Por que cachorros vivem um tempo tão curto em comparação com os humanos? 

A pergunta é feita por uma multidão de tutores ao se despedirem de seus animais de estimação. Em média, os cães vivem entre 8 e 15 anos, segundo a American Veterinary Medical Association. Mas pode ser mais, dependendo das condições de alimentação e saúde, do ambiente, da raça e do porte do animal.

Um estudo inglês, divulgado neste ano pelo jornal Scientific Reports (do grupo Nature), indicou que até o tamanho do focinho pode estar relacionado a uma maior expectativa de vida. Pesquisas anteriores já apontaram que cachorros pequenos tendem a viver mais do que os grandes. 

O trabalho em questão cruzou dados de 584.734 cães fornecidos por 18 organizações – de abrigos a companhias de seguros para pets – para avaliar porte, gênero, raça pura ou mestiça, e o formato do crânio, investigando a interação entre essas características.

Os resultados foram apresentados por Kirsten McMillan, chefe adjunta de pesquisa da Dogs Trust, a maior instituição de caridade dedicada a cães no Reino Unido, que fez parte da pesquisa. 

Segundo a investigação, entre as raças puras, cadelas pequenas e de focinho longo tendem a ter a maior expectativa de vida, com média de 13,3 anos. Já a de cachorros de focinhos achatados (braquicéfalos) é de 11,2 anos, possivelmente pela maior propensão a problemas respiratórios. 

Como os pesquisadores ressaltaram, os dados se referem à região, e diversos aspectos locais podem influenciar, desde a maneira como a sociedade inglesa cria seus companheiros peludos até a situação dos animais para adoção.

Cuidado e prevenção

De qualquer modo, independentemente do país ou das características do cachorro, a orientação básica para quem deseja aumentar o tempo de vida de seu pet é: cuide disso desde que ele é filhotinho. E mantenha essa atenção ao longo da vida do animal. 

Para o médico veterinário Pedro Risolia, da Petlove, é preciso entender que o cuidado não se inicia só quando o cão está idoso.

Para o cachorro ser longevo, é essencial oferecer boa alimentação, exercícios, vacinação e consultas periódicas ao veterinário – não só quando o bicho está doente. “Temos uma cultura de levá-lo ao veterinário só quando o pet está mal. Mas é aconselhável levá-lo ao menos uma vez por ano, mesmo estando bem.”

O fato é que nossos bichos de estimação estão vivendo mais tempo agora do que décadas atrás. E isso se explica pela transformação da relação das pessoas com “o melhor amigo”. 

De acordo com Risolia, o que gerou esse impacto na sobrevida foi a forma como lidamos com o cachorro. “Quando ele estava no quintal de casa, aberto às intempéries da natureza, comia resto de comida, tinha doenças que não eram diagnosticadas nem tratadas, seu ciclo de vida se tornava menor,” disse o médico.

“Não é que ele virou um super cão e resolveu viver mais tempo para alegrar os humanos. É que a gente disponibilizou qualidade de vida, tratamento médico, alimentação, tudo o que não fazíamos 20 anos atrás.”

Risolia salienta que cada animal tem seu metabolismo, e isso vai implicar no tempo médio de vida. 

“O ser humano quer achar a fórmula da longevidade. Não pensamos na morte como o final de um ciclo; queremos sempre prorrogá-lo. O pet tem um ciclo natural. Quando a gente melhora a qualidade de vida, empurra esse final para frente. Mas o cachorro já nasce com um metabolismo mais acelerado que o nosso e vai ter uma vida menos longeva que a do humano. Já a tartaruga, que tem um metabolismo super baixo, pode viver mais de 100 anos”.

A respeito dos cuidados com a dieta dos cães, Risolia chama atenção para um ponto. Muito tem se falado de alimentação natural, o que pode fazer com que o tutor simplesmente troque a ração por esse tipo de comida. 

Não há problema se isso for indicado por um especialista. Muitas vezes, no entanto, não é feita essa consulta. “Um cão não precisa de arroz e feijão. Temos de respeitar a necessidade nutricional dele,” alerta. Para garantir saúde e mais anos de vida para o animal, o que importa é oferecer alimentação bem balanceada.

Um mito é que o animal mais velho terá de trocar de ração para um produto elaborado para cão idoso. Nem sempre isso será necessário. É preciso avaliar as condições dele. O pet está com os dentes em ordem? Sente dor ao mastigar?

A medicina veterinária está aprofundando seu conhecimento a respeito do envelhecimento dos bichos de estimação, mas as abordagens diferem em cada país. Entre as disponíveis hoje no Brasil para o cão idoso estão tratamentos como acupuntura e fisioterapia e cuidados paliativos para animais com doenças terminais.

Ciência da longevidade

Nos EUA, avançam pesquisas genéticas dirigidas para a longevidade canina. Uma iniciativa nessa área é o Dog Aging Project, lançado em 2014. Seu objetivo é investigar fatores genéticos e ambientais que influenciam o envelhecimento, além de identificar e validar intervenções para retardar esse processo. O projeto conta com dados de 50 mil cachorros.

Parte da experiência do Dog Aging Project está sendo replicada no País. O biogerontologista americano Matt Kaeberlein Kaeberlein, um dos fundadores, é sócio e cientista-chefe de uma biotech brasileira, a PetMoreTime. A startup criou o Pamec (Programa Avançado de Mitigação do Envelhecimento Canino), que acompanha cães de Polícias Militares de 11 estados. Os animais desse programa vão passar rotineiramente por exames para detectar marcadores biológicos específicos. 

O CEO e cofundador da PetMoreTime, Marcello Rachlyn, disse que a empresa está desenvolvendo protocolos para tutores e veterinários que quiserem ter o atendimento que oferecem a cachorros idosos. 

O serviço inclui monitoramento diário de dados vitais e biomarcadores por meio de uma coleira inteligente, acompanhamento veterinário, adoção de fármacos e nutracêuticos e testes epigenéticos (que avaliam marcadores de envelhecimento).

Luis Estrelas é uma referência no treinamento de pets e fundador da Estrelas Animais.