Volta, Tourinhoo!

A BlackRock está “entre neutra e otimista” com o Brasil.

Para Benjamin Souza, o managing director e estrategista para América Latina da gestora, apesar dos desafios macro “não dá para ignorar o fato de que há valor sendo criado nas empresas brasileiras”.

Na visão do executivo, é possível que o ciclo de alta de juros termine com menos aumentos que o esperado, o que beneficiaria a Bolsa e a renda fixa. 

Benjamin Souza ok

“As pessoas estão prestando muita atenção a cada palavra do Banco Central. Quando o ciclo de alta de juros terminar, o Brasil será um dos únicos países com uma inflação de um dígito e um juro de 13% ou mais,” disse Benjamin, que é mexicano. 

Nesta conversa com o Brazil Journal, ele diz ainda que os mercados emergentes são um grupo menos coeso do que já foram: têm adotado políticas monetárias distintas e devem ser afetados de forma diferente pelas medidas do governo.

Alguns gestores e analistas estão mais otimistas com o Brasil neste começo de ano. Qual é a visão da BlackRock? 

Também ficamos mais otimistas. Nossa visão atualmente é neutra para otimista. 

A queda dos preços das ações criou valor para os investidores. As empresas são as mesmas, mas estão mais baratas, especialmente as small caps

Além disso, o câmbio se estabilizou e a moeda continua barata, o que é um atrativo para estrangeiros como nós.

É claro que há preocupações com o Brasil. A principal delas é a situação fiscal, e isso está refletido no preço dos ativos. Mas não dá para ignorar o fato de que há valor sendo criado nas empresas. 

 Mas o aumento dos juros não deve piorar a situação financeira das empresas? 

É preciso prestar atenção ao que o Banco Central está fazendo e comunicando. 

No ano passado, muitos BCs, o brasileiro entre eles, estavam hawkish em razão da subida da inflação. Então o mercado passou a precificar várias altas de juros. 

Mas após alguns aumentos da Selic a inflação começou a reagir, o que levou o BC a suavizar o tom no último comunicado. 

Com isso, parece que o mercado descontou juros altos demais ao projetar os resultados futuros das empresas, e essa correção de rota levou a uma valorização da Bolsa este ano.

O cenário à frente pode ser diferente e um pouco mais positivo. 

Mas não existe o risco de o Banco Central parar de aumentar os juros antes do que deveria e isso prejudicar em vez de ajudar? 

As pessoas estão prestando muita atenção a cada palavra do Banco Central. Se a Selic não precisar subir para 15% ou 16% para que a inflação fique controlada, essa é uma mudança significativa. 

Quando o ciclo de alta de juros terminar, é assim que o investidor estrangeiro vai olhar para o Brasil: o país será um dos únicos lugares com uma inflação de um dígito e um juro de 13% ou mais. 

Os demais mercados com juros elevados também têm inflação alta, como Argentina, Rússia e Turquia. Ou seja, o gap do Brasil será bastante atrativo.

Isso deve gerar um fluxo de recursos para o País, que beneficia o câmbio e os ativos de risco.  

Você disse ver oportunidades em small caps. Por quê? 

Quando a economia brasileira começou a se recuperar da pandemia, a valorização das ações ficou concentrada nas large caps

Isso criou um gap de valuation que ficou grande demais para ser ignorado. Em termos relativos, há muito mais valor nas small caps do que nas grandes companhias atualmente. (Por uma política da BlackRock, ele não cita empresas ou setores específicos.)

Como você compara o Brasil com outros mercados emergentes? 

A correlação entre os emergentes ficou muito menor. 

Durante a pandemia, praticamente todos os países agiram de forma coordenada e cortaram os juros para estimular a economia. Depois houve um movimento de alta para conter a inflação – alguns BCs reagiram mais rápido, mas todos seguiram essa tendência.  

Agora, há divergência de políticas. Certos países estão elevando os juros, como o Brasil, enquanto outros estão reduzindo, como o México. 

Como os diferenciais de juros ajudam a determinar o comportamento do câmbio, as moedas vão reagir de maneiras distintas, o que tem impacto no retorno de cada mercado. 

Além disso, precisamos entender os efeitos das políticas adotadas pelo governo Trump. Falou-se em elevar tarifas, cortar impostos – o que parece contraditório num país com déficit fiscal, mas estão inovando aqui – e favorecer certas indústrias, como a de energia.

Mas ainda existe muita indefinição sobre quais medidas serão adotadas de fato – e quais serão os impactos para cada país. A incerteza é o que deixa os investidores nervosos.

Os cotistas dos nossos fundos estão procurando entender como essas divergências vão influenciar os retornos. 

No passado, ouvíamos apenas: ‘quero investir mais em mercados emergentes’. Agora, os investidores estão mais preocupados com as diferenças entre países.