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Na disputa entre os bancos e as fintechs, uma terceira via tem ganhado cada vez mais espaço: as cooperativas de crédito, cuja maior expoente nacional é o Sicredi.
“O banco digital tenta mostrar a solidez. O banco tradicional, a inovação. A gente consegue juntar o melhor dos dois mundos,” disse o diretor executivo de Sustentabilidade, Administração e Finanças, Alexandre Barbosa, há 16 anos no Sicredi. “O nosso modelo é sólido e muito moderno por natureza, porque é um modelo em rede, sustentável e que tem um impacto social positivo.”
Essa fórmula tem permitido ao Sicredi crescer num ritmo acelerado, mesmo adotando uma postura de risco conservadora. Nos últimos cinco anos, a instituição viu seus principais indicadores financeiros crescerem a uma taxa média anual de cerca de 20%.
Em março deste ano, a instituição constou como a sétima maior em ativos dentro do SFN, sendo a sexta colocada em operações de crédito, à frente de bancos tradicionais nos dois indicadores. Hoje, o Sicredi já conta R$ 302 bilhões em ativos.
A carteira de crédito expandido já soma R$ 185,5 bilhões, e os depósitos, R$ 209,5 bilhões. O total de associados acaba de bater em 7,1 milhões, um número que, na taxa de crescimento atual, deve chegar a 10 milhões até 2025.
Em operações de crédito, o Sicredi sobe para a sexta colocação, ficando atrás somente daqueles que são considerados os cinco maiores bancos do país.
A solidez do Sicredi fica clara em seus resultados. No ano passado, entregou um resultado financeiro de R$ 5,9 bilhões, com um ROE de 21,3%. O índice de Basileia do Combinado da instituição fechou o primeiro trimestre em 18,3%, indicativo de uma ótima saúde financeira.
Segundo César Bochi, diretor presidente do Banco Cooperativo Sicredi, o segredo é o próprio modelo cooperativo do negócio, que cria um alinhamento entre a instituição e seus donos, que são os associados das cooperativas – que em bancos de varejo são chamados de clientes.
O Sicredi oferece todo portfólio de produtos e serviços, como conta corrente, cartões, seguros, consórcio, investimentos, previdência, câmbio e até tag de pedágio — além, é claro, do bom e velho crédito, o seu carro-chefe.
O pulo do gato é que, quanto mais o associado usa esses serviços da cooperativa, mais a Cooperativa cresce e ele ainda tem direito a uma parcela do resultado no final do ano. Naturalmente, isso estimula os associados a usarem cada vez mais os produtos do Sicredi, gerando uma fidelização da base que outros players não conseguem ter.
“Devolvemos para os associados parte do resultado, depois de pagarmos JCP e de reverter uma parte para a reserva da cooperativa,” disse César, que entrou como estagiário no Sicredi há 28 anos. “E a quantidade que cada associado vai receber desse excedente é definida com base no quanto ele usou dos produtos da cooperativa ao longo do ano.”
Somente a partir do resultado de 2022, o Sicredi retornou diretamente para seus associados R$ 2,5 bilhões. Mas talvez a maior vantagem competitiva do Sicredi seja o próprio modelo de cooperativa de crédito, que permite ter uma leitura mais clara do risco de cada associado, indo além dos modelos das instituições financeiras tradicionais.
O resultado disso é que consegue continuar emprestando em momentos de crise – justamente quando o mercado financeiro tradicional se torna muito mais seletivo.
Na pandemia, por exemplo, o Sicredi conseguiu continuar emprestando porque fez uma análise mais individualizada.
“Temos todos os modelos estatísticos que as grandes instituições têm, mas também temos uma capacidade muito grande de distinguir quem é o mau pagador daquele que está apenas passando por um mau momento, mas que tem algo sólido e condições de melhorar,” disse o Barbosa. “É nesses momentos de crise que o cooperativismo se diferencia ainda mais.”
Essa análise de crédito só é possível porque os gerentes do Sicredi são pessoas inseridas nas comunidades locais, e que, portanto, conhecem bem a base de associados. “É uma relação de confiança e de longo prazo que se estabelece.”
O Sicredi hoje é um sistema de 105 cooperativas agrupadas em cinco centrais, que coordenam e supervisionam a atuação das cooperativas nos estados. A instituição conta ainda com outras estruturas como um banco cooperativo, uma confederação de serviços, uma fundação, corretora de seguros e uma asset, que permitem complementar e qualificar o portfólio de soluções financeiras.
Fundado em 1902, o Sicredi foi o pioneiro no Brasil e América Latina no modelo cooperativista, que já passou por grandes transformações ao longo das décadas.
Um dos principais marcos ocorreu nos anos 80, quando Mário Kruel Guimarães, o então Ministro do Planejamento, liderou um movimento de integração das diversas cooperativas independentes em cooperativas centrais.
Outro marco veio em 1995, quando o Banco Central permitiu que as cooperativas de crédito tivessem seus próprios bancos, em vez de ter que atuar através de outras instituições.
Por fim, em 2003 o Banco Central autorizou as cooperativas a atuarem livremente em todos os segmentos no modelo de livre admissão. Até então, as cooperativas de crédito tinham que ser segmentadas; algumas, por exemplo, atuavam apenas no agronegócio.
Esses movimentos criaram a base para o desenvolvimento de um segmento que tem se provado cada vez mais importante para o crescimento da economia brasileira e o bem-estar das pessoas.
Um estudo feito pela FIPE mostra que cada R$ 1 concedido de crédito por cooperativas gera R$ 2,45 de valor agregado às regiões, o que implica um impacto médio de quase R$ 21 bilhões por ano à economia brasileira.
Em termos de geração de emprego, cada R$ 35,8 mil de crédito concedido gera uma nova vaga na economia, ou 240 mil novos postos de trabalho a cada ano.
“Além disso, conseguimos entregar assessoria financeira, produtos e serviços para quem normalmente não tem acesso, principalmente em regiões de baixa bancarização onde outras instituições financeiras não chegam,” disse Bochi.
Este conteúdo do Sicredi foi produzido por Geraldo Samor.