ 2 bilhões no ano passado, com um EBITDA de R$ 870 milhões. 

A Iguá levou o ativo com uma proposta de outorga de R$ 4,53 bilhões, um ágio de 122,6% em relação ao valor mínimo estabelecido no edital. O contrato prevê ainda um investimento de R$ 6,3 bilhões ao longo dos próximos 35 anos, com a maior parte (R$ 4,7 bilhões) concentrada nos primeiros 10 anos. 

Segundo o CEO, o ativo chamou a atenção da Iguá porque a área de concessão “tem um tamanho interessante” e porque do ponto de vista geográfico “há uma concentração muito grande.”

“Sergipe é o menor Estado do Brasil em área e sem grandes dificuldades topográficas,” disse o CEO. “O Estado também já tem índices de cobertura razoáveis, com 91% de cobertura em água e 35% em esgoto.”

Ainda assim, ele disse que há muita coisa a ser melhorada na operação, já que as perdas são relevantes e há muita intermitência no fornecimento de água.

“Foram quase dois anos de estudo e fizemos um deep dive bem grande no potencial do negócio. Estamos bem convencidos de que é uma boa oportunidade,” disse ele. 

Barbuti disse ainda que a companhia já tem a estrutura de financiamento garantida, com os recursos da outorga e do capex sendo bancados com um aporte de capital dos sócios — o CPPIB e a AIMco — e com um bridge loan que a Iguá já tem garantido com dois bancos de investimentos. 

O valor da outorga será pago de forma escalonada, com a Iguá desembolsando 60% na cabeça, 20% no início da operação, previsto para meados do ano que vem, e os 20% restantes 24 meses depois. 

A transação vem num momento em que a alavancagem da Iguá está na lua, com a companhia operando com uma dívida líquida equivalente a 7,2x seu EBITDA anual. Excluindo a Iguá Rio — que concentra boa parte dessa alavancagem e ainda não está madura do ponto de vista de EBITDA — o indicador estaria em 3,5x, disse o CEO. 

“É uma alavancagem grande, mas a Iguá não tem desafios relevantes de capex, porque o grosso já ficou para trás, e temos áreas de concessão que estão num step up relevante de geração de caixa,” disse o executivo. 

Barbuti disse que a transação de hoje vai aumentar ainda mais a alavancagem no curto prazo, até porque a Iguá ainda não vai consolidar 100% da operação no ano que vem, “mas é uma operação que estruturalmente não muda nossa alavancagem.”

A vitória no leilão de hoje vem depois da Iguá ter perdido para a Aegea os últimos três leilões de que participou: o da PPP da Sanepar, o de Governador Valadares, em Minas Gerais, e o de Palhoça, em Santa Catarina. 

No leilão de hoje, a Aegea ficou em segundo lugar, com uma oferta de R$ 3,6 bilhões seguida pela BRK Ambiental (R$ 3,25 bi), e pelo Pátria, que ofereceu R$ 2,7 bilhões de outorga. 

Além da Iguá Rio, que responde por mais de 60% do EBITDA e da receita da companhia, a Iguá também opera 13 concessões, incluindo a de Cuiabá e Paranaguá, além de ter uma PPP com a CASAL, em Alagoas, e com a SAAE, em Atibaia.