Ray Dalio acredita que a economia americana é uma bomba-relógio que deve detonar nos próximos dois anos.

Desde setembro, quando lançou o livro “A Template for Understanding Big Debt Crises” – no qual analisou sistematicamente 48 casos de crises de dívida em todo o mundo para entender como e porque elas acontecem –, o gestor do maior hedge fund do mundo vem dando entrevistas de como deve se desenhar a próxima crise americana.

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Em resumo: para ele, a próxima depressão será inflacionária e pode ser acompanhada de uma desvalorização brutal do dólar, que perderia parte do seu papel de reserva de valor e faria a moeda americana ficar numa situação parecida à da lira turca.

 

A explosão do endividamento americano será a causa do movimento. A estratégia nesse cenário? Uma reserva de valor em ouro.

O Brazil Journal destrinchou diversas entrevistas para resumir as principais previsões de Dalio sobre a próxima crise americana:

SEMELHANÇA COM EMERGENTES

Em seu livro, Dalio separa as crises de dívida em duas categorias: as inflacionárias, que ocorrem normalmente em países emergentes que possuem boa parte de suas dívidas em moedas estrangeiras, e as deflacionárias (por exemplo, a crise de 2008 nos Estados Unidos).

Para o gestor, a próxima crise americana deve ter o caráter raro de ser uma crise inflacionária, já que os Estados Unidos estão cada vez mais dependentes de financiamento externo por conta de seu crescente déficit orçamentário. Com isso, o país pode passar por uma situação semelhante às crises de dívida sofridas recentemente por emergentes como Argentina e Turquia.

‘TOO BIG TO FAIL’? NÃO NECESSARIAMENTE.

Os otimistas dirão que a economia dos Estados Unidos é suficientemente forte para evitar um movimento como este – mas eles não estão colocando na conta os estímulos fornecidos pelo governo na forma de corte de impostos, diz Dalio.  

Essa ‘injeção’ fiscal deve se dissipar num período entre 18 a 24 meses, mas o governo não será capaz de reduzir seus gastos com rapidez suficiente.

“Vamos ter que vender uma série de Treasury bonds, e os americanos não vão conseguir comprar todos esses bonds: vamos ter que vender para estrangeiros, disse numa entrevista à Bloomberg.

 

“Estrangeiros não ligam para inflação, eles ligam para o câmbio quando olham a taxa de juros. Se a moeda se torna mais barata, os bonds se tornam mais baratos. Nesse ponto, o Fed vai ter que imprimir mais dinheiro para dar conta do déficit e isso vai causar uma depreciação no valor do dólar.

 

“Nós temos a posição privilegiada de poder tomar dinheiro emprestado na nossa própria moeda porque somos a moeda líder em reserva de valor. Mas estamos arriscando isso pelas nossas finanças – em outras palavras, pegando muito dinheiro emprestado.

 

Pressionado pelo repórter, Dalio disse que a desvalorização pode chegar ‘facilmente’ a 30%. Num podcast da Bloomberg, na semana passada, ele repetiu as afirmações, mas evitou dar um palpite sobre qual moeda tomaria o lugar do dólar.

A NOVA CORRIDA DO OURO

A Bridgewater tem mantido investimentos em ouro nos últimos anos por meio de dois grandes ETFs que são lastreados no metal: o SPDR Gold Shares e o iShares Gold Trust. No ano passado, ele já recomendou que os investidores coloquem de 5% a 10% de seus ativos em ouro como hedge contra riscos políticos.

O FATOR POPULISTA

Dalio tem afirmado que a economia americana está numa situação parecida com a do final dos anos 1930, após o crash da Bolsa de Nova York. Nos dois períodos, as taxas de juros foram reduzidas e, num segundo momento, o novo dinheiro foi injetado no sistema financeiro por meio de quantitative easing.

“Estamos numa situação onde o quantitative easing tem sido usado à exaustão, os preços dos ativos estão em alta, as taxas de juros, baixas, e estamos começando um aperto na política monetária, muito parecido com o cenário que aconteceu em 1937”, ele disse ao Business Insider em setembro.

Outra semelhança: a injeção de recursos em ativos financeiros exacerba as desigualdades sociais, o que vem explicando a ascensão de líderes populistas em todo o mundo. A situação cria o espectro de um extremismo político ainda pior no horizonte, com a possibilidade inclusive de uma nova guerra.

Se você pensar na próxima crise, eu acho que será muito diferente da de 2008. Será uma recessão em que eu acho que os problemas políticos e sociais serão muito grandes por causa dessa desigualdade social crescente e do populismo, afirmou o gestor.  Mas não acho que a próxima crise será tão rápida e severa como a de 2008, ela vai se arrastar por mais tempo.

 

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