A Twenty-First Century Fox, empresa de mídia de Rupert Murdoch, está aparecendo cada vez mais na carteira de investidores acostumados a bater o mercado.
Na semana passada, a Berkshire Hathaway, companhia de investimentos de Warren Buffett, revelou ter comprado 4,7 milhões de ações da Fox entre outubro e dezembro. (É pouco dinheiro — US$160 milhões — mas é Berkshire.)
O Tiger Global, fundo de tecnologia que investiu no Facebook e no Alibaba, tem na Fox sua maior posição: 7,6% da carteira.
A 3G Capital — de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira — tem 5,6% de seu portfólio na companhia, uma de suas cinco maiores posições.
E, no início deste mês, o príncipe-bilionário saudita Al-Waleed bin Talal Bin Abdulaziz Al-saud anunciou ter acumulado 6,6% das ações da empresa no fim do ano passado.
Até recentemente, a Fox era parte da News Corp., a holding de mídia de Murdoch que controla jornais como o The Wall Street Journal, o New York Post e o The Times de Londres — um negócio duro, que enfrenta queda na circulação e uma delicada migração para plataformas digitais. Em meados de 2013, Murdoch retirou da News Corp os negócios de TV, canais a cabo e estúdio de cinema e os colocou sob uma nova empresa, a Fox.
Estes grandes investidores viram na Fox um potencial limitado de perdas aliado a inúmeras oportunidades de crescimento.
A Fox é um conglomerado de mídia. Seu negócio de TV a cabo (e direitos de retransmissão) no mercado norte-americano responde por 60% de sua geração de caixa e tem tudo para continuar crescendo. Além disso, a empresa tem um potencial de ganho literalmente ilimitado como um dos maiores estúdios de TV e cinema do mundo. A Fox é dona da franquia “X-Men” e é o estúdio de preferência de James Cameron, o diretor de “Avatar” e “Titanic”, ambos rodados na casa. Em Hollywood, uma vez que as relações pessoais se sedimentam, é muito raro um grande diretor trocar de estúdio. (Aliás, os 10 filmes que a Fox vai lançar este ano estão aqui.)
No mundo pré-streaming (isto é, ontem), para monetizar seus filmes num mercado emergente com o Brasil, um estúdio tinha que negociar com as redes de cinema, as lojas que vendem os DVDs e as operadoras de TV paga. “Agora, qualquer pessoa com um iPhone, uma conexão de banda larga e um cartão de crédito pode comprar aquele filme por 15 dólares seis semanas depois dele estrear nos EUA,” diz um analista. “O mercado potencial total explodiu por causa da internet.”
Além disso, o histórico de criação de valor de Murdoch na Fox é impressionante. Vinte anos atrás, a Fox Network (o canal de TV aberta) ainda estava na infância, e canais como Fox News, Fox Sports e FX sequer existiam. Hoje, estes negócios — todos criados in house — representam mais de 50% do EBITDA (a geração de caixa) da Fox.
Enquanto isso, a Disney comprava seu crescimento adquirindo a ESPN e a Marvel — aliás, aquisições excelentes que contribuíram decisivamente para o resultado da empresa. (Mais recentemente, a Disney comprou a Lucasfilm, dona da franquia Star Wars.)
Ao longo de 2014, a Fox conseguiu crescer sua geração de caixa em 15%, recomprou 8% de suas ações e, ainda assim, viu seu caixa líquido chegar a 10 bilhões de dólares.
Mas apesar desta performance, a Fox não participou do rali da Bolsa americana em 2014, que levou o S&P 500 a uma nova máxima histórica.
Nos últimos 12 meses, as ações da empresa estão em alta de 5,7%, enquanto o S&P sobe 15,1%. (Desde o início de 2015, a Fox cai 8%.)
O que aconteceu? Para começar, a Fox deu um tiro no pé ao fazer estimativas muito otimistas logo após seu spinoff. Isso forçou os analistas a revisar para baixo suas projeções logo que apareceram dois problemas.
Primeiro, o dólar-todo-poderoso. Como a Fox tem 30% de seu faturamento atrelado a outras moedas, a desvalorização destas reduz o lucro da empresa na conversão para dólares. (Um analista disse à coluna que o impacto real é provavelmente menor, porque muitos países têm contratos dolarizados).
Segundo problema: nos EUA, o crescimento da publicidade na televisão tem sido frustrante, e a audiência da Fox Broadcasting Network — um dos quatro canais da TV aberta, competindo com NBC, ABC e CBS — está em queda, em parte devido ao desgaste de grandes franquias da casa como “American Idol” e “X-Factor.”
Investidores que têm a ação na carteira dizem que esta preocupação é errada porque o negócio de TV não afeta o crescimento da geração de caixa da Fox esperado para os próximos dois anos.
“Eles estão sentados em 10 bilhões de dólares de caixa e, com isso, conseguem levantar mais 20 bilhões, e isto não está sendo precificado pelo mercado,” diz um gestor de Nova York que acompanha a empresa. “Até o final do ano, ou eles terão devolvido muito desse caixa ou terão feito alguma aquisição que vai ajudar os resultados.”
As possibilidades de M&A que criariam valor para a empresa são muitas, mas a aposta mais provável é que a Fox tente, de novo, comprar a Time Warner — dona da HBO, do Turner Broadcasting System (a empresa que controla a CNN) e da Warner Bros. A combinação Fox-Time Warner criaria um gigante de conteúdo com um faturamento anual de 65 bilhões de dólares.
A Fox, que vale 74 bilhões de dólares na Bolsa, negocia hoje a 11 vezes seu EV/EBITDA (o valor da firma dividido por sua geração de caixa) estimado para 2015. Neste múltiplo, a Fox está mais barata que a Disney e mais cara que a Viacom — mas, entre as três, é a Fox que tem o maior crescimento já contratado.