Ok. A Hapvida desapontou o mercado por dois trimestres consecutivos e não tem conseguido guiar os investidores na direção do resultado.
Mas para Fred Mendes, que cobre o setor de saúde no Bank of America, a implosão de 40% no valor da companhia nos últimos três dias também já foi demais.
O banco elevou hoje a ação de ‘neutro’ para ‘compra’, enxergando um risco/retorno atrativo e mantendo o preço-alvo de R$ 5. O papel negocia a R$ 2,70.
“Acreditamos que a Hapvida está negociando não com base em múltiplos, mas na percepção de um risco de solvência e de um risco no seu modelo de negócios, que continuamos acreditando ser vencedor,” escreveu o analista.
Segundo ele, depois dos resultados desastrosos do quarto tri (LINK) muitos investidores levantaram dúvidas sobre a capacidade de solvência da Hapvida, em grande parte por conta da queima de caixa de R$ 635 milhões no trimestre.
Para o BofA, no entanto, a posição de caixa “potencial” de R$ 3,6 bilhões no quarto tri — excluindo o capital regulatório exigido, os valores de M&As e adicionando a debênture de R$ 750 milhões que a companhia emitiu recentemente — é capaz de cobrir as despesas recorrentes, as dívidas, o capex, M&As e outras despesas este ano.
“Nossa conclusão é que, exceto em circunstâncias extremas, a Hapvida tem caixa suficiente para cobrir o ano de 2023,” Fred escreveu aos clientes.
Nas contas do BofA, a Hapvida deve ficar com um caixa de R$ 900 milhões este ano, depois de gastar R$ 1,7 bi com amortização de dívidas, R$ 500 milhões com o pagamento de M&As e R$ 500 milhões com capex.
“Achamos que isso deve ser suficiente para o ano. Além disso, estimamos uma geração de caixa de R$ 500 milhões no ano, ajudada por um crescimento orgânico menor, com menores despesas de vendas,” escreveu Fred.
Considerando a geração de caixa, o excedente de caixa da Hapvida ficaria em R$ 1,4 bilhão.
O BofA também ressalta que a Hapvida deve começar a acelerar seus aumentos de preço este ano, como sinalizado pelo CEO Jorge Pinheiro na call do resultado.
Segundo o banco, a companhia vinha focando no crescimento orgânico com a visão de que ‘todo mundo está sofrendo, mas no final dessa crise vamos sair mais fortes que os competidores e com um maior market share.’
“No entanto, depois de tamanha correção (40% em 3 dias) acreditamos que a Hapvida provavelmente vai assumir um approach mais simples de focar na melhora das margens, mesmo que isso venha às custas das adições líquidas,” escreveu o analista.
O BofA também nota que a inflação deve se manter próxima de 6% em 2023, o que, junto com as altas de preços, tende a ajudar a sinistralidade.
“O setor de saúde está reportando as sinistralidades mais altas dos últimos 10 anos especialmente por conta do impacto da covid, que levou a ajustes negativos dos planos individuais em 2021,” escreveu Fred. “Como o MLR é uma variável de dois fatores, preço e custo, e os custos são mais difíceis de controlar, a alta de preços é a única opção.”
Os planos individuais – cujo reajuste determinado pela ANS deve ficar em 10% este ano – representam 21% da carteira da Hapvida. O restante, cujo reajuste é livre, está dividido entre os planos empresariais e os coletivos por adesão.
Para Fred, a Hapvida pode aumentar seus preços pelo menos em linha com a SulAmérica, Amil e Bradesco, que deram reajustes de 15% ou mais.
“Se a Hapvida está sob pressão financeira, seus concorrentes (especialmente os pequenos) provavelmente estão numa posição ainda mais desafiadora. Acreditamos que há poucas opções para os clientes dado que as outras companhias provavelmente também estão aumentando preços.”