O BTG Pactual comprou a área de wealth management da JGP, adicionando R$ 18 bilhões em ativos sob assessoria e fortalecendo seu time com 25 novos executivos.
O valor da transação não foi revelado, mas, para efeito de comparação, o BTG pagou R$ 615 milhões recentemente pela operação do Julius Baer no Brasil, que tinha R$ 61 bi em ativos — cerca de 1% dos ativos.
Aplicando o mesmo múltiplo, a operação de wealth da JGP poderia valer cerca de R$ 180 milhões.
A compra estava sendo negociada há quatro meses, e a JGP não fez um processo competitivo, conversando apenas com o BTG.
A área de wealth da JGP tem 25 executivos (dos quais 12 eram sócios) e é liderada por Guilherme Araújo, Eduardo Ruhman, Patricia Varella e Eduardo Viana. Todos vão se tornar sócios ou executivos do BTG, com contratos de permanência de “vários anos” que vão variar dependendo do tamanho do sócio.
André Jakurski, o fundador da JGP, vai continuar à frente da gestora, mas concordou em assumir também um papel de chairman do comitê de investimentos de toda a área de family office do BTG, “pelo dever fiduciário que tenho com clientes que atendo desde 2007,” ele disse ao Brazil Journal.
Jakurski disse que decidiu vender a área de wealth porque o mercado está passando por uma consolidação muito forte nos últimos anos.
“E com o fim dos fundos fechados houve uma mudança muito grande nas possibilidades de investimento dos clientes. Passamos a administrar carteiras em vez de fundos fechados, o que abriu a possibilidade para um leque maior de investimentos no Brasil e no exterior,” disse ele. “Entrando no BTG, vamos ter acesso a possibilidades que não temos hoje, como operações especiais e ativos no exterior.”
Com a venda, a JGP ainda fica com R$ 27 bilhões sob gestão, divididos entre fundos multimercado, de ações, de real estate e de crédito, o segmento que mais tem crescido recentemente dado o nível dos juros.
Apesar do wealth ter uma representatividade grande do AUM total, a margem de lucro desse segmento é muito menor do que a dos fundos que a JGP vai reter.
Para o BTG, a transação aumentar em cerca de 20% o tamanho de sua área de family office e de private banking — que tem hoje cerca de R$ 100 bilhões — transformando o banco num dos maiores players desse mercado
A área de wealth como um todo do banco, que inclui o BTG Digital e fundos, soma R$ 901 bilhões.
Rogério Pessoa, o head do wealth do BTG, disse que a transação faz parte da estratégia do banco de ser o consolidador desse mercado.
“Nos últimos anos, houve uma proliferação de family offices, mas para você ter um family office que faça sentido você precisa ter advogados, gestores, e sistemas para integrar múltiplas custódias. Tudo isso custa dinheiro, então você precisa ter escala para fechar a conta,” disse Pessoa. “A gente já tem toda essa infraestrutura, então somos um candidato natural para a consolidação.”
O executivo disse que o banco continua vendo espaço para mais transações, mas que agora deve mirar para transações fora do Brasil.
“Temos conversado com alguns players do exterior, mas sempre no sentido de sermos o global advisory do cliente latino. Nunca vou comprar um family office que atende clientes poloneses, por exemplo. Mas um family office baseado nos Estados Unidos ou na Europa e que atenda clientes brasileiros ou latinos, faria sentido.”
Recentemente, o BTG fez uma transação com esse perfil: comprou em setembro a Greytown Advisors, com sede em Miami, que tinha cerca de US$ 1 bilhão em ativos.
Em transações de wealth sempre existe o risco de que parte dos clientes acabe deixando a casa porque não gostou do formato da transação.
Jakurski diz, no entanto, que acha que nesse caso o risco de perda é muito baixo já que todos os executivos do wealth da JGP estão indo para o BTG.
“No final, a interface para os nossos clientes vai ser a mesma, com as mesmas pessoas à frente e comigo envolvido diretamente na gestão dos investimentos,” disse ele. “Eles não estão comprando os clientes, estão comprando toda a gestão.”
Outros M&As recentes no setor incluem as compras pela Turim da Vita, que tinha R$ 3,5 bilhões em ativos sob assessoria, e da área de wealth da One Partners.
O BTG e a JGP não tiveram assessores na transação.