O ano passado foi desafiador para a Blau Farmacêutica, com o aumento da concorrência e choques na cadeia de suprimento afetando as vendas de imunoglobulina, seu principal medicamento.
Diversas vezes, a empresa de Marcelo Hahn entregou resultados abaixo das expectativas conservadoras do mercado, e muitos analistas revisaram seus números para baixo.
A ação continua sob pressão, negociando hoje ao mesmo preço de um ano atrás e cerca de 30% abaixo do preço do IPO, em abril de 2021.
Agora, no entanto, a Goldman Sachs acredita que a Blau chegou a um ponto de inflexão.
O analista Gustavo Miele espera um crescimento orgânico de 37% este ano, com 21 pontos percentuais vindo de vendas incrementais de imunoglobulina (IG).
O banco elevou o papel hoje de ‘neutro’ para ‘compra’ e aumentou seu preço-alvo para R$ 42, um upside potencial de 47%.
“Esperamos um cenário mais benigno para a IG este ano já que a competição com distribuidores locais vendendo IG sem registro deve diminuir e as perspectivas para a oferta e demanda de medicamentos derivados de plasma parecem estar normalizando,” escreveu Miele.
Se o cenário-base para a Blau se desenvolver como esperado, a Goldman diz que a empresa “oferece um dos melhores retornos de nossa cobertura, um ROIC de 22% no curto/médio prazo e, conservadoramente, de 25-30% no longo prazo.”
A Blau negocia a 11,5x o lucro estimado para este ano, um “ponto de entrada interessante para a ação,” disse a Goldman.
O desconto em relação à Hypera está em 19%, mas usando o lucro ajustado a diferença é ainda maior, de 34%. A Goldman disse que essa é a melhor forma de comparar as duas empresas dada “a geração de valor significativa da Hypera graças a benefícios fiscais.”
Miele também nota que o pipeline de novos produtos da Blau praticamente não está precificado no valuation atual da empresa. Para o analista, os produtos lançados de 2022 para cá – ainda em ramp up – valem R$ 6 por ação, enquanto os produtos a serem lançados valem R$ 9 por ação.
A Blau tem 41 novos produtos em desenvolvimento que somam um mercado endereçável de R$ 7 bilhões. A maioria desses produtos deve ser lançada entre 2024 e 2025.
“Acreditamos que o nosso approach para o pipeline de medicamentos da Blau é bem conservador (um market share terminal de 20% no quinto ano de lançamento com uma probabilidade de 50% de um lançamento bem-sucedido),” escreveu o analista. “Isso implica que o pipeline tem um peso de 20% no equity value que atribuímos à empresa.”
Apesar das perspectivas positivas, a Goldman lembra que a liquidez do papel é baixa – a Blau negocia apenas US$ 1,9 milhão por dia – e que o portfólio de medicamentos ainda é bem concentrado.
“Enquanto o plano de expansão da companhia não estiver maduro, ainda deve haver uma concentração relativamente alta de receita em pelo menos dois medicamentos chave (a imunoglobulina e o alfaepoetina), o que tende a amplificar a volatilidade de resultados.”