Gustavo Gazaneo, o novo diretor de investimentos da Petros, quer fazer uma transformação relevante no portfólio do fundo de pensão.

Hoje, mais de 80% da carteira da Petros está em títulos públicos, especialmente NTN-Bs. O objetivo de Gazaneo é reduzir essa fatia, aumentando a exposição a crédito privado, private equity, ações e ao mercado internacional, que hoje responde por apenas 1% dos ativos.

Gustavo Gazaneo ok

Gazaneo é um velho conhecido do fundo de pensão por já ter trabalhado lá em duas ocasiões – mas a nova governança da Petros impôs um longo processo seletivo.

Na primeira fase, a empresa de recrutamento FESA mapeou 70 candidatos. Na fase seguinte, o processo afunilou para 40 e, na terceira, um comitê da própria Petros entrevistou 10 finalistas. Gazaneo e outros dois foram chamados para a sabatina no conselho deliberativo, e, depois de escolhido, ele passou ainda pela sabatina da Previc [o órgão regulador dos fundos de pensão].

O executivo de 40 anos iniciou sua carreira na Petros em 2005 como analista júnior e ficou três anos na função. Cinco anos depois, voltou como gerente de investimentos, ficando no cargo até 2016. 

Fora da Petros, foi CFO da Cedae, gestor da Acqua Investimentos e co-fundou a SLW Investimentos, uma gestora de crédito e ações.  

Agora de volta ao fundo de pensão – o segundo maior do País, com R$ 135 bilhões sob gestão, atrás apenas da Previ – Gazaneo diz que encontrou uma “outra Petros, com uma estrutura de governança robusta. Isso me dá muita tranquilidade para tomar as decisões que preciso,” ele disse ao Brazil Journal.

Abaixo, os principais trechos da conversa.

Na história recente, os fundos de pensão foram envolvidos em escândalos e corrupção. Como está a governança da Petros hoje?

Estou voltando para a Petros depois de nove anos, e é uma outra Petros, com uma estrutura de governança robusta. Hoje a área de risco te acompanha em tudo. Na área de investimentos, as discussões são no mesmo nível de um banco ou de uma grande gestora. Pra quem foi pra fora e voltou, foi uma surpresa muito positiva. 

Isso é bom para o gestor porque me dá muita tranquilidade para tomar as decisões. Porque eu tenho vários layers de comitês que vão me dando condições – ou embarreirando, ou me questionando – até realmente eu deliberar na diretoria executiva ou no conselho. 

Dito isso, a parte estruturante da Petros, de médio e longo prazo, está concentrada em títulos públicos. Hoje tem boas oportunidades. Temos uma meta atuarial de IPCA + 5%, então tomar algo a IPCA + 8% é muito bom. Mas o que acontece se o cenário mudar?

Como é a carteira de vocês hoje?

Nossa carteira hoje é de R$ 135 bilhões. Para efeito de comparação, a Previ tem R$ 270 bi e a Funcep, R$ 110 bilhões, então somos a segunda maior fundação do Brasil. Nossa carteira hoje está 80% alocada em renda fixa, majoritariamente em títulos públicos do Governo, e majoritariamente em NTN-Bs. Temos 7% em renda variável, e isso é o low histórico; temos outros 3% em imóveis; 1% no exterior; 3% em private equity, de empresas que carregamos lá de trás; e temos 3% em empréstimos com os participantes. O resto é um pouco de crédito privado.

Desses R$ 135 bi, o quanto vai vencendo e gerando liquidez além do atuarial e que você pode realocar todo ano?

A gente tem os planos que são maduros, e temos os planos que ainda acumulam. Então temos uma entrada de recursos líquidos relevante em alguns planos. O PP2 [Plano Petros-2], por exemplo, ainda não é maduro, ou seja, a gente recebe mais do que paga. 

Quais as grandes mudanças que você pretende fazer na gestão da carteira?

Quero buscar novas alocações estruturantes, de médio e longo prazo, em outros ativos que não títulos públicos. Isso vai ajudar a compor as rendas futuras e as metas atuariais futuras. Nessas alocações tem que ter crédito privado, private equity e Bolsa, se acharmos que tem coisas pontuais interessantes. É difícil falar de Bolsa olhando o Ibovespa. Temos que selecionar os ativos e acho que já há e ainda vai haver boas oportunidades.

E fazemos tudo isso com vários mandatos. Temos o mandato interno, que é a gestão própria, que fazemos internamente com a nossa equipe, que é muito qualificada. Mas também terceirizamos a gestão para o mercado, comprando cotas de fundos. 

Vocês tem quantos bilhões em fundos geridos por terceiros?

De Bolsa, multimercado e crédito deve ser algo em torno de R$ 10 bilhões. E temos com gestoras como a Kapitalo, SPX, BTG, Itaú. Fazemos uma seleção de grandes gestores e temos um processo de due diligence muito forte. 

Quando você olha os endowments e as fundações lá fora, eles são geradores de estudo e de trading ideas de médio e longo prazo, mas a parte estruturante eles escolhem gestoras locais e externas para fazer. Eles tomam menos risco na carteira interna e terceirizam mais. 

Eu acredito nessa abordagem, de que internamente temos que estudar mais e pensar mais macro e micro, e terceirizar a alocação. 

Você tem um número de quanto quer aumentar?

Não tenho esse número, mas acredito nessa tese, que temos que ser pensadores macro e micro, deixar o mercado gerar retorno e fazer nossas movimentações para onde a gente acha que o mercado vai. 

Mas a ideia de vocês é terceirizar toda a parte de equities, imóveis, private equity?

Não, não vamos terceirizar tudo. Acho que temos que ter uma carteira própria, para termos um benchmark e acompanhar como os outros estão – e pra acompanhar também como nós estamos indo, a qualidade dos nossos funcionários.

Vocês pretendem aumentar os investimentos no exterior?

Hoje temos só 1% da carteira no exterior. E por que só 1%? Porque queremos aprender, entender como funciona, para termos capacidade de avaliar se a gente aumenta, se vamos para equity lá fora, para multimercados, e para quais países. Para trazer também as melhores práticas de gestores e bancos.

Mas nossa ideia é sim estudar cada vez mais o mercado internacional. 

Esse 1% hoje é de ativos diretos ou por meio de gestores?

Temos três gestores lá fora hoje: a Schroders, Templeton e o BTG, que investem em equity e multimercados. 

Dos 7% de alocação em renda variável, quais são as maiores posições de vocês?

Temos Itaú, BTG e um pouco de Localiza. Começamos a montar uma posição na Vale perto dessa saída da Cosan que teve agora, e temos a Petrobras. Além disso, temos alguns BDRs como forma de exposição ao mercado internacional. Nos BDRs, nossas maiores posições são Alphabet, Meta e Microsoft. 

Qual sua visão sobre crédito privado?

Vamos voltar um pouco no tempo. Em 2020, 2021 e 2022 os juros estavam lá embaixo e as empresas se alavancaram muito. Essas dívidas normalmente eram de 3 a 5 anos, então o que vai acontecer é que em 2025, 2026 e 2027 vai ter uma grande janela de rolagem dessas empresas high grade

São empresas top, que vão ao mercado e vão pagar mais que os títulos públicos. Para as fundações, isso é uma baita oportunidade. Então eu vejo uma janela de oportunidade para a gente sair um pouco de título público e entrar nessas operações.

Se a empresa é triple-A, geradora de caixa e bem posicionada em seu setor, não está muito alavancada e vai precisar rolar ou fazer novos investimentos, essa é uma companhia que eu gostaria de ter no meu portfólio.

A ideia é fazer crédito mais via fundos de terceiros ou diretamente?

Os dois. Podemos entrar em emissões primárias direto. E tem os fundos de crédito que alocamos e podemos aumentar a exposição. 

Em quais outros ativos vocês pretendem aumentar a exposição?

Vamos buscar fazer mais private equity, porque muitas companhias vão precisar captar equity nos próximos anos. Acho que os fundos de pensão vão ter boas oportunidades em empresas de qualidade.