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A primeira semana de julho vem ganhando status especial no calendário de algumas das famílias empresárias no Brasil.
A cada ano, um grupo seleto de potenciais sucessores de grupos familiares, filhos, filhas, netos, netas, sobrinhos e futuros acionistas são convidados a participar do Winter Training, programa criado pelo Citi para preparar a nova geração de lideranças de algumas das principais empresas do país.
Em oito anos, mais de 200 participantes passaram pela sala de aula montada na sede do Citi, na Avenida Paulista. São jovens, de 21 a 35 anos, vindos de diferentes regiões e representando negócios de diferentes setores.
“Muitos dos que já estiveram conosco hoje ocupam cargos de direção, de conselho ou em comitês executivos nas companhias,” disse André Cury, head de commercial bank do Citi no Brasil e América Latina e responsável pelo programa.
A edição deste ano reuniu 34 potenciais sucessores de empresas de sete estados brasileiros e múltiplas indústrias – farmacêutico, varejo, agro, logística, entre outros.
Criado em 2017, o Winter Training surgiu a partir da conversa com um cliente do banco. “Ele falava, em tom de desabafo, sobre os desafios para preparar os filhos para assumir os negócios, como explicar as nuances de ser acionista de um grande grupo e nos questionou se poderíamos ajudá-lo, se tínhamos algum tipo de curso sobre o tema,” disse Cury.
O Citi não tinha, mas o banco percebeu que oferecer um programa desse tipo faria todo o sentido. “Nosso relacionamento com clientes atravessa décadas e gerações. Nada mais natural do que ajudar na transição dentro das famílias,” disse o executivo.
No início, o conteúdo do programa era bem voltado à gestão de risco e das finanças – não apenas da empresa, mas também do patrimônio familiar.
Ao longo dos anos, o programa foi evoluindo e passou a incorporar outros assuntos relevantes para a família empresária, como governança, cultura e gestão de conflitos e perenidade dos negócios.
O tema de sucessão foi ganhando cada vez mais força, assim como estratégia, digitalização e análise de impacto de ferramentas de inteligência artificial.
Realizado em parceria com a consultoria Cambridge Family Enterprise Group, uma referência global em governança, o Winter Training traz especialistas e profissionais do mercado e combina teoria e prática para mostrar os desafios mais comuns entre famílias empresárias – e o que é possível fazer para garantir sustentabilidade e crescimento.
Uma pesquisa da PwC mostra que 64% das empresas familiares fecham após serem assumidas por sucessores do fundador – e apenas 19% chegam à terceira geração. (São dados que tornam o ditado “pai rico, filho nobre e neto pobre”, tão popular.)
”É necessário que as famílias empresárias se renovem, se reinventem. Cada geração precisa criar sua própria missão – mantendo valores e seu DNA, mas olhando e se preparando para o futuro,” disse Gabriela Baumgart, quarta geração do Grupo Baumgart e uma das palestrantes do Winter Training neste ano.
Como diretora-executiva por 16 anos do Cidade Center Norte – um dos braços de mais visibilidade do negócio familiar, que abrange investimentos em shopping, hotelaria, agro e química – Gabriela aproveita a empatia que gera entre os jovens pela origem similar para compartilhar ensinamentos.
“Entendemos que nós, como acionistas, éramos os responsáveis por impor ritmo e direcionamento ao negócio – este é o olhar do dono, é um papel indelegável,” disse ela.
As empresas familiares representam um grupo relevante dos negócios de sucesso no Brasil e, em especial, do segmento do Citi comandado por Cury, que atende empresas com faturamento a partir de R$ 250 milhões e grande potencial de expansão.
“Temos a missão de promover o progresso econômico, oferecendo aos clientes serviços e expertise globais,” disse Cury. “As empresas familiares enfrentam cada vez mais pressões e demandas para profissionalizar suas estruturas e fortalecer a governança, bem como o planejamento sucessório de forma estratégica.”
Os participantes chegam com formações diversas – são administradores, engenheiros, veterinários, publicitários – e não necessariamente querem (ou têm a aptidão) para atuar como gestores em negócios.
As empresas representadas nessa última edição eram em sua maioria de grupos que estão iniciando a passagem para suas 3ª gerações, justamente um momento crítico na sucessão, e em estágios diferentes de maturidade e governança.
A diversidade no grupo é intencional. “Criamos um espaço para a troca de conhecimento entre o banco e clientes e entre os próprios participantes,” disse Cury.
Não é incomum que os jovens terminem a semana de aprendizado intensivo com novos amigos e também nova visão sobre os negócios.
Há casos de filhos que não queriam atuar na empresa e mudaram de ideia e daqueles que queriam logo assumir um posto de gestão, mas perceberam não estar totalmente preparados ainda.
“O papel dos acionistas é entender o ciclo de vida das empresas e seus produtos – para tomar decisões de expandir, diversificar ou até buscar novos caminhos e sócios,” disse Eduardo Gentil, associado da Cambridge e um dos facilitadores do programa.
No histórico do Winter Training, já aconteceu, por exemplo, de uma filha convencer o pai a adotar uma auditoria externa para fazer uma varredura dos números da companhia. Resultado: essa empresa teve uma nota de crédito melhor e passou a ter mais facilidade de acesso a serviços financeiros.
Também há casos em que os alunos de uma das turmas foram os responsáveis por uma parceria estratégica entre os negócios familiares.
O anseio em oferecer aos clientes algo que ajude a perpetuar os negócios, patrimônio e legado faz todo o sentido para um banco como o Citi, cujo histórico de 110 anos no Brasil é marcado pelo apoio a grandes empresas em sua expansão local e internacional.
“Nosso objetivo é contribuir com repertório, ajudando a mudar perspectivas tanto dos sucessores como dos próprios pais, para que possam tomar as melhores decisões em família,” disse Cury.