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Algumas tecnologias têm o potencial de transformar o mundo em que vivemos e outras de salvá-lo. O hidrogênio verde entra exatamente na segunda categoria.
Não à toa, a Vale sabe que o novo combustível é essencial para apoiar a descarbonização dos seus clientes produtores de aço, que são responsáveis por 8% das emissões de carbono do planeta.
Para quem não conhece, o hidrogênio verde é produzido a partir da eletrólise da água – um processo químico que utiliza eletricidade para separar o hidrogênio do oxigênio –, o novo combustível pode resolver o grande problema das emissões de carbono de indústrias que ainda são completamente dependentes dos combustíveis fósseis.
Porém, como toda tecnologia incipiente, o processo para obter o hidrogênio ainda é muito caro, algo que deve mudar nos próximos anos, especialmente no Brasil.
Daí a importância dessa nova tecnologia ser estimulada tanto por governos quanto pela iniciativa privada. Nos últimos anos, a Vale tem colocado esforço nessa empreitada.
O mais recente foi anunciado em outubro deste ano: a Vale se uniu à Green Energy Park (GEP), uma empresa de hidrogênio europeia, para oferecer soluções de descarbonização para o setor de siderurgia em todo o planeta.
O objetivo é criar um complexo industrial destinado à fabricação de produtos siderúrgicos de baixo carbono – também chamado de Mega Hub.
Como vai funcionar? A Vale vai produzir aglomerados de minério de ferro (pelotas ou briquetes) que vão servir como um insumo para a produção de HBI – ou hot-briquetted iron, um produto intermediário entre o minério de ferro e o aço.
Mas aí o hidrogênio verde entra como uma fonte de aquecimento dos fornos. As empresas estão realizando estudos para a instalação de uma unidade de produção de hidrogênio verde no Brasil para viabilizar o mega hub.
“Esta é uma parceria ganha-ganha para o Brasil e a Europa,” disse Ludmila Nascimento, diretora de energia e descarbonização da Vale. “Estamos aproveitando as vantagens competitivas do Brasil, como minério de ferro de alta qualidade e energia renovável abundante, para potencialmente desenvolver o fornecimento de hidrogênio verde.”
Esse é apenas um dos projetos de mega hubs da Vale. No ano passado, a mineradora e a produtora de aço verde Stegra assinaram um acordo para estudar a criação de hubs industriais aqui no Brasil e na América do Norte.
Essa também vai ser uma forma de ampliar a produção do briquete de minério de ferro, uma inovação da própria Vale que é fundamental na produção do aço de baixo carbono.
A produção do briquete ocorre a partir da aglomeração a baixas temperaturas do minério de ferro de alta qualidade utilizando uma solução tecnológica de aglomerantes. Simplificando: esse processo aumenta a resistência do produto final e, no alto-forno, além disso, reduz em até 10% as emissões de gases de efeito estufa. Já no forno elétrico a arco, com o uso de gás natural, as emissões podem cair em torno de 60%.
Porém, quando o hidrogênio verde tiver sido adotado em escala, há a possibilidade de se alcançar a produção de aço com zero emissão de carbono.
Em dezembro do ano passado, a Vale inaugurou a primeira planta de briquete do mundo em Vitória (ES). A Unidade de Tubarão tem a capacidade de produzir 6 milhões de toneladas por ano e consumiu R$ 1,2 bilhão em investimentos, gerando 2,3 mil empregos no pico das obras.
O hidrogênio verde pode atrair ainda mais bilhões.
Nas contas da Confederação Nacional da Indústria, somente no Brasil, o combustível pode alcançar investimentos de R$ 188,7 bilhões nos próximos anos.
O Brasil deu um grande passo na aceleração desse setor ao aprovar o marco legal do hidrogênio verde neste ano – e se posicionou à frente de diversos países.
Porém, é necessário muito mais.
“Podemos avançar mais. Precisamos de eletricidade renovável firme e competitiva, atentando para os custos dos encargos no sistema,” disse Ludmila. “É necessário implantar projetos para a instalação de plantas de fabricação de eletrolisadores no país ou facilitar a importação desses equipamentos.”
Segundo a executiva, outros fatores relevantes para todo o setor a serem considerados são os investimentos na infraestrutura logística e na capacitação da mão de obra para que esses projetos sejam bem sucedidos.
“Além disso, o Brasil precisa se mostrar mais competitivo no financiamento desses projetos – afinal o alto custo de capital em relação aos países desenvolvidos pode significar atrasos no avanço dessa agenda”, disse Ludmila.
“O desafio de avançar na cadeia do hidrogênio verde só será superado de forma conjunta entre Vale, parceiros, governos e sociedade,’ afirma a executiva. “Temos uma oportunidade incrível em nossas mãos de promover a reindustrialização do país baseada na economia de baixo carbono.”