Em seu primeiro trimestre desde a aquisição dos ativos do BTG, a Eneva reportou o maior EBITDA de sua história.

O resultado é um reflexo do portfólio diversificado da Eneva e de suas receitas fixas: num trimestre em que a companhia teve um despacho fraco e muito curtailment no parque solar, a empresa conseguiu em grande parte compensar estes ventos de proa.

A geradora de energia fez um EBITDA de R$ 1,528 bilhão, uma alta de 40% ano contra ano e praticamente em linha com o consenso de R$ 1,557 bi. 

Marcelo HabibeDesse total, cerca de R$ 400 milhões vieram das termelétricas compradas do BTG, o que explica boa parte da alta. 

“Mas mesmo tirando esses ativos, nosso EBITDA teria subido,” o CFO Marcelo Habibe disse ao Brazil Journal.

No primeiro tri de 2024, o EBITDA da Eneva havia sido de R$ 1,09 bi. Excluindo os ativos do BTG, o EBITDA teria sido de R$ 1,12 bi no primeiro tri deste ano, uma alta de 3,4%. 

“Esse EBITDA é a materialização das nossas avenidas de crescimento: aquisição de novos ativos, expansão das termelétricas, novos projetos e comercialização de gás,” disse o CFO. 

Ele notou ainda que em 2020 o EBITDA anual da companhia tinha sido de R$ 1,5 bi. “Fizemos em um trimestre o que tínhamos feito num ano inteiro.”

Já o lucro líquido foi de R$ 384 milhões no primeiro tri, revertendo um prejuízo de R$ 61 milhões no mesmo período do ano passado. 

O lucro veio bem abaixo do consenso, que projetava R$ 621 milhões. 

Habibe disse que a diferença para o consenso teve a ver principalmente com a linha de depreciações. Segundo ele, a compra das termelétricas do BTG gerou uma ‘mais valia’ grande para a companhia, que precisa ser amortizada ao longo deste ano, o que gera um aumento na depreciação.

No primeiro tri, as depreciações somaram R$ 555 milhões, em comparação aos R$ 350 mi do primeiro tri de 2024. Desse total, ele diz que R$ 165 milhões vieram das amortizações dos ativos adquiridos. “Mas isso é uma coisa não-caixa, que tem zero relevância para o valuation,” disse ele. 

Em termos operacionais, o resultado da Eneva veio em linha com a sazonalidade do setor. 

Como costuma acontecer, o primeiro tri foi um período de muitas chuvas, o que fez com que o sistema não demandasse o acionamento das termelétricas. Com isso, as termelétricas da Eneva tiveram um despacho de apenas 9% em comparação a 13% do mesmo período do ano passado. 

A companhia teve uma geração de 1.178 GW, dos quais 841 MW vieram das termelétricas e o restante do parque solar Futura.

Para se ter uma ideia, no terceiro e quarto tri do ano passado — quando chove pouco, e as termelétricas são acionadas — a geração só das termelétricas foi de 3.800 GW, 4,5x mais que a do primeiro tri. 

Com pouco despacho, o EBITDA do tri veio basicamente dos contratos fixos que a Eneva tem com o Governo, que paga um valor pré-acordado independente do acionamento das termelétricas, da geração solar, e da comercializadora de gás e energia, que contribuiu com cerca de R$ 200 milhões ao resultado. 

Operacionalmente, o trimestre também foi complexo para o parque solar, que sofreu com um curtailment de 19%. (O curtailment é o corte da geração por falta de capacidade de escoamento ou porque a geração solar ou eólica em dado período é maior do que a demanda do país).

O curtailment gerou um impacto de cerca de R$ 20 mi no EBITDA. 

Depois de sofrer com uma alta alavancagem no ano passado, a Eneva fechou o trimestre com 2,6x EBITDA — em comparação a 4,3x um ano antes. A queda veio principalmente do aumento de capital de R$ 4,2 bilhões e do fato da aquisição dos ativos do BTG ter sido paga em parte com ações, o que permitiu fazer mais EBITDA sem um desembolso tão grande.

Habibe disse que daqui por diante os principais focos estratégicos da Eneva serão dois: o leilão de capacidade, que deve acontecer este ano mas cuja data ainda não foi marcada; e a expansão da operação de GNL, que começou em fevereiro. 

No leilão, a prioridade da Eneva será a recontratação de suas térmicas de Parnaíba (que têm 850 MW para serem recontratados e cujo contrato vence em 2028) e do Espírito Santo (que tem 150 MWh a serem recontratados e que vence em 2026). 

A companhia também vai buscar aumentar a capacidade de seu complexo em Sergipe, que já tem uma capacidade instalada de 1,6 GW, mas onde a companhia vê potencial para quase dobrar de tamanho, agregando mais 1,4 GW de capacidade (caso consiga vencer no leilão). 

Por fim, a Eneva poderia ganhar capacidade também para projetos novos, que teriam que ser construídos do zero. Um desses projetos é um complexo termelétrico no Ceará que ela comprou recentemente da Ceiba Energy.

Na vertical de GNL, a Eneva já construiu duas plantas de liquefação, que transformam o gás do estado gasoso em líquido. A companhia então transporta este GNL em caminhões para clientes como Vale e Suzano. Essas plantas começaram a operar em fevereiro e contribuíram com R$ 50 milhões no EBITDA do trimestre.

O plano da Eneva é construir uma terceira planta com a mesma capacidade das anteriores (300 mil metros cúbicos) com foco principalmente no crescimento da demanda pelo GNL para o uso como combustível de caminhões. 

Essa planta deve demandar um capex de cerca de R$ 500 milhões.