Em tempos de safra recorde na soja e no milho, quem vai sair ganhando mesmo são os produtores de bovinos, aves e suínos.

É o que conclui o panorama para a safra 2025/2026 do Itaú BBA, que acaba de ser publicado.

O banco estima que a produção de soja no próximo ciclo deve chegar a 174 milhões de toneladas, um crescimento 2,3% em relação à safra que acabou de ser colhida, a maior já registrada no País. A área brasileira dedicada ao grão segue crescendo há 18 safras consecutivas, mas o cenário supõe uma expansão mais contida, de 1,5%, alcançando 48,3 milhões de hectares.

No milho, a estimativa é de uma colheita de 130,4 milhões de toneladas, ligeiramente superior à safra 2024/2025 – lembrando que a produção cresceu 50% nos últimos cinco anos.

Só notícia boa, né? Não exatamente.

Os custos de produção também devem voltar a subir, depois de um leve recuo em 2024/25. Segundo o banco, “os custos com fertilizantes para a safra 2025/26 devem subir aproximadamente 20%, sendo este o item com maior influência na elevação do custo operacional, para o qual projetamos aumento em torno de 8% sobre a safra passada.” 

O agravamento das tensões no Oriente Médio piorou a situação nos fertilizantes, que já vinham em alta: potássio e fósforo subiram quase 20% nos últimos 12 meses, encarecendo o custo por hectare. 

No caso da soja, a alta dos insumos e o preço relativamente estável em razão dos estoques globais confortáveis resultaram numa piora da relação de troca. “Em outras palavras, cada tonelada de soja compra hoje menos insumo do que na média histórica, o que ajuda a pressionar as margens,” explica o analista Francisco Queiroz.

SOJA

Dinâmica semelhante ocorre no milho. O gasto com fertilizantes deve aumentar cerca de 25%, sendo o item de maior influência na elevação do custo operacional, que deve crescer 8,5% sobre a safra anterior. Apenas 30% do insumo já foi comprado para a safrinha, que representa 80% de todo o milho produzido no País. 

Junto com o aumento dos fertilizantes, houve uma queda expressiva dos preços no mercado doméstico nos últimos 60 dias, o que deve segurar a expansão da área de milho. 

Os dados do Itaú mostram que a margem na soja deve cair de 41% na safra anterior para 34% em 2025/2026. No milho, a margem deve cair de 27% para 21%. (Para os produtores que arrendam a terra, os ganhos serão ainda mais comprimidos.)

 “Esse cenário, somado ao alto custo do capital, significa que uma parte relevante dos resultados será absorvida pelas despesas financeiras,” disse Queiroz. 

MILHO

Já para os produtores de proteínas animais, o cenário é bastante promissor. Bovinos, aves e suínos são os elos consumidores de grãos na cadeia do agro e terão ganhos de margens expressivas, por diferentes razões.

“A combinação entre ração mais barata, aumento nos confinamentos e forte exportação dá suporte aos preços. Nos setores de aves e suínos, a perspectiva também é favorável, com custos de ração sob controle, preços relativamente elevados das carnes sustentando boas margens históricas e uma demanda global aquecida,” disse o analista César de Castro Alves, do Itaú BBA.

No caso do boi gordo, o momento é de um ciclo de virada. Nos últimos anos, houve um grande descarte de vacas para atender a demanda global firme (a expectativa é que haja uma desaceleração, mas que até agora não ocorreu). 

Somado a isso, uma queda de produção na pecuária nos Estados Unidos e altos preços da carne lá têm favorecido a exportação brasileira, mesmo com a sobretaxa de 10% criada pelo governo Trump.

“No Brasil, cada vez mais animais que seriam terminados a pasto estão sendo direcionados para o confinamento. No pasto, demora 12 meses para transformar um boi magro em gordo. No confinamento são três meses”, diz Alves. “A margem é boa e os produtores vão tentar ao máximo confinar os animais.”

No frango, mais uma safrinha de milho robusta pela frente reduz a chance de nova disparada nos preços do grão, como a que ocorreu entre agosto do ano passado e março deste ano. Segundo o Itaú BBA, o cenário atual é mais favorável sob a ótica dos compradores. 

As dúvidas sobre o setor ainda se concentram sobre os desdobramentos do episódio de gripe aviária no Rio Grande do Sul, que já foi oficialmente encerrado e sem novos casos registrados. Mais de uma dezena de países ainda mantêm restrições à carne de frango brasileira, mas a questão é quanto tempo levará para os bloqueios serem derrubados.

A suinocultura brasileira também atravessa um período bastante promissor em termos de margens, tendência iniciada em 2023. O spread estimado para a atividade foi de 8% em média no segundo semestre de 2023, subiu para 20% em 2024 e atingiu 23% no primeiro semestre de 2025.