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Marcello Chilov
Toda grande transformação começa de forma quase imperceptível. Primeiro chegam os sinais sutis, depois as inflexões mais visíveis, até que se torna evidente que o cenário ao nosso redor mudou de forma estrutural.
Os dados mais recentes do Global Wealth Report 2025, lançado nesta semana pelo UBS, confirmam um processo de caráter bem semelhante ao descrito: estamos no meio de uma transição silenciosa (mas profunda) na geografia da riqueza. E o Brasil, pela primeira vez, é um dos protagonistas.
Em um ano em que o mundo vivenciou uma recuperação global de ativos, iniciada em 2023 e concentrada principalmente nos mercados desenvolvidos, o Brasil avançou silenciosamente – mesmo em meio a um contexto macroeconômico desafiador.
O país soma agora cerca de 433 mil milionários (em dólares), com um crescimento (em reais) estimado de 6,4% em 2024. Esse avanço reforça como o Brasil tem sido um dos principais vetores de crescimento da América Latina, refletindo também não apenas ajustes de mercado, mas também uma mudança no perfil de quem preserva riqueza por aqui.
A maior evidência disso está na dimensão da chamada “passagem de bastão” de patrimônio.
O Brasil ocupa hoje a terceira posição no ranking mundial de volume de riqueza a ser transferida entre gerações nas próximas décadas – são quase US$ 9 trilhões em transição. Para além de um número impressionante, esse dado é um divisor de águas: marca a urgência de planejamento patrimonial estruturado, especialmente para famílias que estão prestes a experimentar, muitas vezes pela primeira vez, os desafios e as responsabilidades de uma herança relevante.
O estudo também destaca o papel crescente das mulheres nesse processo, impulsionado tanto pela expectativa de vida, quanto pela maior participação delas na gestão ativa do patrimônio familiar.
Outro sinal de transformação vem da base da pirâmide da alta renda: a explosão dos Everyday Millionaires – ou EMILLIs, como define o relatório.
No Brasil, o crescimento da população com patrimônio entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões tem sido consistente e rápido e mais que quadruplicou desde 2000, alimentado por novas gerações de empresários, profissionais liberais e investidores que começam a extrapolar o tradicional binômio risco-retorno. E, cada vez mais, essas decisões de investimento envolvem questões de proteção patrimonial, governança e sucessão.
Nas palavras do próprio economista-chefe do UBS Global Wealth Management, Paul Donovan, a distribuição da riqueza é hoje um tema tão econômico quanto político.
A aceleração das transferências inter e intrageracionais e o aumento da concentração de ativos em determinados segmentos da população trazem desafios evidentes. De um lado, a necessidade de preservar o capital frente à volatilidade dos mercados e aos ciclos econômicos; de outro, a urgência de refletir sobre os impactos sociais e políticos dessa nova configuração.
Mesmo em um cenário de recuperação global dos mercados, os investidores brasileiros estão atentos aos riscos locais: da sustentabilidade fiscal ao comportamento da inflação e às expectativas para a taxa de juros real – ainda uma das mais altas do mundo.
As recentes reformas institucionais e as discussões sobre tributação de grandes fortunas ou heranças adicionam uma camada extra de complexidade a esse planejamento. Além disso, os mercados globais seguem repletos de eventos geopolíticos que adicionam uma dose extra de risco. Isso faz com que estratégias passivas ou visões de curto prazo sejam insuficientes, principalmente para quem planeja seu legado.
As transformações demográficas, digitais e culturais, somadas ao próprio comportamento das novas gerações deixam claro que esse conceito de legado também vem sendo reinterpretado. Hoje, as famílias têm um acesso mais amplo a soluções de investimento e uma maior expectativa de personalização e propósito na alocação de capital. Isso explica, ainda que parcialmente, a busca por estruturas mais completas, desde veículos internacionais até a própria governança multigeracional.
Dito isso, a gestão contemporânea de patrimônio é, e continuará a ser, um exercício de diversificação em busca de equilíbrio: integrar renda variável, renda fixa, ativos alternativos, real estate, entre outros, sempre tendo em perspectiva o propósito do capital e os objetivos familiares e/ou empresariais.
Isso não elimina o risco de mercado, mas reduz (e muito) a vulnerabilidade, criando não apenas riqueza, mas ajudando a escrever e a perpetuar a história, de geração para geração.
Nesse complexo contexto, a edição 2025 do Global Wealth Report reforça que o Brasil não é apenas mais um mercado em recuperação: é parte de uma transição global sobre como, onde e por quem a riqueza será gerada, preservada e transmitida nas próximas décadas. E o país tem a oportunidade e a responsabilidade de liderar esse novo capítulo.
Para quem acompanha de perto essa transformação, o momento de estruturar, proteger e planejar o futuro patrimonial é agora, e contar com orientação estratégica e especializada pode fazer toda a diferença nesse processo.
Para acessar as principais conclusões do relatório, confira o UBS Global Wealth Report 2025 na íntegra aqui.
Marcello Chilov é Head de Global Wealth Management LatAm no UBS.