Os analistas e estrategistas de Wall Street se dizem ‘surpresos’ com a amplitude do tarifaço de Donald Trump – e vão se avolumando as revisões para baixo, tanto para as ações quanto para o PIB dos EUA.
O UBS reduziu o alvo para o S&P 500 de 6.400 para 5.800 pontos no fim deste ano, o que implicaria uma ligeira queda de 1,4% em relação ao fechamento de 2024.
O índice fechou hoje em 4.983, ao recuar 1,6% sob o impacto da carga adicional de 50% de tarifas sobre a China, elevando o total da tributação para 104%.
O time do UBS também rebaixou de ‘atrativa’ para ‘neutra’ a perspectiva para as ações americanas. A revisão reflete em parte a desaceleração do PIB, que deverá crescer 1% neste ano.
“O Presidente Trump pegou a gente e o mercado de surpresa ao anunciar tarifas muito mais agressivas do que o esperado,” escreveu David Lefkowitz, o diretor para renda variável americana do UBS. “Acreditamos que haverá negociações, mas não esperamos uma reversão rápida.”
Ainda segundo o estrategista, o time de macro do banco prevê um crescimento do PIB “anêmico” em 2025.
A BlackRock reduziu sua perspectiva para a Bolsa americana de ‘overweight’ para ‘neutra’, e a recomendação para os Treasuries passou de ‘neutra’ para ‘overweight.’
“Vemos a volatilidade persistindo por algum tempo, então encurtamos nosso horizonte tático para três meses e diminuímos o risco, passando a neutros em ações americanas e preferindo Treasuries de curto prazo,” escreveu Jean Boivin, um executivo da gestora, segundo a CNBC.
A Goldman Sachs cortou a estimativa para o PIB em 2025 de 1% para 0,5%. Segundo o time de macro do banco, a probabilidade de recessão subiu para 45%.
Os estrategistas dizem que o mercado americano entrou em um bear market causado pelo tarifaço do ‘Dia da Libertação’ de Trump, e que a recessão que se avizinha poderá levar a um bear market ‘cíclico’ e mais duradouro.
Os bear markets implicam queda de 20% ou mais em relação ao pico. Desde a máxima histórica de 6.144 pontos em fevereiro, o S&P 500 já recuou 18%.
Para a Goldman, as ações podem ainda cair bastante antes de tocar o fundo, caso o mercado entre de fato em um drawdown cíclico.
Os bear markets event-driven duram em média oito meses, e a recuperação ocorre dentro de um ano, disse a Goldman. Mas nas quedas cíclicas o mercado em baixa dura até dois anos, e o retorno ao nível inicial pode levar cinco anos.
As projeções mais negativas incorporaram o noticiário dos últimos dias, mas Wall Street não está conseguindo acompanhar o ritmo das investidas de Trump.
Apenas para dar um exemplo: depois de diversos bancos e corretoras terem apresentado suas novas estimativas, a Casa Branca confirmou que deverá mesmo elevar (ainda mais) as tarifas sobre os produtos chineses.
O Governo Trump disse que cerca de 70 países iniciaram negociações com os EUA na tentativa de evitar a carga tarifária. Mas segundo a Casa Branca, não há nenhum acordo em discussão com a China.